A Real de Salvador

Fundada em 29 de março de 1549, Salvador foi capital do Brasil desde sua fundação e assim permaneceu por mais de duzentos anos. Conhecidíssima por fazer um dos melhores carnavais do Brasil, abrigar a bela Baía de Todos os Santos, pela efervecência cultural e religiosa que dura o ano todo e por uma infinidade de cidadãos ilustres que lá nasceram e viveram, Salvador é uma cidade agradável para morar e interessante para se visitar. Entretanto, verdade seja dita, nem tudo é festa na terra de Iemanjá. Saiba o que você vai realmente encontrar por lá!

Formando um verdadeiro mosaico de cores e formas, de águas mornas e majoritariamente transparentes, as praias de Salvador são em geral boas para banho e bastante agitadas, mas não são o principal atrativo da cidade. Embora cercada de belezas naturais, Salvador é mais famosa pelo casario colonial do bairro do Pelourinho – “Patrimônio Histórico e Artístico da Humanidade” segundo a Unesco – pela excelente e variada gastronomia, pelo belo artesanato e pelo povo divertido e acolhedor, que faz um dos melhores carnavais do país.

Deixando de lado a festa, para a qual o turista não precisa de maiores detalhes, vamos a real de Salvador. Qual? A Salvador sem carnaval e longe dos resorts é outra cidade, principalmente fora de temporada (leia-se fora do verão e dos feriadões). Apesar de ter temperatura agradável o ano todo, é muito visitada em épocas mais tranqüilas como nos meses de abril a junho. Se for nessa época, prepare-se para sofrer um pouco com aquele que é o pior problema da capital baiana hoje em dia: o assédio dos ambulantes nos principais pontos turísticos do centro.

Escolher o Pelourinho como base para visitar a região pode parecer a escolha mais lógica, já que está muito bem localizado no centro, próximo a pontos turísticos famosos como o Elevador Lacerda e o Forte de São Marcelo, ao lado de quase todos os museus do centro histórico e repleto de variados e efervecentes restaurantes e bares. Qualquer mochileiro interessado em cultura e que pesquise um pouco antes de viajar acaba escolhendo o Pelourinho para ficar, longe de obviedades como a Barra e o Rio Vermelho, cujo maior atrativo é a agitação noturna. Há verdade nisso, mas infelizmente os sites oficiais não contam tudo e às vezes o turista encontra uma realidade um pouco diferente.

Não contam, por exemplo, que o assédio dos vendedores de fitinhas, artesanato, bijouterias e “serviços” é tão grande que incomoda o mais paciente dos mochileiros. Um mapa nas mãos ou uma mochila nas costas é suficiente para ser atacado por hordas de vendedores que assediam o turista tentando empurrar fitinhas do Senhor do Bonfim, vender artesanato, carregar a mochila ou mostrar onde fica “uma pousada bacana”. É praticamente impossível andar por mais de cem metros sem ser abordado e eles costumam ser demasiado insistentes, quase ofensivos. Um “não, obrigado” não basta, já que eles se postam à frente quando não chegam a acompanhar o turista numa tentativa desesperada de conseguir algum dinheiro. A prática, que ocorre em praticamente todo o Pelourinho, só é amenizada pelo fato do local ser bastante policiado, o que dá alguma segurança de que os vendedores não se excederão muito mais.

Comprar uma fitinha logo no primeiro dia e deixá-la amarrada no braço já ajuda um pouco, apesar de não eliminar o problema. Evite também aceitar o famoso “presente do baiano” – assim chamado pelos próprios ambulantes – que consiste em qualquer adorno que é pindurado no turista seguido de um sorriso, algumas perguntas sobre sua impressão da viagem e logo depois da cobrança de dez, quinze, vinte reais. Carregar mochilas, mostrar onde ficam pontos turísticos e levá-lo até lá também são cobrados e geralmente a preços salgados para a maioria dos aventureiros. Se não puder – ou não quiser – contribuir, procure ficar longe, mostrar desinteresse e seguir sua trajetória. Se precisar de alguma informação sobre como chegar a algum lugar, pergunte num posto de Informações turísticas ou no hotel.

O problema é restrito ao bairro do Pelourinho, às imediações do Mercado Modelo e aos arredores da Igreja do Bonfim. Barra, Rio Vermelho, Boa Viagem e Itapuã são locais mais calmos. Mas mesmo por lá é interessante evitar andar com máquina fotográfica ou objetos caros à mostra, especialmente à noite, deixando também de andar por vielas mais escuras e afastadas, como em qualquer outra capital do país.

Prestando um pouco mais de atenção, qualquer turista percebe que as casas coloniais não estão tão bem conservadas como os soteropolitanos gostam de dizer, sendo bastante comum encontrar prédios de imenso interesse histórico e cultural completamente abandonados. A Igreja de Santa Bárbara – cenário principal do emblemático filme O Pagador de Promessas – encontra-se em estado lastimável e não está sozinha em sua pernúria: dezenas de casas estão em vias de desabar, várias delas já caíram e outras tantas tiveram apenas sua fachada reformada, enganando o turista mais desatento. Uma pena.

Terra de contrastes, Salvador merece uma visita, ainda que seja apenas por parte do turista que está apenas de passagem. Um olhar mais apurado, entretanto, escancara suas vísceras sociais, políticas e culturais, nem sempre agradáveis mas certamente interessantes. No próximo post, informações relevantes para facilitar a vida dos mochileiros.

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4 comentários em “A Real de Salvador”

  1. Fala Rauzito! Esse problemas com vendedores ambulantes parece não ser exclusivo do Brasil. Segundo meus amigos, em Bali, na Indonésia a coisa é bem agressiva também, a ponto de muitos turistas ficarem irritados. Acho que isso é um ponto negativo visto em qualquer cidade ou país que tem como principal atividade comercial o turismo.

    Abração

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