Rumo ao Sul: Dia 6 ( Parque Nacional da Serra Geral )

Lar do Cânion Fortaleza, o Parque Nacional da Serra Geral é atingido pela CS-012, estrada que começa na continuação da Av. Getúlio Vargas, a principal de Cambará, que começa na RS-20 e termina na estrada para o parque.  Do centrinho até o local reservado para estacionamento, próximo à borda do cânion, são cerca de 23 km com trechos mistos:  o primeiro terço é no asfalto e o restante em estrada de terra pedregosa com condições que vão de razoáveis a ruins, com um pouco menos de dificuldade para carros de passeio 4×2 e motoristas acostumados que o trecho que liga a cidade de Praia Grande a entrada do parque (leia mais sobre a RS-429 aqui). O parque fica aberto todos os dias, das 08h às 17h e não cobra absolutamente nada do visitante. Não há, entretanto, qualquer estrutura para visitação e o único banheiro fica na portaria do IBAMA, na entrada do parque. Quando chegar à portaria, será atendido por um agente que anotará a placa do veículo e o número de ocupantes, alertando para que o veículo retorne às 17h impreterivelmente, alertando sob penalidades cabíveis.

Aqui vale a mesma dica do Parque de Aparados:  para encarar os cânions e divertir-se sem preocupações, saia o mais cedo possível. À tarde é frequente que o nevoeiro (chamado de “viração” pelos locais) tome todo o cânion, inviabilizando ao visitante contemplar a paisagem. Não se esqueça de ir muito bem agasalhado, de touca e com roupas que barrem bem o vento, pois na região o frio é muito intenso, sobretudo quando o sol está encoberto por nuvens, ocasiões em que o minuano mostra toda sua crueldade. Caso você se perca, a dica dos locais é evitar a todo custo ir para o interior dos cânions, pois é bastante comum trilheiros experientes confundirem caminhos de bois com trilhas e saírem do caminho principal. Opte sempre em seguir os paredões pois terá mais chance de encontrar o caminho de volta. E pode esquecer o celular, pois não há nem rastro de sinal lá dentro.

Vale alertar também que não se deve alimentar os graxains e outros animais, que não raro cruzam a estrada  dão trela para os turistas. A lista de animais que podem ser avistados é grande: lontra, graxains, veado-campeiro, macaco-prego, bugio, caxinguelê, papagaio-de-peito-roxo, curicaca, gralha-azul e até mesmo o puma vivem por ali.  Dar comida a qualquer deles, além de desmotivá-lo a buscar o próprio alimento, pode prejudicar a saúde animal, desbalanceando seu metabolismo. Bater  fotos, entretanto, não tira pedaço e certamente os aficcionados vão se divertir demais fazendo isso.

A visita ao parque dura quanto o mochileiro quiser. O circuito clássico/oficial dura aproximadamente três horas,  totalizando cerca de 7km de percurso. Tanto a Trilha do Mirante quanto a  Trilha da Pedra do Segredo tem 3,5km e já oferecem um visual estupendo, em meio às araucárias, típicas dos campos de altitude, e a vista de tirar o fôlego dos paredões vistos diretamente da borda do cânion. Lá de cima, em dias claros, é possível avistar as praias da gaúcha Torres de um lado e pequenas cidades catarinenses de outro. Lembre-se: não há placas, proteções, estrutura ou qualquer apoio ao turista na Serra Geral, portanto tudo que fizer será por sua conta e risco. Além dos trechos citados, o trilheiro fica solto para visitar toda e qualquer área dos cânions e está à mercê de sua própria sorte aventurando-se nas bordas do abismo, não raro cobertas por mata traiçoeira que esconde buracos e pedras soltas, algumas envoltas em lama. Fantástico para os aventureiros, fatal para os imprudentes.

Na trilha do mirante (bem definida, vista de longe, subindo à direita de quem chega a área de estacionamento) é possível observar quase todo o cânion do Fortaleza, contemplando sua imensidão e beleza.  É o maior cânion do Parque Nacional da Serra Geral, com cerca de 7,5 km de extensão, largura de até 2000m e altitude de 1.240m acima do nível do mar, 500m de altura no local. Não há como descrever a vista lá de cima, é ver para crer mesmo. Curiosidade: o nome do cânion refere-se  ao formato dos rochedos, que lembram as muralhas de uma fortaleza, cobertas por um verde escuro belíssimo, constituído majoritariamente de folhas de urtigão de até 1,5m de diâmetro. Do topo da trilha do mirante t
têm-se a melhor vista do cânion que lembra essa formação.

Já a trilha da Pedra do Segredo vale… pela trilha mesmo. Cruza-se inicialmente o Arroio Segredo que forma a linda Cachoeira do Tigre Preto, local perigoso para escorregões, mas de beleza singular. Recomendo contemplar o local durante algum tempo, jogar conversa fora, fazer um lanche e aproveitar o silêncio da serra. Depois, pode-se atravessá-lo: olhando na direção das árvores, próximo à borda da cachoeira, pode-se ver uma pequena clareira e com atenção enxergar o caminho das pedras para a travessia, que só deve ser feita caso a época não seja chuvosa. É muito perigoso atravessar por ali nessas condições, pois um aumento do nível da água fatalmente fará as pedras desaparecerem, tornando impossível o retorno. Lembro que não há sinal de celular na região. Ao final, a Pedra do Segredo está lá, sob a forma de um bloco de rocha com 5m de altura, disposta em equilíbrio numa espécie de pescoço fino. Meio sem graça perto da beleza da trilha propriamente dita e do cânion que a rodeia, muito mais interessante. Que fique claro: é a pedra que é meio sem graça, mas a trilha vale muito a pena pelo visual, que descortina a área que não pode ser vista da trilha do mirante.
Por fim, friso que é de suma importância levar um relógio para lá. Na ocasião em que visitei o parque fiquei tão desconsertado, que perdi a noção do tempo e acabei chegando à portaria com algum atraso, próximo ao pôr-do-sol e com o parque já fechado. Além de um guarda de nariz torcido e testa franzida, fui tocaiado por uma guarnição da polícia do exército e de guardas do IBAMA poucos quilômetros à frente da portaria, já com a noite estabelecida. Um susto que hoje dá boas risadas, mas que na hora não foi nada divertido. Os soldados e guardas esperam dentro do mato, camuflados, objetivando prender ladrões de animais silvestres e plantas que não raro assolam a região. Até explicar… enfim, melhor evitar a fadiga. Um dia inteiro foi suficiente para que eu  visitasse todo o circuito oficial e explorasse boa parte da borda superior do cânion.
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