Rumo ao Sul: Dias 14 e 15 ( de Urubici a São Paulo, passando por Curitiba)

Três Estados num só dia seria o título para o capítulo final dessa epopéia pelo sul do Brasil, mas no fim da viagem optamos por fechar a conta de forma mais tranquila e quebramos novamente o trajeto. Basicamente, eram três a opções para deixarmos Urubici para trás em direção a São Paulo, lembrando que descartei a BR-116 pelas dicas colhidas de conhecidos e de sites diversos da internet:

a. Asfalto, em direção ao norte, com 2,5 horas de viagem pela SC-430, chegando à BR-282 e depois na região de Florianópolis, na BR-101 (171 km no total).;
b. Terra, descendo a Serra do Corvo Branco (49km até Grão Pará – em boas condições) e de lá para a BR-282;
c. Asfalto, em direção ao sul, descendo a SC-430, Serra do Rio do Rastro – SC438 até Lauro Müller e de lá para a BR-282;

Como já havia feito as duas serras no dia anterior, o mais racional seria seguir pela SC-430 mesmo, em direção ao litoral. Peguei um pouco de trânsito no trecho final, que conta com apenas uma pista e muitos caminhões, mas em geral a descida transcorreu muito bem e cheguei a altura de Floripa depois de cerca de três horas. De lá, foi seguir pela BR-101 até o Paraná, cruzar o Estado, atingir a BR-116 novamente e apontar em São Paulo no fim do dia. A viagem poderia ser feita de uma vez, já que Urubici-SC está a 872km da capital paulista, mas depois de uma viagem de mais de três mil quilômetros, achamos mais prudente quebrá-la e  acrescentar mais um dia a viagem.

Como Bombinhas-SC estava próxima demais e o tempo não ajudava (cerca de 18 graus na data da partida) acabamos optando por Curitiba-PR. Lá seria ideal para abastecer (De Joinville-SC a São Paulo são poucos postos de combustível), comer num lugar legal, acostumar-se aos poucos com o trânsito, dormir bem e chegar tranquilo e descansado a Sampa City no dia seguinte, pouco antes da hora do almoço.

Sem planejamento, esse trecho final acabou se revelando um pouco mais complicado, pois a referência que eu tinha de procurar um Centro de Informações Turísticas na mítica Rua 24 Horas atrapalhou nossos planos. Apesar de constar até hoje no site oficial de Curitiba (veja aqui) o emblemático ponto turístico está fechado para reformas desde 2007! Como estávamos tranquilos quanto a hotéis, pois o posto de informações do local nos daria todo o apoio, aproveitamos o final de tarde para conhecer a bonita Ópera de Arame e seu entorno. Chegando a tal Rua 24 Horas, já próximo do crepúsculo, tudo que encontramos foram mendigos, sujeira e uma placa indicando a reforma. Naquele horário, todos os postos de informação já haviam fechado (claro, porque o da Rua 24 Horas era o único que funcionava 24 horas!) e tivemos de procurar um hotel sem qualquer apoio ou indicação.

Os hotéis do centro estavam todos lotados por conta de congressos que aconteciam na cidade e isso dificultou bastante as coisas. Não conseguimos muitas informações com os habitantes apressados do centro (se o que queríamos era um retorno gradual à vida da cidade grande, estávamos conseguindo) e acabamos pegando o carro e rodando à esmo na hora do rush, à procura de um lugar decente para dormir. Salvou-nos o Hotel Siena, localizado na R. Desembargador Motta, 1181, na esquina com a Av. Silva Jardim. Diária honesta de R$80 o casal e à uma quadra do Shopping Curitiba, próximo também do Shopping Crystal Plaza, Shopping Novo Batel e do Estádio do  Clube Atlético Paranaense. O ótimo atendimento, o quarto limpo e o chuveiro quente foi tudo que aproveitamos do hotel, além do excelente jantar no Shopping Curitiba. Se passar pela metrópole, fique por lá. Carro em Curitiba no horário do rush não ajuda, então se for passear durante a semana, prefira a “Linha Turismo”, que nada mais é que um ônibus estilo “jardineira” que te leva a todos os pontos turísticos e sai a cada meia hora. Porém, confirme antes se ele ainda existe pelo telefone, para evitar lances chatos como o da tal rua que nunca fecha.

Na manhã seguinte, bora pra Sampa City. A cidade é bem sinalizada e é fácil achar a saída para a BR-116. Seguindo em frente, se tudo der certo, em menos de cinco horas já se chega a capital paulista.  O primeiro trecho de viagem é bastante tranqüilo e bonito,porém ao chegar em Miracatú o motorista terá de decidir qual caminho pegar. Vencer a Serra do Cafezal via Rod. Régis Bittencourt – trecho da BR-116 entre São Paulo e Santa Catarina passando pelo Paraná – hoje em dia não é fácil (há trechos que ficaram parcialmente interditados por meses entre 2009 e 2010). Melhor é margear a serra via litoral, utilizando o Sistema Anchieta-Imigrantes. Privatizado em 2008, esse trecho da BR116 está sob responsabilidade de uma concessionária que já tratou de espalhar seis praças de pedágio no trajeto, perfazendo quase R$10 de pedágio, eliminando a única vantagem de seguir pela serra em vez do litoral: a economia.

Não é caro, mas devido a péssima qualidade do asfalto, a grande quantidade de caminhões, a imensa falta de segurança em boa parte do trajeto e as péssimas condições da estrada, sobretudo na Serra do Cafezal (entre os Kms 228 a 253) essa opção não é uma boa. Siga pelo litoral, utilizando a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (sem pedágio) e pegando, ao final, o Sistema Anchieta Imigrantes. Fique atento à sinalização e evite ser pego pelos radares, distribuídos em ambas as estradas para fiscalizar quem ultrapassa os 80km/h. A quilometragem de quem opta por seguir pelo litoral é maior, mas a viagem é uma das mais tranqüilas, bem sinalizadas e seguras do país.

E é isso. Fim da epopéia, porta-malas cheio de comes e bebes, memória cheia de histórias e lembranças. Uma das trips mais bacanas, tranquilas e bonitas que já fiz na vida, totalmente compartilhada com vocês. Espero que tenham apreciado e que as dicas e informações lhes ajudem a viajar tão bem ou melhor que eu naquele inesquecível mês de maio de 2009.

Grande abraço,
Raulzito.

Share

Rumo ao Sul: Dia 13 ( Serra do Rio do Rastro e Serra do Corvo Branco )

Falamos aqui de uma região de nobreza ímpar para o Brasil, em aspectos históricos, geológicos, científicos e culturais. Foi com imenso prazer que percorri os 56km da Serra do Corvo Branco e os 154km da Serra do Rio do Rastro que ligam Urubici a Grão Pará, ambos no coração da serra catarinense. O percurso agrada aos amantes de viagens rodovirárias, por ser um dos mais cênicos do país e interessa a todo entusiasta de história e geografia.

A Serra do Rio do Rastro é uma das serras de Santa Catarina que ligam o alto centro ao baixo sul do estado, cortada pela rodovia SC-438, proprietária de uma vista espetacular da natureza ao redor. Muita mata, belas cachoeiras, presença de animais selvagens e lindas paisagens esperam os aventureiros que testam suas habilidades ao contornar o inusitado traçado em zigue-zague da rodovia. Começa na cidade de Lauro Müller, com altitude de 1460m, num belo mirante localizado bem no topo da serra, onde há estacionamento para os turistas apreciarem a vista, tirarem fotos, comerem um lanche e contemplarem dezenas de quatis que se aproximam das lanchonetes em busca de comida. Aqui vale a mesma advertência que fiz no post do sexto dia de viagem (Parque Nacional da Serra Geral).

Todo o  percurso é muito íngreme, cheio de curvas fechadas, que devem ser feitas lentamente, objetivando contemplar a paisagem, observar os animais e rodar com segurança. No caminho podem ser vistos, além dos quatis, alguns felinos de pequeno e médio porte, macacos (não vi os  bugios e macacos-prego que me informaram, mas avistei alguns saguis nas árvores próximas à rodovia). Há registros de pacas, mãos-peladas, tatus e tamanduás nas proximidades, sempre observados por aguias, tiês-sangue, tucanos, araras e papagaios diversos. A região está totalmente preservada.

Culturalmente, a relevância da Serra do Rio do Rastro está ligada a teoria do antigo supercontinente Gondwana (Africa + América) relacionada com a chamada Coluna White, conduzida por Israel White, que constitui um marco histórico na evolução do conhecimento da geologia no Brasil. O  trabalho de White e seus colaboradores, executado entre 1904 e 1906 na região da Serra do Rio do Rastro, é de grande importância para a geologia mundial, tendo lançado um embasamento científico que até hoje permanece atualizado: algumas rochas encontradas na região tem composição idêntica às encontradas na África, provando o encontro dos continentes e embasando cientificamente a teoria da deriva continental, proposta por Alfred Wegener, que assinala ser a crosta terreste  formada por uma série de “placas” que “flutuam” numa camada de material rochoso fundido. Saiba tudo sobre o assunto aqui e aqui – links interessantes mesmo para quem não manja de geologia. O roteiro geológico está demarcado junto a rodovia por um conjunto de 17 marcos de concreto com descritivos das características da geologia local.

E por falar em estradas sinuosas e geologia, outra estrela é a vizinha-irmã Serra do Corvo Branco, cada qual com sua singularidade. O nome “corvo branco” vem do urubu-rei, como é conhecido o animal pelos habitantes da região,  que costumavam avistar seus ninhos junto às escarpas locais, especialmente a que acompanha a estrada. A estrada liga o planalto a região do litoral catarinense, através do município de Grão Pará, onde termina a grande escarpa onde está encravada. Mais curta que a Rio do Rastro, porém pavimentada apenas no trecho mais ingreme, é mais difícil de ser percorrida, mas também muito bonita, fazendo valer a pena o esforço (boas condições em época de seca, porém exige atenção nas curvas e demanda alguma habilidade nas inclinações, porém totalmente vencível com paciência por qualquer um).  A construção da estrada exigiu um corte vertical de 90 m direto na  rocha basáltica (muito sólida) que é o maior corte rodoviário da  engenharia brasileira, necessário por conta da grande inclinação do local.
Ao todo, percorri 56 Km  contados no painel do carro de Grão Pará a Urubici, margeando o Rio Canoas, diversas plantações de verduras e alguns trechos de mata fechada, que volta e meia se abrem descortinando o Morro do Corvo Branco, que dá nome à estrada (1668m de altitude).  Para subir o carro foi bem, mas duvido que em vários trechos seja possível descer em qualquer marcha que não a primeira, mesmo com carros pequenos e sem carga. Presenciei alguns veículos sofrendo em sentido contrário, porém nada que assustasse muito. A Serra do Faxinal (ver aqui e aqui) localizada um pouco mais ao Sul, exige bem mais do motorista.
Normalmente, os guias aconselham o turista que está em Urubici a visitar o Morro da Igreja, que citei lá atrás, retornar e passar pela Serra do Corvo Branco e após Grão Pará, seguir as placas de Lauro Müller, chegando à Serra do Rio do Rastro, fazendo-a de baixo para cima. Fiz o oposto, não por espírito contestador e reacionário, mas por opção mesmo, já que quis por aproveitar o tempo bom do dia anterior para visitar a atração principal – o Morro da Igreja – e reservar a data desse tour rodoviário para o mesmo dia da Cachoeira do Avencal, mais próxima do topo da Rio do Rastro. Foi tranquilo, então deixo a decisão com você.
Share

Rumo ao Sul: Dia 12 ( Urubici – SC )

Deixamos o sul com alegria e ainda mais empolgados para ver as belezas da serra catarinense e compará-las com a gaúcha. Lages, no nosso caminho para Urubici, é uma cidade com altitude máxima de 1.200m, o que já indica a qualidade cênica e climática da região. Fundada em 1766 como pouso de tropeiros que vinham de São Paulo em direção ao sul, a antiga Lajes (cuja grafia era a correta) rivaliza com Urubici como atração da serra. Tempo curto, como a primeira tem seus mais de 160 mil habitantes e a segunda não passa de 11 mil, decidimos visitar a cidade menor, que é mais a nossa cara e combinava melhor com o espírito ecoturístico da trip. Outro caminho que liga a serra gaúcha a catarinense a chamada “Rota dos Campos de Cima da Serra”: toma-se a estrada Cambará do Sul – São José dos Ausentes, conhecida por suas péssimas condições de terra e cascalho, sendo a maioria dos trechos em condições muito ruins e intransitáveis em épocas de chuva. Em compensação a paisagem é linda, repleta de campos, animais selvagens, flores e mata intocada. No caminho, o Pico do Monte Negro, ponto mais alto do estado do Rio Grande do Sul, em local de difícil acesso, mas de beleza rara. Caso disponha de tempo, de um 4×4 ou fôlego para ir à pé, o caminho é obrigatório.

Urubici normalmente é fria para os padrões brasileiros, com temperatura média de 13 graus e mínima em torno dos 17 graus negativos. Pela proximidade de São Joaquim, esperávamos mais frio que no sul, mas o destino nos reservou agradáveis e inesperados 20 graus durante nossa estada por ali. Além da temperatura inusitada, surpreendeu-nos a resistência dos governantes da região em aceitar turistas autônomos, que não gostam de contratar guias turísticos tagarelas/despreparados e preferem explorar tudo sozinhos. À exceção da Cachoeira do Avencal, algumas grutas sem graça, cachoeiras distantes e pequenas como a Véu da Noiva e mirantes como o Morro do Campestre e a principal atração – o Morro da Igreja – mais nada pode ser feito sem guia, o que inclui o Canion do Espraiado, o Campo dos Padres, a Cachoeira Rio dos Bugres, a caverna de mesmo nome e o Parque Nacional. A todo tempo os funcionários municipais lembram que esses passeios tem de ser pagos e agendados, não informam como chegar nessas atrações e alertam para os perigos quase sobrenaturais de realizar passeios sozinho por esses locais. Não há placas, roteiros ou guias para essas atrações, apenas folhetos publicitários de agências e guias que fazem os trajetos. Opção simples e barata em vez de sinalizar o local e confeccionar mapas para as atrações, nem todas tão isoladas e perigosas assim. Descartamos.

A Cascata do Avencal é a atração mais próxima do centro. Chega-se facilmente (e de carro) à parte de cima da cachoeira, local com uma visão interessante da serra e da queda, que normalmente cobra entrada (vimos placas) mas tinha guarita e estrutura abandonados em maio de 2009. Há trilha para descer à base da cachoeira que não tem sinalização (nem guias para conduzir, nessa época). Vale a pena passar por lá e depois conferir as inscrições rupestres no entorno, também não sinalizadas, mais ou menos 5km à frente na mesma estrada.

A atração principal, imperdível, é o Morro da Igreja, ponto mais alto e frio da região. Para chegar, saindo da cidade enfrenta-se 10km de estrada de cascalho tranquila e mais 16km de bom asfalto até a entrada da base militar do CINDACTA que fica no topo. De lá, avista-se a Pedra Furada, curiosa formação geológica em torno de paredões cobertos de bonita vegetação e rochedos imponentes. Dali é possível andar bastante no entorno, tirar fotos dos paredões e conferir a beleza da serra. Uma hora de caminhada é o suficiente para explorar todo o morro fora dos muros do exército. Vá cedo para evitar hordas de turistas, inclusive excursões escolares que freqüentemente levam as crianças de escolas próximas para conhecer e aprender mais sobre a região. Para descer à Pedra Furada, só com guia e nem tente perguntar: não há como chegar sem conhecer a região. Não duvidamos disso e já cansados da trip, deixamos para outra ocasião.

Para comer, recomendo a Pizzaria Cor da Fruta (Rua Adolfo Konder, 651) que serve a la carte e rodízio. O rodízio custa R$13 e tem ótima  qualidade, muito superior a várias pizzarias a la carte por aí e melhor que todas as que atendem em rodízio que já frequentei. Duas peculiaridades: o proprietário é viciado em Pendragon (trilha sonora rara para uma pizzaria) e o rodízio na baixa temporada é feito a pedido: você escolhe a pizza que deseja e quando ela chegar, em formato brotinho, já escolhe o próximo sabor e assim sucessivamente, sem esfriar a pizza ou correr o risco de só aparecerem sabores desinteressantes. Outra atração é a truta na chapa do Zeca´s Bar (Rua Adolfo Konder, 522) com buffet variado, aberto até meia-noite.   Para ficar, escolhemos uma opção barata e simples: Pousada Café no Bule, bem localizada, com cama box, suítes, tv e café da manhã por R$85 na baixa temporada. O café da manhã é razoável e por incrível que pareça: não tem café no bule, só solúvel. rs

No dia seguinte, um dos mais belos trechos rodoviários do país: Serra do Rio do Rastro e Serra do Corvo Branco!

Share

Rumo ao Sul : Dia 11 ( Bento Gonçalves – Urubici )

Entre Bento Gonçalves-RS e São Paulo-SP são longos e cansativos 1026km. Vencido 1/3 do caminho está  Urubici-SC, a exatos 872km da capital paulista e a 167km de Florianópolis-SC. Para quebrar a viagem de volta, você pode escolher qualquer cidade do litoral catarinense – como a capital Floripa – ou alguma coisa na serra, como a sede do Parque Nacional de São Joaquim. Aí depende do fôlego, da grana, da vontade e do interesse. Como na ida ficamos em Bombinhas e o tempo estava horrível (maio/2008), descartamos Floripa por causa do trânsito e optamos por Urubici, que fica a meio caminho entre a serra e o litoral, porém ainda bem longe de São Paulo.

Não fomos pelo interior pela quantidade enorme de advertências dadas por conhecidos e obtidas na internet. Todas falavam no quão cansativa é a viagem entre as serras gaúchas e catarinenses em direção ao Paraná, por causa das inúmeras curvas, grande quantidade de caminhões, trechos longos em pista simples e a falta de sinalização da BR-116. E pude confirmar tudo isso em todo o trajeto de BG a Lages, bastante cansativo, apesar de muito bonito. Demorei uma manhã inteira para percorrer a BR até Lages, depois peguei a BR-282 em direção a Bom Retiro e por fim a saída à direita para a SC-430, que leva a Urubici nos últimos 19km. Achei que foi uma boa escolha: a região de Urubici é linda e os roteiros rodoviários da Serra do Corvo Branco e da Rio do Rastro são de uma beleza cênica incrível. Adiante, mais detalhes.

Share

Rumo ao Sul: Dias 8 e 9 ( Bento Gonçalves )

Bem-vindo a capital brasileira da uva e do vinho, terra de boa comida, habitantes simpáticos e hospitaleiros, muita beleza, cultura e diversão à moda italiana. Passei dois agradáveis dias na região e gostei de absolutamente tudo que vi, tomei, comi, ouvi e presenciei. De início, informo que os 110 km que separam Gramado de Bento Gonçalves estão bem conservados e sinalizados, não oferecendo qualquer dificuldade, mesmo à noite. Na chegada da cidade, no chamado Pipa Pórtico (uma pipa de vinho, de 17m de altura) há um centro de informaçõees turísticas bastante completo, as quais você pode adiantar aqui.

A cidade é grande e bem estruturada. Tem agências bancárias do BB, Bradesco, Real, Banrisul, CEF, HSBC, Itaú, Unibanco  e Santander, vários caixas eletrônicos e a maioria do comércio aceita cartões de débito e crédito. Há muitos pontos turísticos, suficientes para se passar ao menos uma semana por ali. Destaque para a Via del Vino, Museu e Monumento do Imigrante, a Calçada da Arte, o passeio típico de Maria Fumaça, o Palácio Municipal, a Fundação das Artes, o Parque Temático Epopéia Italiana,  diversas igrejas de valor histórico e os quatro grandes roteiros: Vinhos de Montanha, Vale do Rio das Antas, Vale dos Vinhedos e Caminhos de Pedra, com destaque para esses dois últimos que descrevo abaixo.

O Vale dos Vinhedos é sensacional. Legado dos imigrantes italianos, tem uma paisagem linda, pessoas simpáticas, sinalização perfeita e inúmeros parreirais que enfeitam a visão e provêm ótimos vinhos. É indispensável um mapa (conseguido em qualquer casa de apoio ao turista da cidade) para seguir as atrações das dezenas de vinículas do vale. Não deixe de visitar as vinículas grandes como a Aurora, a Miolo e a Casa Valduga, onde você aprende muito sobre vinhos e ainda pode abater os valores pagos pela visita guiada nas lojas de vinho ou trocar por taças personalizadas e conheça também as pequenas, como Cave de Pedra e as familiares, como a Dom Cândido. Nas grandes você aprende muito, faz visitas guiadas e interessantes e trás bons presentes para casa, enquanto nas pequenas você faz amizade, tem tratamento personalizado, aproveita preços melhores, come bem e a bom preço e aprende sobre os costumes do local. Há também muitos hotéis, restaurantes e queijarias. Procure comprar vinhos com a indicação do IPVV, que identifica produtos com procedência da região.

Os Caminhos de Pedra também valem a visita. Trata-se de um roteiro cultural e gastronômico na zona rural de BG, onde pode-se entrar em contato com a cultura italiana das famílias que chegaram há mais de um século na região, sem um tostão no bolso mas com muita vontade de trabalhar. A cultura dos trabalhadores, a religiosidade das famílias e as casas com queijos, molhos e mates fabricados artesanalmente podem ser visitadas em uma tarde ou com calma, num dia inteiro.

Casa fundada em 1900, na Casa da Erva Mate Ferrari, curti muito a demostração de como é feita a erva-mate num processo artesanal,  movido a roda d’água, com degustação do chimarrão, lojinha artesanato e artigos diversos para chimarrão. O mate dos caras é muito bom e a conversa da Sra. Jaqueline é ainda melhor.  Na Casa da Ovelha ( http://www.casadaovelha.com.br ) não deixe de provar e aprender sobre os queijos pecorino toscano (prove o fresco e o maturado!) e feta e o doce de leite de ovelha, muito saboroso e diferente. Mais informação aqui. Visite também o El Cantutio del Pomodoro e della Gasosa, cujo nome já o apresenta (molhos caseiros caros, mas excelentes, como o Pesto e de Tomate Seco) e se quiser saber um pouco mais, converse com o Célio e a Maristella, que certamente lhe darão uma aula de molho de tomate.

Para ficar, escolhi a Pousada Santo Antonio. Quartos simples, porém aconchegantes, atendimento show de bola, estrutura muito boa (café da manhã, estacionamento, garagem, internet, sinuca, sala de tv e som, indicação de pontos turísticos e reservas de passeios) e preço excelente (de R$70 a R$110 por casal, variando época e tipo de apartamento). O proprietário foi muito atencioso conosco, buscando-nos na entrada da cidade e fazendo um delicioso pinhão na chapa nas noites frias. Para comer bem e barato na cidade, procure o Tigrão, bem próximo da pousada, que serve almoço, jantar, lanches e a la carte (Rua São Paulo, nº 311, Bairro Borgo) ou consulte o guia gastronômico da cidade. Não deixe de pedir as direções no hotel antes de sair, pois o centro tem trânsito confuso e não é tão bem sinalizado quanto às principais atrações.

Passei dois dias na região e parti para Urubici-SC, última parte da trip rodoviária pelo sul antes do retorno a São Paulo. Na saída, comprei bons vinhos a preços ridículos nas vendas à beira da estrada e provei ótimos sucos na Casa do Suco, que fica na estrada Bento-Farroupilha (RST 452 – Km. 115,4). Alerta: essas lojinhas da estrada no sentido norte parecem feitas para encher o porta-malas!

Share

Rumo ao Sul: Dia 7 ( Gramado e Canela )

Que fique claro: o objetivo aqui é roteirizar e dar dicas para aventureiros de mochila ou traçar alternativas econômicas de viagem. A idéia, quando passei pela região, era passar pelo menos um dia em Gramado e outro em Canela, mas não foi o que aconteceu. Como já vinha da melhor parte da trip – os cânions gaúchos – eu pretendia dar uma relaxada e curtir uns passeios de tia mais simples antes de partir para a orgia etílico-gastronômica de Bento Gonçalves e fechar a epopéia mais ao norte, nas montanhas de Urubici-SC. Encurtei o trecho, como vocês saberão.

Em Gramado, sugiro que peguem um mapa oficial no centro de informações turísticas (Praça Major Nicoletti, próximo à rua coberta), que facilitará sua busca por atrações, hotéis e restaurantes. Fanático por cinema, fiquei um tanto quanto decepcionado com a cidade que sedia o prêmio mais importante do país, já que não há qualquer menção a sétima arte em todos os seus 237 quilômetros quadrados. Nem mesmo o Palácio dos Festivais onde ocorre a premiação está identificado, só chamando a atenção de quem já o viu por fotos ou pela televisão. As demais atrações – leia-se museu medieval, mundo a vapor, casa do colono, fábrica de couros black bull, lago negro, compras de chocolate e o famoso café colonial – são fracas, caras e quase dispensáveis para quem gosta de natureza, aventura ou tem o bolso vazio. Realmente não combinou com a minha trip e acabei passando apenas uma tarde na cidade.

A hospedagem em Gramado é um capítulo à parte. Se na Serra Gaúcha próxima aos cânions é razoavelmente simples encontrar ótimas acomodações a preços em torno de R$80, em Gramado espere pelo menos o dobro como preço mínimo. Comer por lá, então, é verdadeiramente um tormento aos menos abastados, que tem poucas opções: o restaurante ao lado da prefeitura (R$10), o Buffet El Fuego ($20) e o Di Pietro (R$20) são as casas mais em conta. Chocolate mais barato é o Floribal (Rua Tristão de Oliveira, 1200,Centro) ou na fábrica da Prawer (no centro, em frente ao museu de carros antigos) que vale a visita pelo tour pela produção e a história do doce, mas tem preços que não justificam sua fama, ficando devendo aos famosos Montanhês, Araucária, Sabor Chocolate e Toco de Campos do Jordão-SP. Para estacionar na rua no entorno das principais lojas do centro, não se esqueça de pagar pelo “Cartão Gramado”, um sistema de estacionamento rotativo pago que custa R$1,20 por hora. Fondues e cafés coloniais, que me parecem ser o ponto alto da região, demandam mais pesquisa e este não era o objetivo quando passei por lá, quem sabe numa próxima vez. Google it!

Canela segue o mesmo ritmo. Nas pesquisas anteriores à trip li que o Camping do Parque do Sesi era boa opção no calor (local agradável, limpo, organizado e barato) mas não fiquei por lá. Visitei o Castelinho do Caracol ( www.castelinhocaracol.com.br ) que é uma residência conhecida por sua arquitetura enxaimel, datada de 1913, que teria sido erguida apenas com madeiras encaixadas, sem pregos. Você lê sobre isso em tudo quanto é lugar, mas o embuste fica claro para aqueles que pagam os R$6 de entrada para explorá-lo por dentro: o “castelo” é pequeno, pode ser visto em menos de cinco minutos e são visíveis os pregos disfarçados nos batentes das janelas do andar superior, cobertos por tinta escura. Não sei se foram postos durante a construção ou posteriormente em alguma correção ou obra de contenção, mas estão lá, tornando risível a publicidade! Isso é irrelevante, entretanto, perto do delicioso Apfelstrudel (torta de maçã alemã) com sorvete de creme, que comi na casa de chá que funciona no térreo. São R$26 para dois muito bem gastos, que compensam o desgosto de ver a casa de bonecas mais sinistra que eu já vi, instalada no sótão da casa, lembrando filmes de terror “b” dos anos 80.

O Parque do Caracol (entrada R$10) é a maior atração da cidade, com a cascata que lhe dá o nome, de 131m de altura. Lá há algumas trilhas simples para percorrer, uma feira de artesanato com preços mais altos que as lojinhas do centro, uma escada de 927 degraus que leva os visitantes do topo à base da cascata, um mirante com um elevador (que é pago à parte!)  e um restaurante que cobra R$34 num almoço para duas pessoas. Se passar por lá, vale a pena visitar pela imponência da queda d´água, mas esqueça todo o resto ali dentro. Outros locais de interesse podem ser consultados, com mapa, em www.canelaturismo.com.br.

Por fim, em frente a rodoviária da cidade, reparei no Viajante Hostel (www.pousadadoviajante.com.br) que conta com apartamentos para casal (R$72 na baixa temporada) e quartos coletivos, tv à cabo e cozinha coletiva. Bom preço para o padrão da região. Não fiquei lá, já que ainda tinha um longo caminho pela frente.

Ao todo, passei uma manhã em Canela e uma tarde em Gramado. Em relação ao caminho de Cambará do Sul em direção a Bento Gonçalves, especialmente no entorno de São Francisco de Paula, Gramado e Canela, recomendo especial atenção aos radares (também chamados de pardais pelos residentes) e pela total ausência de postos de combustível nas estradas. Caso precise abastecer, terá que entrar em alguma cidade com alguns litros de antecedência, já que as vicinais que saem das estradas principais não são curtas e não raro a falta de sinalização confunde o motorista que tem que corrigir o caminho algumas vezes. Os mapas da região são um pouco confusos, especialmente o Guia Rodoviário Quatro Rodas ( http://mapas.viajeaqui.abril.com.br/guiarodoviario/guia_Rodoviario_viajeaqui.aspx ) que é bem apertado nesse trecho e esconde alguns entrocamentos importantes. Vá com calma ao explorar a região, especialmente à noite como eu fiz.

Próxima parada: Bento Gonçalves !

Share