São Francisco Xavier: Cultura e Lazer de Montanha

Um dos cantinhos mais bacanas do Sudeste é justamente aqui, nas montanhas da Serra da Mantiqueira entre Minas e Sampa, onde poucos quilômetros separam Gonçalves, Campos do Jordão, Monte Verde, Joanópolis, Extrema, Santo Antônio do Pinhal e outras tantas cidadezinhas charmosas, aconchegantes e ricas em fauna e flora silvestre.

São Chico não é diferente. Como quase todas as vizinhas, foi passagem e pouso de tropeiros que vinham de Minas Gerais comercializar nas regiões mais povoadas do Vale do Paraíba, em especial São José dos Campos e Jacareí. Criado em 1892, o distrito de 322 km² viveu boa parte de sua história exclusivamente da agropecuária, mas desde 1992 sua vocação ecoturística cresceu, especialmente por conta de uma lei municipal que transformou mais da metade da cidade em área de preservação ambiental, impondo severas restrições ao desmatamento e a novas construções. São Chico hoje também é uma APA Estadual pela Lei n° 11.262/2002 e é a área verde mais significativa do Município de São José dos Campos.

Como e Quando ir

A vila está a 720m de altitude e pode ser alcançada a partir da SP-050, que liga São José a Monteiro Lobato. São cerca de 54km de asfalto cheio de curvas e natureza, numa tocada tão cansativa quanto peculiar. Se o objetivo for mais aventura, há um trecho de chão ainda mais divertido, via  Estrada Ezequiel Alves Graciano que liga São Francisco Xavier a Joanópolis e Monte Verde, já em Minas Gerais. De Joanópolis são 10Km de asfalto, 15km de terra, algumas porteiras de fazendas, mais 27 km de asfalto, totalizando não mais que 50km. O percurso algumas das paisagens mais bacanas na Mantiqueira e pode ser percorrido com carro comum, desde que com muita calma e paciência, num dia reservado para contemplação. De busão, a Viação Oito Irmãos (12-3941-3019) tem veículos saindo da “rodoviária nova” de São José dos Campos (fone 12-3922-0956) e a Viação São Bento (12-3921-7277, horários aqui ) tem latão de hora em hora partindo da “velha” (12-3941-3019; horários aqui). De Sampa até lá são cerca de 100km.

Dica: recém recapeada, a Estrada que liga Caçapava a Monteiro Lobato, tem apenas um pequeno trecho de terra em boas condições, a fim de preservar as cachoeiras ali localizadas. É um bom atalho para fugir do trânsito pesado que normalmente assola as voltas de feriado dos paulistanos que descem a Serra de SFX a São José dos Campos, antes de pegar a BR-116 de volta para casa.

São Francisco é interessante em qualquer época do ano, seguindo a regra de ouro do clima das serras paulistas: no verão faz calor de dia e algum friozinho à noite, aumentando a probabilidade de chuva. No inverno chove muito pouco, porém o sol não consegue esquentar a água das cachoeiras. Vá preparado.

O que fazer

Foto de máscara La Dama retirada do site do próprio atelier
Foto de máscara La Dama retirada do site do próprio atelier

Em São Chico uma das principais atrações é  o artesanato típico da região. Cara, porém criativa, a atividade rende bons dividendos aos moradores que se esmeram no que fazem e não raro atingem resultados excepcionais. É o caso do artista Carlos Alberto Gaudin, dono do único atelier de máscaras venezianas das Américas, que vende suas peças a preços entre 200 e 900 mangos. Você não encontra preços mais baixos nos ateliers de Tânia Negrão (flores da Mata Atlântica esculpidas em madeira) e no Manacá da Serra (cerâmica), mas para apreciadores de arte, só a visita e o papo com o artista já valem a pena.

A vila também organiza festas religiosas, possui algumas trilhas de bike e trekking, rampa de vôo livre, paraglider e canoagem. Quase tudo, infelizmente, reservado a poucas (e caras) agências de turismo. Numa visita ao Centro de Informações Turísticas, por exemplo, você será recepcionado por um simpático local que se limitará a entregar folders das empresas que detém o monopólio do lazer na região. Boa parte das atrações está em terras particulares (o que nos relembra a pouca vocação do Governo do Estado de São Paulo em preservar suas APAs)  e cobra taxas relativamente altas dos turistas. Por essas e outras, São Francisco tem se tornado mais um polo gastronômico e de contemplação que de aventura nos últimos anos.

Isso não quer dizer que não há muito o que fazer, pelo contrário. Se o seu negócio é trekking, a única trilha ainda gratuita é a da Pedra da Onça. Para chegar, basta seguir placas de Joanópolis e da fazenda Monte Verde, onde há um estacionamento que atualmente (2018) não cobra taxa. Dali segue-se à pé pela estrada de terra até uma casa amarela onde deve-se abrir a porteira e iniciar a trilha de 11km até o topo. Leva de 4h a 5h ida e volta, dependendo do seu condicionamento físico. Vá com um calçado apropriado para o terreno, leve água, lanche e um abrigo de frio/chuva caso por qualquer motivo se demore no caminho. Não perca, pois a vista lá de cima compensa o esforço.

Para quem curte uma roadtrip, por exemplo, a Serra do Queixo D’Anta – 1.600m de altitude em média – te leva para belas paisagens na divisa com Sapucaí Mirim, já em terras mineiras. O acesso é pelas estradas municipais Pedro David (15 km) e a Rio Manso (10 km em terra). Lá, conheça o Pico do Focinho D’Anta (1.712m,  rapel com descida de 65m na primeira fase e 40m negativos na segunda. ) e a Pedra do Capim Azul (1.400m).

Igualmente cênica, a Serra de Santa Bárbara – 1.578m de altitude – também tem algumas corredeiras no caminho. Para conhecê-la, são 20km pela Estrada Municipal Pedro David e os últimos 12 pela Estrada Municipal de Santa Bárbara em trecho de terra bem consevado, mesmo molhado.  Pergunte ali pela Pedra Vermelha (1.836m), que fica a 3km da Estrada Santa Bárbara na Estrada Municipal que leva o nome da pedra.

Na mesma estrada fica outra atração tradicional em São Francisco: o Pouso do Rochedo, que atualmente cobra um dayuse de R$25 que dá direito a um mapa das trilhas locais, um papo rápido com o Seu Antonio (proprietário) acerca dos cuidados a se tomar na mata, pode usufruir da piscina da pousada, das trilhas que levam a inúmeras cachoeiras, além da subida até o pico.

Também é bem conhecida na região a Trilha do Max. Com 14 km ida e volta, parte da bucólica praça principal e vai até a rampa para esportes de ar, passando pela Cachoeira Ferruginosa, Rampa do Funk e Gruta Granítica. Rola uma mountain bike, observação da galera que pratica vôo livre ou só pela trilha mesmo. Veja no Wikiloc.

Dentre as poucas cachoeiras gratuitas, o destaque fica para a Cachoeira de São Francisco,  15m de altura, fica no Recanto Turístico Pedro David, alcançado Estrada Municipal Pedro David ( 21 km ), 3 km além da Vila de São Francisco, sentido Joanópolis. As trilhas por ali são bem acessíveis, limpas e contam com corrimão e estrutura de banheiros.

Das cachus que cobram entrada, no Bairro roncador, a Cachoeira do Roncador (45m de altura, basta seguir placas na estrada) é uma das mais bonitas. A Cachoeira Santa Bárbara também está bem sinalizada, sendo  alcançável pela Estrada Municipal Pedro David (20 km) e Estrada Municipal de Santa Bárbara (9 km em terra). Valem uma visita também a Cachoeira do Turvo (25m) que  fica na Estrada Municipal do Bom Sucesso e a do Sabão (25m) fica na Estrada Municipal do Costinha, dentro da Reserva Ecológica Augusto Ruschi. Sobre a reserva, que vive problemas ambientais gravíssimos, leia aqui e vá para lá consciente do que vai ver.

Mas melhor atração, sem dúvida, é a Trilha São Francisco Xavier-Monte Verde, cujas características, direções e atrações são muito bem descritas pelo Jorge Soto aqui. Anda-se cerca de 10 km saindo da fazenda do Jorge até Monte Verde, podendo ser feita de mountain bike, a cavalo ou à pé. Partindo de SFX também, uma trilha-chave que leva às rochas de Monte Verde é a Trilha de Santa Cruz: pesadinha (13 km), pode ser feita  saindo também nas três modalidades e chega até a Pedra Redonda (1.925m). De lá pode-se chegar a todas as principais trilhas de montanha da vizinha mineira. Detalhes aqui. Observação: aqui, tudo grátis, porém é recomendável que se contrate um guia experiente caso você não seja  um habitué no esporte.

Onde Ficar

A hospedagem com melhor custo-benefício atualmente é a Hospedaria São Xico, que tem acomodações simples, porém com wi-fi, estacionamento, cozinha, banheiro privativo, varanda, piscina e café da manhã, churrasqueira e um terraço. Uma alternativa para economizar é alugar um dos Chalés Valfena, no mesmo bairro de Santa Bárbara. Se estiver lotado, verifique as vagas do Chalés Alecrim, na mesma faixa de preço.

As pousadas mais famosas, no entanto, são duas: o Pouso do Rochedo, que conta com acomodações confortáveis, piscina e inúmeras trilhas e cachoeiras na propriedade; e a Pousada Itaky, com sauna, piscina e lareiras nos quartos. Ambas estão muito bem cotadas no Booking.com e já as visitei pessoalmente. Satisfação garantida.

Caso não encontre vagas, sugiro fazer uma busca geral pela cidade, que conta atualmente com inúmeras opções para todos os bolsos e gostos. Em 2018 promoções têm sido bastante comuns em São Chico e cidadezinhas próximas. Uma das mais luxuosas, a Serra do Luar  – que conta com um dos melhores restaurantes da região – já apareceu por lá com 30% de desconto.

Onde Comer

Comer… atividade das mais prolíficas em São Chico. Pessoalmente, recomendo vivamente uma visita ao
Pangea Bar e Restaurante, certamente o melhor custo-benefício da região. Com pratos para todos os gostos e bolsos, os caras prezam pelos produtos de origem regional, fritam apenas com óleo de palma não hidrogenado e não servem nada que contenha gordura trans. O cardápio também tem whisky, drinks diversos, vinhos selecionados, pizzas e massas de fabricação própria, cervejas nacionais e importadas (inclusive algumas boas artesanais do sul de Minas), porções diversas e um ambiente show de bola. No centrão, você acha fácil, fácil e se não achar, eles entregam na sua pousada: (12) 3926-1502.

Caso queira economizar, as melhores opções são o Neo Burguer, a Pizzaria Ecoolo (que tem delivery pelo telefone 12-3926-1410) e o Soberano, que serve comida caseira a R$30 e tem a melhor carne de lata do mundo.

Procura o melhor restaurante da cidade? O Serra das Águas serve uma truta com risoto de pinhão que não vai sair da sua mente tão cedo. No mesmo nível, a Pousada Serra do Luar compartilha o Restaurante Quintal Gastronômico com o público que não está hospedado – e acredite – vale a pena.

Dois bares que andam fazendo sucesso são o Bem-te-vi com seus drinks e hamburgueres caprichados e o João-de-Barro, que também serve ótimas refeições.

E foi lá mesmo no João-de-barro que tomei o melhor espresso em minha última visita. Com grãos do sul de minas, torra escura e aroma marcante, a xícara vem quentinha com um espresso de corpo bem presente, uma crema espessa e brilhante que chamou minha atenção e sabor bastante acentuado (R$5,50).

Finalmente, como bônus, vai uma dica de leitura: Serra da Mantiqueira. No século 19, pequenas propriedades rurais multiplicaram-se pela serra, substituindo boa parte da Mata Atlântica original pelas pastagens e por cultivos de milho, feijão e mandioca. O período coincidiu com o apogeu do café no Vale do Paraíba, de modo que as fazendas cafeeiras logo passaram a ser abastecidas com carne, laticínios, grãos e hortaliças da Mantiqueira. Em 1937, a Serra da Mantiqueira passou a abrigar o primeiro parque nacional do país, o de Itatiaia, marcando o início da proteção da Mata Atlântica, o mais ameaçado bioma brasileiro. É o berço das águas que abastecem a vida em dezenas de municípios – inclusive a da maior metrópole do país. Em meio a um concorrido calendário de festas e celebrações religiosas, a Serra da Mantiqueira consegue se manter como um autêntico depositário da cultura caipira.

O que está esperando para curtir mais esse belo destino?

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14 comentários em “São Francisco Xavier: Cultura e Lazer de Montanha”

  1. Olá, mochileiro 🙂

    Estou pensando em fazer uma viagem de final de semana para o sul de minas, mas estou super em dúvida da onde ir. Como você já andou bastante por aquelas bandas, será que poderia me ajudar?

    Sou eu, meu marido e um casal de amigos, procuramos uma cidadezinha que tenha uma vida de vilarejo, mas com boas opções no centro, como comércio e restaurantes. É uma viagem lenta, sem muito rigor, só pra curtir uns aos outros e seus parceiros hehehe AH…. não queremos gastar rios de dinheiros, claro.

    Estamos em dúvida entre Gonçalves, São Francisco Xavier e Socorro. O que acha? O que indica? Tem outra indicação?

    Espero que possa nos ajudar.
    Parabéns pelo blog, descobri agora e vou olhar sempre

    abraço

    1. Ola Leila. Atualizando a informação, em 2018 eu diria Gonçalves é o polo polo gastronômico mais interessante e tem também os preços mais altos. São Francisco Xavier está no meio termo, com algumas trilhas gratuitas e restaurantes para todos os bolsos e gostos. Socorro é a mais econômica de todas, com destaque para as atividades aquáticas como rafting e boia-cross. As três tem boa oferta de hospedagem, com variados preços . Boa viagem!

      1. Vale também conhecer Bueno Brandão, vizinha à Socorro, com preços mais em conta e várias atividades gratuitas!

  2. Faltou só um mapa de lá, amigo. Eu conheço a região, a vila é a mais bonitinha do vale, e gosto bastante, mas você tem razão quanto aos passeios serem apenas com guia, coisa mais irritante. Para quem for procure outros restaurantes no centrinho que tem mais barato que o Pangea, que é muito bom mas não tão barato e tome cuidado na estrada que tem muitas curvas com terminhões. No guia de São José onde morei por 10 anos fala de lá tambem: http://www.saojosedoscampos.com.br/class-cidades/index.php?id=41958&cat=14

  3. Obrigado pela visita a nossa vila. O pangean e o bar mais legal que temos e fica sempre lotado no inverno. Você falou dos guias da prefeitura mas eles nao garotada daqui da vila mesmo, com curso de ongs locais, vale a pena contratar para ajudar mesmo. Mas você tem razao quando fala da falta de sinalizacao (ja foi pior) e de faltar lugares publicos com trilha sem guia. O problema e a flata de estrutura para cuidar, fiscalizar. Com o tempo e mais turistas vai melhorar. São Xico nao tem nem 1500 moradores! PAra o tanto que tem, a estrutura até ta de bom tamanho. A praca por exemplo foi inteira refeita de um tempo para ca e merece ser vista!!! Parabens pela reportagem!! Muito boa a dica dos aterliês. Muito caro mas muito bonito.

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