Feriado em São Miguel Arcanjo : Show de Mata Atlântica no Parque Estadual Carlos Botelho

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Atualizado em 23/11/2019

Seguindo na busca por lugares eco-interessantes no sudeste brasileiro ainda não descobertos pelas grandes multidões, compartilho com vocês mais um achado, dessa vez em terras paulistas:  São Miguel Arcanjo!

E bota “eco” nisso! Dos cerca de 1.200 muriquis existentes no Brasil hoje, mais de  800 estão no Parque Estadual Carlos Botelho, um dos mais ricos em vida selvagem do Estado de São Paulo, bem ali no coração de São Miguel. Juntam-se a eles mais de 200 espécies de aves em 37 mil hectares de matas primárias e secundárias em franca regeneração. Paraíso.

Criado em 1981 a partir da unificação de quatro unidades de conservação (Carlos Botelho, Capão Bonito, Travessão e Sete Barras) o parque é a atração mais bacana de São Miguel e hoje é reconhecido oficialmente pela UNESCO como Sítio do Patrimônio Mundial Natural.

E Como todo bom parque estadual, o Carlos Botelho tem uma área bastante extensa, destinada à proteção de seu ecossistema, cuja finalidade é resguardar seus atributos naturais, conciliando a proteção integral da flora, da fauna e das belezas naturais com a utilização para objetivos científicos, educacionais e recreativos. E não é só: o Parque da Onça Parda e a Parque do Zizo são duas RPPNs vizinhas que valem a visita.

São Miguel sempre teve por principal atividade o setor agrícola, especialmente o cultivo de uvas e laranjas, tendo sido referência também na produção de algodão e carvão num passado não tão distante. Parte significativa do Carlos Botelho abrange, inclusive, uma extensa área que abrigava uma carvoaria, podendo ser avistados antigos fornos do início do século passado em algumas  de suas trilhas. Apesar de hoje ostentar o título de “capital da uva itália”, a vocação da cidade vem mudando rapidamente em direção ao ecoturismo. E é isso que fomos conferir!

parque estadual carlos botelho

Visitamos a região no feriado no feriado da independência de 2012 e retornamos em 2019 para ver como estavam as coisas. Curtimos demais tudo que conhecemos e revisitamos, a começar pelo povo, muito hospitaleiro e educado. O proprietário da pousada onde ficarmos da primeira vez, Seu Claudinei, muito simpático e atencioso, fez questão de verificar os restaurantes abertos para facilitar nossas refeições e deu todas as dicas para circular na região sem perder muito tempo.

Sua pousada, Villa da Mata, certamente é a melhor escolha da cidade. Possui 12 quartos simples, mas bastante confortáveis, todos equipados com televisores 20″, ventiladores de teto, roupas de cama e móveis novos. Destaque para o chuveiro a gás, excelente, além de um série de medidas ecológicas de economia de água e energia elétrica sem abrir mão do conforto para o hóspede. As diárias custam em média R$100,00 o casal, incluindo um café da manhã honesto e internet wi-fi de boa qualidade. Há ainda um bar que funciona todos os dias no período noturno e uma agradável sala de estar com lareira. Recomendo!

Chegar lá é fácil. Para quem vem de Sampa, basta pegar a Rodovia Castelo Branco até o Km 77 e sair em Sorocaba na direção da SP-75 (vulgo “Castelinho”). Dali, basta seguir placas de Votorantim/Salto de Pirapora/São Miguel Arcanjo, o que te levará a Rodovia Raposo Tavares (SP-270), que você seguirá até a  saída 102-B (placa de Salto de Pirapora). Dali roda-se pelos 70km mais charmosos e tranquilos da viagem até o trevo da cidade. São pouco mais de 2h (+-200km) no total, o que permite visitas tranquilas de fim de semana e até um bate-e-volta, dependendo da disposição.

A cidade carece, entretanto, de opções gastronômicas. Na sexta-feira, feriado, cansados da estrada e bastante esfomeados depois da visita ao parque, não encontramos nem um único restaurante aberto. O jeito foi saciar a fome na padaria Ja-pão (trocadilho espirituoso, já que o local tem decoração de inspiração nipônica) com um bom X-Egg e alguns refrigerantes. No dia seguinte, entretanto, fomos agraciados com a deliciosa comida caseira do restaurante Vem-Ká, localizado no centro da cidade. Lá a comida é vendida a quilo, bem baratinha e com “aquele” tempero caseiro.

Atualização 2019: o melhor restaurante da cidade é o Dom Pedro,  que fica aberto até mais tarde e serve pratos, porções, cafés e sobremesas de boa qualidade e preço convidativo. O local é agradável e virou referência na cidade, principalmente pelo chopp local Cervogia, famoso na região.

E foi aqui que tomamos nosso melhor espresso da viagem, quando voltamos à região em 2019 para fazer as trilhas das cachoeiras em Tapiraí. Espressinho bem tirado, aromático, tigradinho e por R$4. Não tem erro!

E vamos ao principal: o parque!

O Parque Estadual Carlos Botelho possui quatro trilhas abertas, sendo as três principais localizadas nas proximidades da sede, em São Miguel. A primeira, do Rio Taquaral,  tem apenas 4 km e pode ser feita seguindo as indicações das placas. Caminha-se sob a copa de árvores de mata secundária e nativa, no começo por mata fechada e sem visibilidade, porém da metade para frente margeando o belo Rio Taquaral. Apesar de bem demarcada, caminhando em silêncio você pode topar com pássaros realmente difíceis de se ver. Foi o primeiro passeio que fizemos, que de cara já nos fez adorar o lugar!

Outra trilha bacana é a Trilha da Represa, em franca regeneração, motivo pelo qual só pode ser visitada com a supervisão de monitores. Mas não torça o nariz: os guias do parque custam apenas R$10 por pessoa e enriquecem muito o passeio, identificando espécies da Mata Atlântica, apontando pegadas de animais (antas e gatos-do-mato são bem frequentes),  contando histórias locais e situando os visitantes sobre a importância da preservação do meio ambiente. Na mesma trilha há uma bifurcação que leva a Trilha dos Fornos  (mais 2km), onde se pode conhecer antigos fornos da carvoaria que funcionou ali em meados do século passado. Ali pertinho também está a entrada para a pitoresca trilha da Canela (2km), rodeada por caneleiras e lotada de pássaros e esquilos.

No núcleo Sete Barras (há 30km de estrada de terra do núcleo principal) a única trilha aberta para visitação é a da Figueira, de apenas 2 km, que leva a uma figueira centenária muito bonita e imponente. A visita ao núcleo secundário, entretanto, vale a pena pelas cachoeiras à beira da estrada e às que ficam próximas à sede do parque. Pergunte aos guardas da portaria que eles ensinam como chegar e até podem desenhar um mapa para você, especialmente no caso da Cachoeira do Travessão – muito bonita, mas um tanto escondida para quem não conhece a região.

Atualização 2019: a localização da Cachoeira do Travessão foi retificada no Google Maps e agora é possível chegar lá facilmente utilizando o navegador do Google. Chegando ao fim da estradinha de terra que sai da via principal, estaciona-se e a cachoeira está a uma curta caminhada de 300m. O poço para nadar tem bastante correnteza, não sendo indicado para crianças.

Na volta, paramos na vinícola Torre Alta, do Sr. Osvaldo Zori, que faz vinhos artesanais com uvas de mesa. Surpreendidos com a personalidade de seu carro chefe, um curioso tinto seco de uva bordô (sim, bordô!) lotamos o porta-malas com presentes para os amigos e partimos felizes de volta para Sampa. Apesar dos vinhos não serem finos, a visita é válida pelo local agradabilíssimo, pelos ótimos sucos de uva integrais por preços bastante atrativos e pelo processo artesanal de produção.

Ali pertinho, você pode almoçar no Mata Atlântica, que tem ambiente simples e descontraído, tempero caseiro e ótimos preços.

Que tal esticar?

As cidades de Tapiraí e Pilar do Sul, bem próximas e ainda pouco turísticas, também reservam boas surpresas para quem gosta de se aventurar em estradinhas de terra e apreciar a vida selvagem.

O mosaico de unidades de conservação, rodeado de fazendas de eucaliptos abandonadas (e pouco a pouco sendo retomadas pela natureza), as plantações de gengibre e a baixa densidade populacional tornam a região um prato cheio para quem gosta de observar pássaros e outros animais.

Em nossa visita à região, topamos com muitos tucanos, esquilos e até uma anta caminhando tranquilamente à beira d´água!

As cachoeiras do Alecrim, do Chá e do Beija-flor (dentro da área da incrível Pousada Salve Floresta) são as mais conhecidas. Fizemos também a Cachoeira do Limoeiro, a única que não fica em área particular. A cachoeira fica num local bem preservado e possui várias quedas d’água, com uma pequena gruta e uma piscina natural no último. No trecho final, a prefeitura instalou uma ponte pênsil de madeira para ajudar na travessia do rio, que ficava bem cheio no verão e podia causar acidentes.  Pra chegar lá, siga nosso roteiro no Wikiloc, estacione o carro no local apropriado, ande cerca de quinze minutos e desfrute do poço e suas várias quedas .

Foi na volta dessa cachoeira incrível que avistamos essa anta fazendo seu lanchinho tranquilamente.

Para ficar, opte pela Pegada da Onça ou pela Recanto dos Pinheiros, ambas de preço moderado porém muito confortáveis, com boa estrutura, café da manhã bem servido e uma pegada mais natural e descontraída. Se quiser  caminhar mais forte e puder pagar um pouco mais, a Pousada Salve Floresta é um eco-lodge dentro da uma RPPN com serviço de guia sete dias por semana, pensão completa e uma boa lareira para os dias mais frios. Todas as três têm piscina ao ar livre, wifi e sauna.

O pessoal do Mochilar ficou na Salve Floresta e relatou tanto a estrutura quanto as trilhas disponíveis no site. A pousada tem foco no birdwatching e costuma fazer promoções no Booking para baixa temporada , além do diferencial de não fechar pacotes obrigatórios para feriados prolongados, sendo possível ficar apenas um, dois ou todos os dias. Programe-se e aventure-se!



Parque C.Botelho: (15) 3379- 9391 pe.carlosbotelho@fflorestal.sp.gov.br
Rodovia Sp-139, km 78,4 – Bairro do Abaitinga – São Miguel Arcanjo-SP.
De segunda-feira a domingo das 8h às 15h.. Sábados e domingos 8h às 16h.
Blog do Parque
Site oficial do Município
Portal da Cidade
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