Rumo ao Sul: Dias 14 e 15 ( de Urubici a São Paulo, passando por Curitiba)

Três Estados num só dia seria o título para o capítulo final dessa epopéia pelo sul do Brasil, mas no fim da viagem optamos por fechar a conta de forma mais tranquila e quebramos novamente o trajeto. Basicamente, eram três a opções para deixarmos Urubici para trás em direção a São Paulo, lembrando que descartei a BR-116 pelas dicas colhidas de conhecidos e de sites diversos da internet:

a. Asfalto, em direção ao norte, com 2,5 horas de viagem pela SC-430, chegando à BR-282 e depois na região de Florianópolis, na BR-101 (171 km no total).;
b. Terra, descendo a Serra do Corvo Branco (49km até Grão Pará – em boas condições) e de lá para a BR-282;
c. Asfalto, em direção ao sul, descendo a SC-430, Serra do Rio do Rastro – SC438 até Lauro Müller e de lá para a BR-282;

Como já havia feito as duas serras no dia anterior, o mais racional seria seguir pela SC-430 mesmo, em direção ao litoral. Peguei um pouco de trânsito no trecho final, que conta com apenas uma pista e muitos caminhões, mas em geral a descida transcorreu muito bem e cheguei a altura de Floripa depois de cerca de três horas. De lá, foi seguir pela BR-101 até o Paraná, cruzar o Estado, atingir a BR-116 novamente e apontar em São Paulo no fim do dia. A viagem poderia ser feita de uma vez, já que Urubici-SC está a 872km da capital paulista, mas depois de uma viagem de mais de três mil quilômetros, achamos mais prudente quebrá-la e  acrescentar mais um dia a viagem.

Como Bombinhas-SC estava próxima demais e o tempo não ajudava (cerca de 18 graus na data da partida) acabamos optando por Curitiba-PR. Lá seria ideal para abastecer (De Joinville-SC a São Paulo são poucos postos de combustível), comer num lugar legal, acostumar-se aos poucos com o trânsito, dormir bem e chegar tranquilo e descansado a Sampa City no dia seguinte, pouco antes da hora do almoço.

Sem planejamento, esse trecho final acabou se revelando um pouco mais complicado, pois a referência que eu tinha de procurar um Centro de Informações Turísticas na mítica Rua 24 Horas atrapalhou nossos planos. Apesar de constar até hoje no site oficial de Curitiba (veja aqui) o emblemático ponto turístico está fechado para reformas desde 2007! Como estávamos tranquilos quanto a hotéis, pois o posto de informações do local nos daria todo o apoio, aproveitamos o final de tarde para conhecer a bonita Ópera de Arame e seu entorno. Chegando a tal Rua 24 Horas, já próximo do crepúsculo, tudo que encontramos foram mendigos, sujeira e uma placa indicando a reforma. Naquele horário, todos os postos de informação já haviam fechado (claro, porque o da Rua 24 Horas era o único que funcionava 24 horas!) e tivemos de procurar um hotel sem qualquer apoio ou indicação.

Os hotéis do centro estavam todos lotados por conta de congressos que aconteciam na cidade e isso dificultou bastante as coisas. Não conseguimos muitas informações com os habitantes apressados do centro (se o que queríamos era um retorno gradual à vida da cidade grande, estávamos conseguindo) e acabamos pegando o carro e rodando à esmo na hora do rush, à procura de um lugar decente para dormir. Salvou-nos o Hotel Siena, localizado na R. Desembargador Motta, 1181, na esquina com a Av. Silva Jardim. Diária honesta de R$80 o casal e à uma quadra do Shopping Curitiba, próximo também do Shopping Crystal Plaza, Shopping Novo Batel e do Estádio do  Clube Atlético Paranaense. O ótimo atendimento, o quarto limpo e o chuveiro quente foi tudo que aproveitamos do hotel, além do excelente jantar no Shopping Curitiba. Se passar pela metrópole, fique por lá. Carro em Curitiba no horário do rush não ajuda, então se for passear durante a semana, prefira a “Linha Turismo”, que nada mais é que um ônibus estilo “jardineira” que te leva a todos os pontos turísticos e sai a cada meia hora. Porém, confirme antes se ele ainda existe pelo telefone, para evitar lances chatos como o da tal rua que nunca fecha.

Na manhã seguinte, bora pra Sampa City. A cidade é bem sinalizada e é fácil achar a saída para a BR-116. Seguindo em frente, se tudo der certo, em menos de cinco horas já se chega a capital paulista.  O primeiro trecho de viagem é bastante tranqüilo e bonito,porém ao chegar em Miracatú o motorista terá de decidir qual caminho pegar. Vencer a Serra do Cafezal via Rod. Régis Bittencourt – trecho da BR-116 entre São Paulo e Santa Catarina passando pelo Paraná – hoje em dia não é fácil (há trechos que ficaram parcialmente interditados por meses entre 2009 e 2010). Melhor é margear a serra via litoral, utilizando o Sistema Anchieta-Imigrantes. Privatizado em 2008, esse trecho da BR116 está sob responsabilidade de uma concessionária que já tratou de espalhar seis praças de pedágio no trajeto, perfazendo quase R$10 de pedágio, eliminando a única vantagem de seguir pela serra em vez do litoral: a economia.

Não é caro, mas devido a péssima qualidade do asfalto, a grande quantidade de caminhões, a imensa falta de segurança em boa parte do trajeto e as péssimas condições da estrada, sobretudo na Serra do Cafezal (entre os Kms 228 a 253) essa opção não é uma boa. Siga pelo litoral, utilizando a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (sem pedágio) e pegando, ao final, o Sistema Anchieta Imigrantes. Fique atento à sinalização e evite ser pego pelos radares, distribuídos em ambas as estradas para fiscalizar quem ultrapassa os 80km/h. A quilometragem de quem opta por seguir pelo litoral é maior, mas a viagem é uma das mais tranqüilas, bem sinalizadas e seguras do país.

E é isso. Fim da epopéia, porta-malas cheio de comes e bebes, memória cheia de histórias e lembranças. Uma das trips mais bacanas, tranquilas e bonitas que já fiz na vida, totalmente compartilhada com vocês. Espero que tenham apreciado e que as dicas e informações lhes ajudem a viajar tão bem ou melhor que eu naquele inesquecível mês de maio de 2009.

Grande abraço,
Raulzito.

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Rumo ao Sul: Dia 12 ( Urubici – SC )

Deixamos o sul com alegria e ainda mais empolgados para ver as belezas da serra catarinense e compará-las com a gaúcha. Lages, no nosso caminho para Urubici, é uma cidade com altitude máxima de 1.200m, o que já indica a qualidade cênica e climática da região. Fundada em 1766 como pouso de tropeiros que vinham de São Paulo em direção ao sul, a antiga Lajes (cuja grafia era a correta) rivaliza com Urubici como atração da serra. Tempo curto, como a primeira tem seus mais de 160 mil habitantes e a segunda não passa de 11 mil, decidimos visitar a cidade menor, que é mais a nossa cara e combinava melhor com o espírito ecoturístico da trip. Outro caminho que liga a serra gaúcha a catarinense a chamada “Rota dos Campos de Cima da Serra”: toma-se a estrada Cambará do Sul – São José dos Ausentes, conhecida por suas péssimas condições de terra e cascalho, sendo a maioria dos trechos em condições muito ruins e intransitáveis em épocas de chuva. Em compensação a paisagem é linda, repleta de campos, animais selvagens, flores e mata intocada. No caminho, o Pico do Monte Negro, ponto mais alto do estado do Rio Grande do Sul, em local de difícil acesso, mas de beleza rara. Caso disponha de tempo, de um 4×4 ou fôlego para ir à pé, o caminho é obrigatório.

Urubici normalmente é fria para os padrões brasileiros, com temperatura média de 13 graus e mínima em torno dos 17 graus negativos. Pela proximidade de São Joaquim, esperávamos mais frio que no sul, mas o destino nos reservou agradáveis e inesperados 20 graus durante nossa estada por ali. Além da temperatura inusitada, surpreendeu-nos a resistência dos governantes da região em aceitar turistas autônomos, que não gostam de contratar guias turísticos tagarelas/despreparados e preferem explorar tudo sozinhos. À exceção da Cachoeira do Avencal, algumas grutas sem graça, cachoeiras distantes e pequenas como a Véu da Noiva e mirantes como o Morro do Campestre e a principal atração – o Morro da Igreja – mais nada pode ser feito sem guia, o que inclui o Canion do Espraiado, o Campo dos Padres, a Cachoeira Rio dos Bugres, a caverna de mesmo nome e o Parque Nacional. A todo tempo os funcionários municipais lembram que esses passeios tem de ser pagos e agendados, não informam como chegar nessas atrações e alertam para os perigos quase sobrenaturais de realizar passeios sozinho por esses locais. Não há placas, roteiros ou guias para essas atrações, apenas folhetos publicitários de agências e guias que fazem os trajetos. Opção simples e barata em vez de sinalizar o local e confeccionar mapas para as atrações, nem todas tão isoladas e perigosas assim. Descartamos.

A Cascata do Avencal é a atração mais próxima do centro. Chega-se facilmente (e de carro) à parte de cima da cachoeira, local com uma visão interessante da serra e da queda, que normalmente cobra entrada (vimos placas) mas tinha guarita e estrutura abandonados em maio de 2009. Há trilha para descer à base da cachoeira que não tem sinalização (nem guias para conduzir, nessa época). Vale a pena passar por lá e depois conferir as inscrições rupestres no entorno, também não sinalizadas, mais ou menos 5km à frente na mesma estrada.

A atração principal, imperdível, é o Morro da Igreja, ponto mais alto e frio da região. Para chegar, saindo da cidade enfrenta-se 10km de estrada de cascalho tranquila e mais 16km de bom asfalto até a entrada da base militar do CINDACTA que fica no topo. De lá, avista-se a Pedra Furada, curiosa formação geológica em torno de paredões cobertos de bonita vegetação e rochedos imponentes. Dali é possível andar bastante no entorno, tirar fotos dos paredões e conferir a beleza da serra. Uma hora de caminhada é o suficiente para explorar todo o morro fora dos muros do exército. Vá cedo para evitar hordas de turistas, inclusive excursões escolares que freqüentemente levam as crianças de escolas próximas para conhecer e aprender mais sobre a região. Para descer à Pedra Furada, só com guia e nem tente perguntar: não há como chegar sem conhecer a região. Não duvidamos disso e já cansados da trip, deixamos para outra ocasião.

Para comer, recomendo a Pizzaria Cor da Fruta (Rua Adolfo Konder, 651) que serve a la carte e rodízio. O rodízio custa R$13 e tem ótima  qualidade, muito superior a várias pizzarias a la carte por aí e melhor que todas as que atendem em rodízio que já frequentei. Duas peculiaridades: o proprietário é viciado em Pendragon (trilha sonora rara para uma pizzaria) e o rodízio na baixa temporada é feito a pedido: você escolhe a pizza que deseja e quando ela chegar, em formato brotinho, já escolhe o próximo sabor e assim sucessivamente, sem esfriar a pizza ou correr o risco de só aparecerem sabores desinteressantes. Outra atração é a truta na chapa do Zeca´s Bar (Rua Adolfo Konder, 522) com buffet variado, aberto até meia-noite.   Para ficar, escolhemos uma opção barata e simples: Pousada Café no Bule, bem localizada, com cama box, suítes, tv e café da manhã por R$85 na baixa temporada. O café da manhã é razoável e por incrível que pareça: não tem café no bule, só solúvel. rs

No dia seguinte, um dos mais belos trechos rodoviários do país: Serra do Rio do Rastro e Serra do Corvo Branco!

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Rumo ao Sul : Dia 11 ( Bento Gonçalves – Urubici )

Entre Bento Gonçalves-RS e São Paulo-SP são longos e cansativos 1026km. Vencido 1/3 do caminho está  Urubici-SC, a exatos 872km da capital paulista e a 167km de Florianópolis-SC. Para quebrar a viagem de volta, você pode escolher qualquer cidade do litoral catarinense – como a capital Floripa – ou alguma coisa na serra, como a sede do Parque Nacional de São Joaquim. Aí depende do fôlego, da grana, da vontade e do interesse. Como na ida ficamos em Bombinhas e o tempo estava horrível (maio/2008), descartamos Floripa por causa do trânsito e optamos por Urubici, que fica a meio caminho entre a serra e o litoral, porém ainda bem longe de São Paulo.

Não fomos pelo interior pela quantidade enorme de advertências dadas por conhecidos e obtidas na internet. Todas falavam no quão cansativa é a viagem entre as serras gaúchas e catarinenses em direção ao Paraná, por causa das inúmeras curvas, grande quantidade de caminhões, trechos longos em pista simples e a falta de sinalização da BR-116. E pude confirmar tudo isso em todo o trajeto de BG a Lages, bastante cansativo, apesar de muito bonito. Demorei uma manhã inteira para percorrer a BR até Lages, depois peguei a BR-282 em direção a Bom Retiro e por fim a saída à direita para a SC-430, que leva a Urubici nos últimos 19km. Achei que foi uma boa escolha: a região de Urubici é linda e os roteiros rodoviários da Serra do Corvo Branco e da Rio do Rastro são de uma beleza cênica incrível. Adiante, mais detalhes.

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