Petrolina e Juazeiro : Guia Completo com Dicas e Roteiros pelo Vale do São Francisco

“Um rio, meus amigos, é profundo como a alma de um homem.
Na superfície, são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros, como o sofrimento dos homens”.
Guimarães Rosa
 
E é por causa do Velho Chico que eu caí pra esses lados quando planejei a viagem para o Parque Nacional da Serra da Capivara, em 2016. Pesquisando num site aqui e outro ali, conversando com amigos que já foram e assistindo a alguns documentários na TV, entendi que o percurso mais interessante para atingir o sertão do Piauí seria partir não da capital daquele Estado, mas sim da ilustre capital do São Francisco pernambucano – Petrolina – e sua vizinha baiana – Juazeiro.

Petrolina, cujo nome homenageia o Imperador Dom Pedro II (ou não) fica às margens do Rio São Francisco, distante 712 km a oeste da capital Recife. O Quinto maior município do Estado e o segundo do interior pernambucano, tem uma temperatura média anual de 34,5 °C  e uma história bonita, que remonta a 1870 quando o capuchinho italiano frei Henrique missionava para ribeirinhos e resolveu construir uma capela dedicada à Nossa Senhora Rainha dos Anjos, criando-se a partir dela o povoado onde hoje se localiza a sede municipal.  Município desde 1895, Petrolina detém o melhor índice de saneamento básico do Nordeste, é a capital do enoturismo naquela região, possui bares, restaurantes, parques, zoológico e artesanato de qualidade, constituindo um importante polo de lazer e diversão aos visitantes.

Definitivamente, sua localização privilegiada junto ao São Francisco foi decisiva na construção da fama. O grande rio de 2.863km de extensão corta cinco estados e nessa região é determinante para Petrolina como polo produtor de frutas para exportação e vinhos de qualidade.  Ainda desconhecidos do grande público, os grandes vinhos do semiárido nordestino são uma jóia rara genuinamente nacional, produzida em suas contradições justamente debaixo de sol incessante que raramente recebe a visita da chuva. Utilizando um inteligente sistema de irrigação por gotejamento com as águas do Velho Chico, a região do Vale do São Francisco surpreende ao conseguir o dobro de safras que a maioria das vinícolas de clima temperado como o do sul do país alcança, produzindo quase três vezes mais vinhos de qualidade na caatinga quando comparadas às tradicionais vinícolas gaúchas.

 

Mais roots, a vizinha Juazeiro complementa a viagem com muita cultura e romantismo. Conhecida como a Terra das Carrancas (e da Ana das Carrancas), figuras antropomorfas que adornam embarcações no rio São Francisco, seu nome se origina da árvore do juazeiro, natural do sertão nordestino. Desse lado do Velho Chico já estamos na Bahia, no ponto exato onde ocorria, nos primórdios do Brasil, o cruzamento de duas importantes estradas: a via fluvial pelo grande rio, única ligação do norte ao sul do sertão; e a terrestre, aberta pelos bandeirantes paulistas em busca de riquezas.

A cidade começou mesmo numa missão franciscana do século XVII, que chegou para catequizar os índios da região, ergueu um convento, construiu uma capela e assim foi crescendo até tornar-se cidade em 1878. De seu porto, partiam as embarcações conhecidas como vapor, levando à diversas cidades baianas e mineiras, inclusive Minas Gerais, ligando a região à antiga capital do Rio de Janeiro. Mais tarde, a via férrea que funcionava a partir de Juazeiro rumo a Salvador ficou famosa por aparecer nos filmes sobre o cangaço e nos livros que narraram a Revolta de Canudos, eclodida a cerca de 150km de Juazeiro. Recomendo, aliás, dois grandes romances do Século XX sobre o assunto: Os Sertões, de Euclides da Cunha e A Guerra do Fim do Mundo, de Vargas Llosa.

Não é tão hype, não tem brigadeiro gourmet, mas Juazeiro também tem suas atrações turísticas  para obrigar o turista de Petrolina a cruzar a ponte. A cidade possui uma orla fluvial bastante simpática, o famoso navio “Vaporzinho”, um Museu dedicado ao Velho Chico, a portentosa Ponte Presidente Dutra que liga as duas cidades, a Estátua Nego D’água que exalta o folclore local, além de diversas vinícolas também visitáveis, já à porta do sertão com muita caatinga e cachoeiras escondidas. Por falar em vinho, é dali que sai o famoso Vapor do Vinho, que ultimamente tem atraído até turistas europeus dada a fama dos ilustres espumantes da região.  Apesar de a vizinha Petrolina ter uma cara mais amigável e moderna, Juazeiro tem em sua bela orla, especialmente à noite, o “filé” da região.

Utilizando as cidades como primeira base para explorar a região antes de partir para o sertão em direção ao Piauí, me surpreendi muito com a qualidade e diversidade das atrações, que vão desde bares pé-na-areia, banhos de rio e vinhos deliciosos, à trilhas na caatinga, dunas de rio e uma cultura fortíssima, que se traduz numa gastronomia autêntica e artesanato bastante original.

Quando ir

Como a atração principal da dobradinha Petrô-Juá é o Velho Chico, a grande dica é cair praqueles lados quando o rio está mais bonito: entre julho e outubro. Nessa época não chove e as águas estão límpidas, com um azul belíssimo nos dias mais claros. E é exatamente nesta época que região da Serra da Capivara reúne também as melhores condições do ano para trilhas e observação da fauna local.

Não há, entretanto, impedimento para visitar a região em qualquer outra época. Ainda estarão lá as excelentes opções gastronômicas, os vinhos, os passeios e a paisagem. Talvez um pouco de chuva ou calor excessivo, nos primeiros e últimos meses do ano, tornem a viagem um pouco mais aventuresca, mas sem inviabilizar a curtição e a maioria dos deslocamentos.

Onde Ficar

Petrolina é uma cidade grande, com rede hoteleira muito variada e destinada a todos os bolsos e gostos. Dentre os hotéis três estrelas da cidade, a concorrência é acirrada.

A opção mais em conta atualmente é o Real Hotel, que proporciona uma noite tranquila e está próximo de supermercados, bares, padarias e restaurantes mais em conta, mas fica longe da orla e é bastante simples. Para os fãs, o Ibis Petrolina fica próximo ao Shopping, ao Museu do Sertão e aos prédios públicos da cidade, mas tem preço de diária muito próximo ao bastante superior Petrolina Palace, certamente o melhor custo-benefício atualmente.

Optamos por este e aprovamos a escolha, principalmente pelos quartos amplos, confortáveis e espaçosos, com uma bela vista para o Rio. A estrutura do hotel é antiga (1989) mas está sendo reformada aos poucos, contando com estacionamento seguro e uma boa piscina com cascata que fica num ambiente arborizado e agradável, ideal para aplacar o forte calor nos fins de tarde pós-passeios. O café da manhã estava muito bom e variado, ar-condicionado e wifi funcionaram bem durante toda a estadia e o atendimento geral do staff foi eficiente, solícito e cordial. O melhor é a localização: bem na orla, sendo próximo à farmácias, bares e restaurantes.

Vale a pena dar uma olhada também no Quality Petrolina, que agora chama-se Nobile Suites, também com vista para o Velho Chico e diversas opções de lazer, num ambiente mais moderno e requintado e diárias quase sempre mais caras, porém com boas promoções na baixa temporada.

Quanto tempo ficar

A clássica pergunta! Petrolina e seus arredores têm atrações suficientes para pelo menos uma semana, se você não tiver pressa para conhecer todas as suas belezas e possuir uma curiosidade aguçada para atividades diferentes.

Eu fiquei em Petrolina por cinco dias inteiros antes de partir para o  Parque Nacional da Serra da Capivara, meu destino principal, voltando uma semana depois à região. Nesse tempo conheci uma das ilhas, uma das vinículas, aproveitei os principais restaurantes e curti com calma a paisagem do Velho Chico. Ou seja, Petrô-Juá cabe num feriadão, mas certamente pode ser um destino de férias de uma semana ou mais, caso você se apaixone pelo sertão.

A seguir narro as experiências que tive, comentando os diversos pontos de interesse que visitei e arredores. Assim, a narrativa fica mais completa e ao mesmo tempo vocês podem entender o contexto em que visitei as atrações.

Roteiro de Cinco Dias – Petrolina/Juazeiro e Arredores

Primeiro Dia 

Chegamos à região no voo da Avianca de Sampa a Petrolina, com duração média de 5h, já contando com a parada em Recife. Aterrissando na hora do almoço, pegamos o carro alugado na Movida do aeroporto (preço mais barato na pesquisa feita pelo Rental Cars) comemos qualquer coisa na região do nosso hotel  e partimos para o Parque Zoobotanico da Caatinga no Batalhão do Exército, que fica na Av. Cardoso de Sá, S/N, região militar no lado leste da cidade. A portaria não estava identificada quando estivemos por lá, mas basta usar como ponto de referência a mais próxima da Lanchonete Clube 81, do outro lado da rua.

Aberto de terça à domingo, com entrada gratuita das 8h às 17h, o zoológico é bem grande, abriga mais de uma centena de animais da caatinga,  dentre eles : serpentes, jacarés, tartarugas, caititus, araras, macacos, carcarás, asa brancas, raposas e onças, num ambiente amplo, confortável, seguro e bem sinalizado. A única exigência para visitação é estar de sapatos fechados e calças compridas, sem exceção. Um soldado nos acompanhou de perto na visita, fazendo (poucos) interessantes apontamentos em algumas jaulas. Não sou um fã de zoológicos, mas este aqui merece ser visitado por não adquirir espécies, apenas mantê-las quando resgatadas do comércio ilegal quando não podem por qualquer motivo voltar para seus lares. Vale a visita!

Na saída, já ao final da tarde, fomos conhecer a Oficina de Artesãos Mestre Quincas, no final da mesma avenida (perto da rotatória do Monumento do Centenário). Lá abre de segunda a sábado das 8h às 17h). A grande sacada aqui é assistir ao trabalho manual dos artesãos na peças trabalhadas em madeira que resultam em utensílios para casa e e belíssima arte sacra. Sem dúvida, um dos grandes exemplares da cultura nordestina do artesanato, que merece ser visitado, apesar dos preços pouco populares. O local é simples, mas possui amplo estacionamento e fica numa região cheia de bares e restaurantes para todos os bolsos, ideais para relaxar ao final do primeiro dia de trip. Fica por ali o disputado EleEla, que serve caldos e petiscos à preço justo, sendo esta sua primeira chance de experimentar uma boa macaxeira com bode em porção menor e mais em conta. Se gostar, meu amigo, está perdido! Petrolina é o paraíso caprino.

Já falei sobre a carne de bode no guia da Serra da Capivara, mas nunca é demais lembrar que a carne de bode é muito nutritiva e uma das mais saudáveis do Brasil, dado seu baixo teor de gordura. O sabor é mais acentuado que o bovino ou o suíno, mas quando bem feito o bode surpreende os paladares mais desconfiados. Uma iguaria do sertão nordestino que merece ser provada.

Segundo Dia

Acordamos por volta das sete horas para dar uma boa olhada no Velho Chico e curtir com calma o café da manhã regional do hotel. Já debaixo de forte calor, antes das 9h saímos para o Balneário das Pedrinhas, localizado a 30Km à leste do centro de Petrolina, margeando o rio.

Trata-se de uma antiga aldeia de pescadores, assim nomeada por conta das pequenas pedras arredondadas que formam seu calçamento. Dezenas de bares e restaurantes com arquitetura padronizada pela prefeitura estão ali localizados, com mesas e cadeiras pé-na-areia, formando um ótimo local para um bate-papo, cerveja gelada e peixe fresco. Durante a semana o local é silencioso e permite até mesmo ler um livro entre um mergulho e outro nas águas mornas do Velho Chico, mas espere bastante movimento nos fins de semana e feriados. Como era uma sexta, curtimos uma boa caminhada e passamos uma manhã bastante agradável, saindo de lá logo após o almoço.
Dica: seguindo uma preciosa informação obtida com um camarada, paramos no caminho para conhecer um local chamado pelos nativos de “Mirante do Serrote do Urubu” (serrote, aqui, como sinônimo de “morro”, foto acima). Na mesma Estrada pra Pedrinhas, saímos à direita na altura do km 15, onde fica uma pequena igreja branca, numa estradinha de terra que segue paralela à estrada principal por 1km. Deixamos o carro estacionado e subimos a pedra à direita, onde havia alguns moradores apreciando a vista.  O local é bem bacana e mereceu nova  visita ao fim do dia, para curtir o pôr-do-sol. Se você tiver tempo, sugiro dar uma caminhada pela serrinha, curtindo o  visual e até mesmo cair na água lá embaixo, aproveitando a tranquilidade do local pouco divulgado e sem sinalização.  Como havia moradores locais, me pareceu bastante seguro transitar por ali.
Com horário agendado às 14h na Vinícola Rio Sol, tiramos apenas algumas fotos e voltamos para o carro me direção à Lagoa Grande-PE, viagem de 60km que dura cerca de 1h em ótimas condições de asfalto a partir da orla de Petrolina. Chegamos exatamente no horário, fomos muito bem atendidos e curtimos bastante tudo por lá, especialmente por tratar-se de uma sexta-feira em setembro, quando havia pouca gente na visita. Conhecemos os parreirais, com uma gostosa explanação sobre as uvas, processo de cultivo, técnicas desenvolvidas e até pudemos provar vários cachos de uva e identificar suas diferenças. Daí o passeio foi para a fábrica, onde foi apresentado o processo produtivo da colheita ao envase, conhecemos a Sala de Barricas, onde os barris com as bebidas são armazenados na temperatura ideal e sob rigorosas condições sanitárias, para fechar o passeio na degustação na Adega, onde pudemos experimentar todos os exemplares cultivados na Santa Maria, inclusive o famoso Paralelo 8,

exemplar tinto mais famoso da Rio Sol. Na loja, vinhos com preços mais amigáveis do que os de varejo, especialmente para os famosos Rio Sol, Paralelo 8 e Vinha Maria.

Alternativamente, é possível agendar um passeio completo, que conta com transporte desde o centro de Petrolina, contempla o passeio citado e ainda um tour de catamarã pelo Velho Chico, sendo servidos os espumantes da marca durante o trajeto, que oferece com parada para banho e música ao vivo, além de um almoço ao final do trajeto. Há uma profusão de videos no Youtube mostrando como é o passeio, sendo uma boa introdução para quem não tem ideia de como funciona.

A Vitivinícola Santa Maria da Rio Sol fica aberta para visitação de 2ª à 6ª  às 9h e às 14h  (sábados e feriados, apenas às 9h30) que devem ser previamente agendados aqui. Consulte no site sobre os  preços, dias e horários dos pacotes que incluem passeio de barco, almoço ou apenas a visitação, que variam conforme a época do ano.  Há outras vinícolas na região que também oferecem passeios e tours, que você pode conhecer aqui.  Faz bastante sucesso também a Fazenda da Miolo, que fica em Casa Nova-BA, na direção oposta, também a cerca de 1h de viagem. Ambas corretamente indicadas no Google Maps e no Waze.

Fechamos o dia no Bodódromo, um singular complexo gastronômico com restaurantes especializados em carne de bode e carneiro, com ambiente descontraído, opções climatizadas ou ao ar livre, bastante animado naquele fim de semana. Preços excelentes, comida regional farta e saborosa. Imperdível!

Terceiro Dia
Aqui, provavelmente a dica mais valiosa que este blog pode dar sobre a região: as Dunas do São Francisco! Preste atenção nesse roteiro: saindo de Petrolina na BR235 em direção à cidade de Casa Nova-BA, você roda cerca de 60 km. Repare quando acabam as casas de Casa Nova em direção à Remanso- BA, contando exatos 28 km até na entrada, à esquerda da pista, numa estradinha de terra avermelhada, cascalhada, conhecida pelos locais como “Estrada do Carroçal”. Note que marcar a quilometragem é essencial, pois não há qualquer placa indicando a entrada, apenas uma casa com uma árvore na frente, logo após um outdoor comercial, ambos do mesmo lado esquerdo da pista (marquei a entrada no google maps, bem como salvei o roteiro/mapa completo no wikiloc). Seguindo por este caminho, haverá uma bifurcação onde se deve pegar a esquerda e rodar por volta de 20km até o início das Dunas. Se estiver na época de chuvas, já próximo das dunas, haverá um pequeno desvio que evita um pequeno trecho alagado, sendo que ambos os caminhos terminam num descampado utilizado pelos locais para estacionamento dos carros não traçados.  Basta subir a duna à pé e você já terá uma bela visão de uma imensa praia de areia branquinha, banhada pelo velho Chico, com apenas duas barracas que comercializam porções simples e cerveja, mas que só abrem aos fins de semana.
Não há infraestrutura de banheiros, telefone ou camping no local. Apenas algumas ruínas da “antiga Casa Nova”, que foi inundada para a construção da barragem de Sobradinho há mais de quarenta anos. Leia mais sobre o assunto aqui. O cenário é belíssimo, sendo a praia muito gostosa para caminhar e nadar. Durante a semana o local é deserto, mas chega a juntar 40, 50 carros aos fins de semana e feriados, quando famílias se dirigem ao local para fazer churrasco, acampar e curtir a natureza.
Como chegamos bem cedo, passamos a manhã toda caminhando, comemos um lanche e de lá fomos caçar a Cachoeira do Salitre. Voltando para Petrolina, basta sair em Juazeiro para a BA-210, sentido Sobradinho (BA), rodando cerca de 23 km, até a curva do tipo cotovelo à direita. Ali, saia à esquerda com cuidado para seguir em frente, na BA-144 , em direção ao Distrito do Junco, por uns 10 km até o trecho em que a estrada torna-se terra. A partir daí são cerca de 25 km até a única bifurcação do caminho, onde tomando-se à esquerda, passa-se por uma ponte, a estrada sobe um pequeno  morro e aparece um riacho, logo ao lado de uma clareira onde se pode estacionar (hoje já marcado no Google Maps aqui).  Dali caminha-se um pouco e logo você chega à Cachoeira da Gameleira, outro nome pelo qual o pessoal do Junco a conhece. Note que a estrada vai ficando progressivamente ruim, mas é totalmente executável, mesmo para carros baixos. Rodar por ali é uma experiência incrível, pois você adentra comunidades do sertão baiano, vendo a vida como ela é naquela região. Rende muitas fotos, sensações, aprendizado e também um pouco de emoção.
A cachoeira mesmo, não é tão grande, nem tem um poço tão profundo e vive cheia de gente, mas garanto que só a jornada até ali já vale o esforço. E se você quiser mais (cheque o nível de combustível) siga por mais exatos 25 km (uma meia hora de estrada) até encontrar um portão de madeira do lado esquerdo da estrada (aqui também não há sinalização), passe por ele, siga com cuidado pela estrada de terra que segue paralela à estrada principal, e depois fazer uma curva à esquerda, você chegará a um descampado, que pode ser utilizado para estacionar o carro e caminhar alguns minutos até a entrada da Gruta do Sumidouro (também já marcada no Google Maps aqui). É uma trilhinha curta, agradável, por um caminho repleto de bananeiras e um riacho que penetra pela boca da caverna, espelhando as estalactites e dando aquela quebrada no calor. Realmente uma surpresa encontrar um local assim no meio do sertão!
Esgotados, chegamos à Petrolina já depois do pôr-do-sol, com o tanque de gasolina no vapor… mas felizes pelo dia cheio de aventuras e belas paisagens. Tomamos aquele banho e depois de descansar um pouco, fomos caminhar pela orla do São Francisco.
Por ali mesmo, experimentamos o famoso Restaurante Capivara. A casa é climatizada, tem ambiente aconchegante, utiliza pratos e cerâmicas da Serra da Capivara, tem amplo cardápio de cozinha nordestina e pratos fartos (os de dois, servem bem três pessoas!). Pedimos um caldo de feijão de entrada (saborosíssimo!) um prato de surubim ao molho de ervas (sabor incrível –  foto acima) e de sobremesa o famoso bolo de rolo de goiaba. A conta passou um pouco dos R$100 mas valeu cada centavo. Há muitas alternativas na orla, que vão desde barzinhos mais simples a restaurantes requintados dento de hotéis e com vallet na porta. Vale a pena caminhar por ali, ver tudo com calma e curtir a paisagem, tanto de dia quanto de noite.

Quarto Dia

Dia de conhecer uma das maiores atrações de lazer do local: a Ilha do Rodeadouro! A mais famosa dentre as várias ilhas/balneários do São Francisco, a Ilha do Rodeadouro é a mais movimentada e estruturada de todas. Para chegar ao local, basta seguir pela Estrada da Tapera, acessível ao final da orla sul da cidade, até chegar aos pontos de travessia. O acesso mais conhecido fica ao lado do famoso restaurante Carranca Gulosa, de frente para Velho Chico.

A travessia de barco custa R$7, acontece das 8h até as 18h, em intervalos de 10 minutos. Apesar de a travessia demorar menos de cinco minutos, todas as barcas são equipadas com coletes salva-vidas e boias, com conforto e segurança.

O principal atrativo da ali é o banho de rio e a caminhada pela areia da ilha, para contemplar a bela paisagem (“Eu, Tu, Eles” – filme do ano 2000, foi filmado ali!). Ficamos nessa por toda a manhã, escolhemos um dos 32 restaurantes e almoçamos um peixe delicioso. Os restaurantes preparam pratos com carne bovina, de bode e de sol, mas sua especialidade são mesmo as receitas com peixes regionais de água doce, como o surubim maitê (peixe grelhado, temperado com ervas finas e acompanhado de risoto de camarão e purê de banana da terra) e o tambaqui assado na folha de bananeira (acompanhado de arroz, feijão tropeiro e vinagrete). Fomos de tambaqui e curtimos muito o prato, que custou R$50 e poderia servir tranquilamente 3 ou até 4 pessoas. A cerveja gelada e as caipirinhas de frutas regionais também são uma atração à parte. Para quem come pouco ou quer economizar, há PFs honestíssimos por R$35, bem servidos e preparados com peixes variados.

A Ilha do Rodeadouro fica aberta todos os dias e sempre tem ao menos meia dúzia de restaurantes abertos. Como opção, as Ilhas do Fogo e do Massangano também são boas escolhas.  A primeira não têm comercialização de alimentos e abre apenas aos fins de semana, mas é bom ponto para observar o movimento da ponte e curtir o pôr-do-sol. Já a segunda, a maior de todas, abriga uma comunidade muito interessante, onde rola uma tradição centenária chamada “Samba de Véio”.

A dança remete ao grupo de tocadores e dançarinas com saias rodadas e panos floridos nas cabeças, que gingam um samba ao redor de uma fogueira ao som de batuques no tamborete, cavaquinho, pandeiro e triângulo (leia mais aqui). Na ilha, algumas trilhas em meio a natureza e banho de rio são as atrações. Os moradores não se importam com mochileiros que acampam na praia, desde que não deixem lixo.

Para acessar a Ilha do Fogo, vá até a Ponte Presidente Dutra
e estacione na borda, que fica aberta das 6h às 18h em fins de semana e feriados. A Ilha do Massangano é alcançável também pela Estrada da Tapera,  de barco por cerca R$7 o trecho, das 8h às 18h. Fica na “travessa do boinho”, uns 10km do início da estrada. Infelizmente, não tive tempo para encaixá-las no meu roteiro, mas recebi boas recomendações.

À tarde, nossa programação incluía conhecer a Fundação Museu Regional do São Francisco e o  Museu do Sertão, mas ambos estavam fechados. Atualização: em agosto de 2018 ambos já estão funcionando. O Museu do Sertão foi reaberto para comemoração dos 45 anos de sua fundação, funcionando  de terça a sábado entre 9h e 17h e aos domingos, das 9h às 14h (telefone 87-3862-1943) e o Museu Regional segue em horário restrito, apenas de segunda à sexta, entre 8:00h e 13:00h.

Sendo assim, aproveitamos para curtir a piscina do hotel até o pôr-do-sol e à noite batemos um incrível sanduíche de carne de sol com queijo coalho e melaço no Café de Bule. Pois é… só pelo nome você já pode adivinhar que eu não escolhi o local pelo lanche…

A charmosa cafeteria tem mais de 20 opções de bebidas com café, lanches, petiscos, sorvetes, caldos e pratos rápidos que utilizam ingredientes regionais com bastante criatividade e preços medianos. E foi dali o espresso mais bem tirado de toda a viagem: doce, encorpado, com crema perfeita e bastante aromático.  (R$5). Vai :  Rua Antônio Santana Filho, 353.  Abre de segunda a sexta, das 14h às 22h; sábado, das 16h às 22h e domingo, das 17h às 22h.

Quinto Dia

Nosso último dia completo na região deixamos para conhecer a famosa Barrragem de Sobradinho. Situada no Município homônimo, a Usina Hidrelétrica de Sobradinho fica  a cerca de 40 km de Juazeiro, contando com um imenso reservatório de 320 km de extensão – um dos maiores lagos artificiais do mundo – com um visual que impressiona pela vastidão geográfica e pelo porte da obra.

No local, além da usina, há uma eclusa de 120x17m, que permite às embarcações subirem e descerem do rio ao lago, vencendo os mais de 30m de desnível. Indo de carro, você pode estacionar nos locais sinalizados como apropriados, na própria barragem, aproveitando para assistir aos barcos passando, dar um mergulho (há umas escadinhas escondidas ao longo da estrada, que se você procurar com calma, encontra sem dificuldade), tomar uma cerveja comercializada pelos ambulantes ou simplesmente curtir o visual.

Ao lado da usina, você avistará um morro que proporciona uma visão panorâmica belíssima, mas não tem sinalização para subida. Entretanto, basta olhar com calma e pegar a estradinha de terra à direta da saída da barragem, dirigindo sempre em direção às pás eólicas, sempre subindo, sempre à esquerda. O Morro do Cruzeiro está identificado no Google Maps, apesar de a estradinha não estar, mas  a estrada é boa, qualquer veículo sobe e vale a pena o esforço, mesmo que você precise dar algumas voltas antes de se encontrar. Se preferir, deixe o carro na usina e siga à pé, com o devido suprimento de água. A caminhada leva cerca de 1h.

Próximo dali, com indicação na estrada, fica o restaurante Tilápia na Brasa da Kel, que além do prato que dá nome à casa, serve uma famosa coxinha de tilápia que faz sucesso entre os locais. Só funciona de quarta à sábado na hora do almoço, o que infelizmente inviabilizou minha visita.

Aproveite que está na região e volte à BR-235, seguindo em direção à Santana do Sobrado. Passando a cidade, alguns quilômetros depois você encontrará a Vinícola Terra Nova, de propriedade da Miolo.  A fazenda se dedica à elaboração de espumantes, vinhos jovens e frutados e de um delicioso suco de uva integral. Em função do solo e do clima, assim como na Rio Sol que falei lá no começo, ali também são colhidas duas safras anuais e os vinhedos são irrigados pelo sistema de gotejamento, com as águas do Rio São Francisco.  Agende sua visita no site e verifique as atividades disponíveis na época em que você estiver por lá.

Com o dia cheio e de muito calor, o fim de tarde foi de descanso, seguido de um bom açaí numa das barracas da orla de Petrolina e  c-a-m-a.

Sexto Dia 

Acordamos cedo, tomamos o mais uma vez o ótimo desdejum do hotel Petrolina e caímos na estrada em direção ao Piauí, para conhecer o Parque Nacional da Serra da Capivara em São Raimundo Nonato.

Passamos uma semana por lá, curtindo as belezas e a cultura da região, voltando a Petrolina para dormir mais uma noite e pegar o avião de volta para casa.

Tudo sobre como ir e voltar para o Piauí, todas as maravilhas, perrengues e dicas sobre São Raimundo Nonato, o Parque Nacional da Serra da Capivara e o Parque Nacional da Serra das Confusões, você encontra aqui. Para saber por que eu fui lá, clique aqui.

Pois bem, exaustos pela viagem de volta, resolvemos jantar em Juazeiro, coisa que não havíamos feito na primeira passagem. E lá fomos nós explorar a orla, depois de estacionar numa das travessas meio escuras que encontramos por ali.

Nossa escolha dentre os vários barzinhos e restaurantes, foi a Pizzaria Cais do Porto, que faz as redondas com massa média e recheio farto, a preços módicos. O grande barato do local é que além do (pequeno) salão é possível sentar-se nas mesinhas na calçada do outro lado da rua, de frente para o São Francisco, que à noite fica iluminado pela orla de Petrolina, refletindo a silhueta dos prédios em suas águas. A cerveja gelada e a brisa que bate no local são perfeitas para curtir a noite com qualidade.

Depois de jantar, aproveitamos para caminhar pela orla, que nos pareceu bastante segura nos trechos em que há bares e restaurantes. E não é que a  atividade, despretensiosamente, nos brindou com uma cena inusitada? Um pouco afastado da agitação dos bares, um antigo Uno Mille estacionou ao nosso lado. De dentro, saiu um casal que montou uma mesinha improvisada com uma toalha branquíssima, um balde de gelo e um espumante.  Duas taças, uns queijinhos e os dois curtindo juntos a vibe super sossegada daquele riozão maravilhoso. Paramos nós também, durante um tempo, para olhar as estrelas e contemplar o rio noturno pela última vez. O casal, na simplicidade e alegria deles, também parecia aproveitar o momento.

Espero que esse texto tenha servido de inspiração para quem chegou até aqui. E se você chegou, tenho certeza de que se interessou por fazer essa viagem diferente, que mistura sertão e cidade, água e areia, paz e curtição.

Fiquem a vontade para tirar dúvidas no campo dos comentários e aproveitem a dica de leitura abaixo, de um dos maiores escritores e especialistas em sertão que esse país já teve. Um ótimo companheiro de viagem.

Grande abraço e boas viagens!

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15 comentários em “Petrolina e Juazeiro : Guia Completo com Dicas e Roteiros pelo Vale do São Francisco”

  1. Sou de Recife e estarei indo a Petrolina próxima semana, e a procura de roteiros para seguir na região percebi que quase não existe relatos como o seu. Gostaria de agradecer pelo detalhamento das informações.

  2. Legal o post, eu moro aqui há cinco anos e ainda não fiz nem metade desses roteiros (risos, o calor me vence).
    O Restaurante Capivara continua maravilhoso, mas sugiro que atualizem o post pois os preços já mudaram há um tempo.
    Abraços 🤗

    1. Olá Wladimir, agradeço a visita e ainda mais o comentário! Gostaria muito de voltar à região, privilegiados vocês que podem contemplar o São Francisco todos os dias, mas o mundo é grande e eu ainda não tive essa oportunidade. Se puder contribuir, ajude os demais leitores com alguns preços atualizados que você tenha notícia! Grande abraço.

  3. VAPOR DO VINHO
    Venha ver
    O Vapor do Vinho
    Rasgando o rio
    Sobre Sobradinho.

    Para aportar
    Com carinho
    Ancora na coroa
    Que sobra de Sobradinho.

    É mesmo um mar
    De mareta marinho
    Acalmando o calor
    Pra pescador pegar peixinho.

    Faz a família feliz
    Ou somente sozinho
    Nadar um nado
    Vendo vinha do vizinho.

    Autor: Sebastião Santos Silva de Urandi-Bahia

  4. Gostei muitoo do roteiro e fiz boa parte dele. Nao deu para ir ao parque da capivara pelo tempo curto que tivemos na estada, mas gostei muito de visitar a RIO SOL e a ilha do Rodeador. O Sao Francisco é lindo demais e muito gostoso para se banhar.

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