Consumir menos para viajar mais

Hoje pela manhã tive a oportunidade de ler um excelente artigo do Conrado Navarro sobre inteligência financeira que explorava alguns conceitos interessantes, perfeitamente aplicáveis ao tema deste blog. Navarro comentava de uma conversa com Reinaldo Domingos (autor dos festejados  “Terapia Financeira” e “O Menino do Dinheiro”) sobre dicas de como se pode viver melhor, durante mais tempo e com mais dinheiro. Sim, mais tempo e mais dinheiro significam mais viagens. O foco do artigo não era esse, mas alguns conceitos são universais e podem ser aplicados ao planejamento de viagem, motivo pelo qual vou compartilhá-los com vocês.

Hoje em dia planejamento financeiro e investimento para o futuro são obrigatórios, então por que não aproveitar a mesma disposição para planejar melhor suas viagens? Em termos práticos, não adianta culpar o momento de crise pela dificuldade em investir uma parte de sua grana. O fato é que a crise afeta a todos, mas com um objetivo claro e definido é possível. É sempre possível.

O artigo menciona que em geral os brasileiros “sonham pouco e almejam menos ainda”, com muitos vivendo uma vida aparentemente saudável e completa, mas incoerente com sua realidade financeira e incapaz de sustentar seu padrão de vida. Isso se traduz também na vida mochileira. Se o objetivo é fazer uma viagem internacional importante – sonho de muita gente – obter recursos financeiros para tanto é absolutamente factível para quem tem ao menos um emprego fixo.

Dois anos atrás, quando me aventurei pela primeira vez em terras estrangeiras, fiz um imenso levantamento de informações sobre os gastos que teria, somando margens de reserva e guardando um pouco para me dar mais tranqüilidade na hora de fazer algumas escolhas em caso de situações extremas. E a boa notícia é que se você está lendo este artigo na internet já tem tudo que precisa para começar.

Levantados os custos da viagem propriamente dita (assunto a ser detalhado em outro post), é hora de verificar o que será gasto com o equipamento e documentos. Passaporte, Certificado Internacional de Vacinação, uma boa mochila, roupas adequadas, câmbio de moeda, compra de remédios básicos, guias, mapas e outras tantas coisas, tudo isso certamente consome boas quantidades de dinheiro. Só aí o mochileiro tem uma idéia completa de quanto será gasto na viagem e ainda precisa de pelo menos vinte por cento a mais, já que viajar com a grana contada é confiar demais na própria sorte, o que num país desconhecido pode significar desde um grande problema até sua própria vida.

O valor é alto? Supera muito seu salário? Não importa, é só guardar dinheiro e ter paciência. A grande maioria das pessoas gasta além do que suas receitas permitem, permanecem endividados por longos anos (senão pela vida toda) e quando chega a hora de descansar descobrem que sua vida de excessos não lhes permitirá uma velhice tranqüila. Isso para não falarmos na intranquilidade que é viver fazendo contas o tempo todo, desperdiçando horas de lazer com a família e os amigos construindo planos mirabolantes envolvendo cartões de crédito, faturas e empréstimos financeiros. E isso significa desde deixar de viajar bem a impedir o sonho de fazer “aquela” trip.

Antes de tudo, não estou sugerindo que todo mochileiro vire um expert em investimentos financeiros, que invista em ações, opções, títulos públicos ou coisa que o valha. A primeira coisa que se deve aprender é literalmente não gastar tudo que recebe. Adeque sua rotina para assim que receber seu salário (ou qualquer outra remuneração periódica) já “desviá-lo” para sua poupança de viagem. Se você não quer se arriscar com fundos de investimento ou corretoras, não há problema, procure sua agência bancária e abra uma poupança adicional. Todos os bancos são obrigados a fazer isso gratuitamente e fornecer para você um cartão. Recebendo seu salário, separe uma parte depositando-o naquela poupança e verá como seu dinheiro vai se multiplicar sem mágica. E por via das dúvidas, guarde o cartão desta conta em casa, longe de suas mãos quando está no shopping.

Você ganha pouco? Sobram alguns parcos nacos de real no fim do mês? Então você terá que fazer um esforço maior que os outos, mas poderá conseguir seu objetivo da mesma forma eliminando gastos dentro da mesma escala de prioridade em que sua viagem se encontre. Aí é que entra o trabalho mais difícil. Qual é o seu objetivo de vida? Quais são suas responsabilidades? Quais são suas prioridades? Qual é a sua nesta vida? Por incrível que pareça, a imensa maioria das pessoas vive uma existência inteira sem fazer essas perguntas a si mesmo. As respostas podem mudar ao longo da vida, mas você só saberá se parar para pensar e tirar um tempo para você mesmo. Reflita.

Dalai Lama, por exemplo, ensina que o ser humano dominado pelo consumismo perde o verdadeiro significado da vida, que é a paz e a felicidade. Você gosta de viajar? Isso te faz bem? Então não lhe parece natural que deveria fazer isso a maior quantidade de vezes e pelo maior tempo possível de que puder dispor? Então valorize aquilo que deseja e te faz bem, planeje para transformar seu futuro e fazer de sua existência algo menos monótono que trabalhar para ganhar dinheiro e ir ao shopping gastá-lo em eletrônicos que se tornarão ultrapassados em alguns meses ou em roupas que custam cem vezes mais do que valem para satisfazer um personagem que você não precisa representar. Esqueça o que os outros dizem, estão apenas repetindo para si mesmos algo em que querem acreditar, mas que no fundo sabem estar errado.

É mais simples do que parece. Consumo é a utilização, aplicação, uso ou gasto de um bem ou serviço. Sustentável significa aquilo que se pode sustentar, nesse caso, por si só. Ignorando eventuais discussões estéreis acerca da precisão do termo, consumo sustentável nada mais é que a utilização dos recursos naturais pelo ser humano de forma a satisfazer as suas necessidades, sem comprometer a qualidade de vida das gerações futuras. E para você, mochileiro, qualidade de vida é viajar, certo? Menos que isso é incompleto, mais que isso é desnecessário: consumir de forma sustentável é adquirir apenas aquilo de que se precisa, é utilizar-se apenas do necessário, é extinguir apenas o inevitável. É consumir conscientemente. E consumindo conscientemente você guarda mais dinheiro, pode planejar seu futuro e executar com tranqüilidade seu intento.

Apesar de toda a carga de normalidade acumulada de geração em geração do consumo pelo consumo, do apetite insaciável e desenfreado por bens consumíveis cada vez mais descartáveis e subutilizados, o raciocínio é bastante simples e fácil de construir. Você é capaz de afirmar que é realmente necessário adquirir um novo aparelho telefônico celular a cada seis meses? Pode concordar que é necessário ter vinte pares de sapatos guardados em casa? É imprescindível acender as luzes em todo e qualquer ambiente a qualquer hora do dia? O bom senso responde estas questões sem qualquer dificuldade, o que nos leva a concluir que consumindo com inteligência você ajuda a natureza e a você mesmo. A resposta você já sabe, então deixe as ilusões da vida moderna de lado e viva conscientemente.

Lembre-se sempre que você tem uma aposentadoria pela frente, que até lá terão se passado dois terços de sua vida e que ainda assim é desejável que possa ter viajado o suficiente durante esse tempo e que tenha dinheiro para fazê-lo quando esta época chegar. E neste ponto, mais do que tudo, vale a advertência do financista Navarro: se você optar pelo crédito fácil , suas metas serão influenciadas e distorcidas. O autor recomenda paciência e perseverança na busca pelos seus objetivos, sem recorrer ao cheque especial e similares.

Faça o teste, ponha no papel todos os gastos que teve num único mês e analise onde você poderia cortar, substituindo uma ou duas idas ao cinema por um programa em casa com os amigos e aquele show de rock internacional por uma apresentação mais modesta num SESC próximo de sua casa. Deixe o carro em casa alguns dias por semana e veja o quanto não economizará em combustível. Com sorte, ao mesmo tempo conseguirá até ler um pouco daquele guia que comprou para planejar sua viagem.

Feito isso, tenho certeza de que quase todo mundo consegue progredir mais rápido do que imagina. Mesmo assim vai demorar demais? Então reavalie suas prioridades e pense no que precisa para ser feliz. Se ainda não dá, melhore sua renda, aumente sua remuneração e sempre que colocar em dúvida se isso ou aquilo merece todo o esforço empreendido para juntar o dinheiro a ser gasto, pense na sua tão sonhada viagem. E seja mais feliz!

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2 comentários em “Consumir menos para viajar mais”

  1. Olá, gostaria de agradecer a referência ao Dinheirama e parabenizá-lo pelo excelente post! As dicas e informações estão muito interessantes e certamente se tornarão referência para os que desejam poupar com o objetivo de viajar. Parabéns!

    Grande abraço.

    Conrado Navarro
    http://www.dinheirama.com

  2. Eiiii bonito! Saudades de vc! Olha só, um ótimo 2009 pra vc. Te indiquei para o prêmio dardos.

    “Com o Prémio Dardos reconhecem-se os valores que cada blogger emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os bloggers, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web. Este prémio obedece a algumas regras:

    1) Exibir a imagem do selo;

    2) Linkar o blog pelo qual se recebeu a indicação;

    3) Escolher outros blogs a quem entregar o Prémio Dardos.”

    beijao

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