Capitólio e Serra da Canastra: um roteiro alternativo e econômico

ATUALIZADO!Atualizado em 26/04/2021

Estabelecimentos comerciais, de prestação de serviços, supermercados e galerias funcionando das 9h às 17h, de segunda a sexta com capacidade de atendimento reduzida. Bares, restaurantes  e lanchonetes das 5h às 22h, de segunda a sexta, com 1/3 da capacidade de atendimento. Após o horário e aos sábados e domingos, por ora,  somente por delivery e drive-thru.

Um roteiro de carro econômico (mas sem miséria) com trilhas, cachoeiras, passeios de barco, degustação de queijos canastra e um pouco de lama. 

Minas Gerais é tão vasta, diversa e linda, que proporciona tantos roteiros de viagem quanto as estrelas de seu céu infinito. A viagem que narro a seguir deu-se no reveillon de 2017/2018 e foi fruto de um planejamento que levou em conta a maior diversidade possível de passeios, gastando menos com hospedagem e aproveitando o que a região tem de melhor: as paisagens bucólicas, os queijos incríveis, as cachoeiras abundantes e o povo hospitaleiro.

Para obter esse resultado, o maior diferencial foi a hospedagem mais próxima a Furnas-MG, em vez de Capitólio-MG, por um simples motivo: a maioria dos passeios, cachoeiras, trilhas e pontos turísticos ficam mais próximos da pequena vila operária parada no tempo do que das mansões e badalação do point mineiro mais cobiçado das férias de verão. Encontramos no Hotel e Restaurante Chão Nativo a alternativa mais econômica, com suítes duplas a partir de R$140, com Wi-Fi , recepção 24 horas, TV a cabo, banheiro privativo, bom chuveiro, local silencioso  e café da manhã adequado. Uma hospedagem simples, confortável e limpa, que fica num local tranquilo e conta com um restaurante que serve um café da manhã honesto e almoço (R$35 o kg). O hotel está a 42 km de Capitólio, porém a apenas 8km do Cascata Eco-Parque, por exemplo.

A região é banhada pelo chamado “Mar de Minas”, que é como os locais conhecem o lago da represa da Usina Hidrelétrica de Furnas. Um verdadeiro paraíso, explorável por suas encostas à pé e por passeios de lanchas, escunas e chalanas. O diferencial são os cânions de 25m de altura, que emolduram suas águas verdíssimas e os ótimos restaurantes da região.

Mais ao norte, nossa segunda base foi a Chalés Sabor da Canastra em Vargem Bonita-MG. No mesmo estilo da base anterior, é um local rústico porém confortável, com produtos feitos na fazenda onde ficam os chalés, limpeza impecável, atendimento eficiente e cordial e a melhor parte: longe dos altos preços de São Roque de Minas e São José do Barreiro. Fica exatamente no meio das duas cidades, a meio do caminho da estrada para a parte alta do Parque Estadual da Serra da Canastra, próximo a cachoeiras como a da Chinela e o Complexo Sete Quedas.  Reúne localização estratégica, preço baixo e tranquilidade.

A Serra da Canastra é uma verdadeira jóia mineira. Ali fica o Parque Nacional da Serra da Canastra,  área de preservação ambiental que engloba as nascentes do rio São Francisco (que já foi alvo de posts anteriores aqui no blog, como os guias de Petrolina, Juazeiro e do Parque Nacional da Serra da Capivara) as belezas do cerrado do chapadão da Canastra,  diversas cachoeiras, piscinas naturais e toda a riqueza vegetal que propicia a boa gastronomia da região e a degustação dos premiadíssimos queijos da canastra – que tem um sabor único no mundo devido às condições ambientais locais. Estivemos por lá, apenas de passagem, bastante tempo atrás. Agora chegou a vez de aproveitar de verdade e atualizar as informações para vocês.

Quando e como ir

A viagem foi feita na semana entre o Natal e o Reveillon, época quente, ótima para aproveitar as cachoeiras e poços para banho da região, porém com mais gente e bastante chuva, o que pode trazer alguma emoção e contratempos. Se preferir algo mais tranquilo, tente o outono ou a primavera, quando chove menos e faz mais frio à noite.

O roteiro  foi pensado para uma viagem de carro, que pode ser alugado desde Belo Horizonte  (281 km) para quem vem de mais longe. De Sampa, a região fica a quase 500km. Ambas as viagens são tranquilas, sendo que as condições das estradas locais são em geral muito boas, exceto quanto à parte alta da Serra da Canastra, indicada apenas para carros 4×4. Aliás, passamos um perrenguinho por lá, anos atrás, que contamos aqui.

Parte 1 – Capitólio e Furnas

Chegamos à região no dia 26/12 na hora do almoço, partindo de Sampa pela manhã. De Sampa ao Hotel e Restaurante Chão Nativo , nossa primeira base, levamos cerca de 6h, parando para algumas compras no excelente Café Bazzzili, em Caconde-MG, na metade do trajeto.

E foi logo no primeiro dia, no Bazzili, em que provamos o melhor café espresso da viagem! O café artesanal de Caconde-SP é encorpado, aromático, tem acidez equilibrada e doçura natural. Tivemos a sorte de provar a Edição Especial de 10 Anos da marca, com torra mais clara e uma doçura acentuadíssima. Vale o desvio do roteiro principal, sem dúvida!

Caso cafés especiais não sejam seu foco, mas a viagem de seis horas desanime, faça como fizemos na volta: durma uma noite no Hotel Giordano Mantiqueira, que fica exatamente a meio caminho de Sampa e a região de Capitólio.  Quartos modernos a R$140 por noite, piscina, recepção 24 horas café-da-manhã espetacular, w i-Fi e estacionamento gratuitos.

Já em Furnas, como chegamos na hora do almoço ao hotel. Sem pensar duas vezes, aproveitamos o restaurante ainda aberto,  fizemos uma refeição rápida, largamos a tralha no quarto e partimos para o Paraíso Perdido, complexo de belíssimas cachoeiras a meia hora de carro do hotel. Dezoito piscinas naturais (algumas mais acessíveis, outras para quem tem mais disposição), lanchonete, banheiros limpos e uma belíssima paisagem já fizeram valer o passeio. Na volta, paramos no Bica D´Água, que fica aberto até mais tarde na alta temporada: arroz, feijão tropeiro, tilápia, ovo frito e salada por R$15.

No dia seguinte acordamos cedo, tomamos um café reforçado e fomos dar uma olhada no Cascata Ecoparque. Havia chovido muito à noite e a estradinha de terra que desce da MG-050 no Km35 estava muito enlameada, com um carro atolado, inclusive. A estrutura dos caras é muito boa, com chuveiros quentes, bar, trilhas e diversas cachoeiras, mas como havia o contratempo da estrada, optamos por fazer o passeio de barco, vendido mais à frente, próximo ao Restaurante do Turvo, que também faz uma parada na maior das cachoeiras do Ecoparque.

Próximo ao restaurante há um deck, onde há várias tendas de agências que vendem os passeios de barco. Escolhemos a  Capitólio Aventura cujos preços (atualizados para 2018) são os seguintes: 2h de passeio de lancha por R$ 70, 3h por R$100 e 5h por R$130 (confirme e reserve pelo whatsapp no 37-99869-2324 ).  Optamos pelo de quatro horas, que estava saindo naquele momento, nos dando um bom desconto de 20% para fecharmos (negocie!). Ficamos um pouco mais, umas 4,5h, passeando entre os canyons da hidrelétrica,  na Lagoa Azul (que te economiza os R$40 que você pagaria se fosse por conta) , canyon de Furnas (queda d´água impressionante e poço para banho – leve papete ou similar, porque há várias pedras no fundo), na cascata do Ecoparque, no Vale dos Tucanos (paisagem espetacular) e um bar flutuante com preços bastante razoáveis (porção de fritas a R$25; lata de cerveja a R$5).

Chegamos de volta ao Restaurante do Turvo  por volta das 14h, onde tivemos uma refeição espetacular. Pedimos o carro-chefe da casa, a “traíra desossada à moda do Turvo”, que vem coberta por um delicioso queijo canastra, acompanhando salada de milho, ervilha, palmito e azeitonas, batata souté, arroz, pirão ( pode trocar por tropeiro) e um molho de pimenta super aromático. Tomamos duas cervejas também. Total: R$110 muito bem pagos. No retorno ao hotel, paramos para ver o pôr-do-sol no mirante da estrada e saudamos a chegada da noite estrelada, muito felizes por um começo de viagem tão auspicioso. Descansados, saímos para comer na Pizzaria Raffaelo, que fica a dez minutos à pé da pousada. Pizza grande por R$36, com cerveja/refri/suco por R$5.

Nosso terceiro dia na região rendeu uma visita à cachoeira Fecho da Serra, e aos poços e quedas da Trilha do Sol . Valem cada centavo, especialmente a do Sol! Lá são quatro trilhas estruturadas, limpas e bonitas (que você pode conferir no roteiro do Wikiloc que salvamos aqui) em meio ao cerrado preservado, três cachoeiras bem legais com poços pra banho, corredeiras relax e quedas muito cênicas, com bastante água nessa época do ano. Tudo seguro, limpo, com apenas 4km ida e volta – muito fácil pra quem não é 100% sedentário (tem algumas escadas). O restaurante estava reformando, então optamos por comer no Turvo novamente, dessa vez pedindo uma variação da traíra desossada ao molho de alcaparras, acompanhada de palmito na manteiga, alho e arroz. Delicioso. Na volta, ficamos no mirante até o fim da tarde. À noitinha ainda fomos no centro de São José da Barra pra comer um lanche de trailer (R$6!) no Testa’s, único local aberto naquele dia.

No quarto e último dia na região, acordamos renovados de uma noite muito quente amainada pelo ótimo ar-condicionado do hotel. Voltamos ao Cascata para aproveitar um desconto de 50% que a agência nos deu, onde passamos uma manhã ótima, até que começou a chover bastante. A água das cachoeiras começou a subir rapidamente, mas os caras, muito atentos, nos pediram para subir aos poços mais altos, onde não há corredeiras, para ficarmos relaxando até a hora do almoço.  Passada a chuva, fomos à Cachoeira da Lua onde pagamos R$30 de day-use e descemos a trilha íngreme calçada de pedras. Ficamos cerca de meia hora em cada cachu/poço, todos ótimos, de água límpida e sem muita gente. A última queda é a mais bonita, com um poção gostoso para nadar. Lá embaixo há uma área exclusiva para banhistas, a salvo dos barcos que chegam e partem a todo instante, um bar e lanchonete com bons preços ($5 a breja, porções a partir de $20) e uma paisagem incrível. Ali nos ofereceram um passeio de barco diferente, que dura 2h, (R$70) que nos levou ao cânion, onde nadamos um pouco, depois foi à parte baixa do Ecoparque Cascata, na cachoeira onde dá pra nadar e tomar uma ducha natural maravilhosa. Ao final, paramos num bar flutuante que tem uma piscina bacana ($5 Skol, $10 Heineken) e um público bastante animado. É um passeio legal, que vale o preço se o tempo estiver firme.

No fim da tarde fomos jantar no Turvo pela terceira vez, onde pedimos tilápia frita com arroz ao alho e tropeiro. Tudo ótimo, por $82 para dois, com uma jarra de 750ml de suco incluída. Vale ou não vale o repeteco? Saímos de lá umas 17h, quando armou uma tempestade. Fomos até o mirante de Furnas e ficamos vendo a chuva. E já que estávamos à meio caminho, decidimos ir à Capitólio para conhecer, passear pelos condomínios estilosos e comer uma sobremesa no centro, onde também caminhamos por uma festa que tava rolando. Sinceramente, não vale a pena ficar por lá se badalação não for a sua pegada. Estava bem cheio nessa época.

Dica: Se for também à região da Canastra, evite as inúmeras lojas de queijo que ficam à beira da MG-50 no trecho entre Furnas e Capitólio, que cobram caro em comparação ao que se encontra em São Roque de Minas, Vargem Grande e São José do Barreiro.

Parte 2 – Serra da Canastra

O trecho de estrada da MG-341 entre Furnas e Vargem Bonita leva cerca de duas horas, parando. E você vai querer parar, pois pouco tempo depois de deixar os limites de Capitólio, antes mesmo de cruzar o Rio São Francisco, você já começa a se deparar com fazendas e queijarias artesanais.

Fizemos uma viagem muito tranquila, sem trânsito, apesar da chuva fina que caía. Estávamos na metade da viagem e ansiosos por provar diretamente das peças do queijo fresco regional!

O queijo canastra, hoje famoso no mundo todo (recém premiado, aliás!) e um dos mais notórios do Brasil, é fabricado em sete cidades da região, que concentra inúmeros produtores que abrem suas fazendas, casas e lojas para receber os turistas e entusiastas. Para conhecer mais sobre a qualidade dos queijos, suas curiosidades e prêmios, visite o site da Associação de Produtores. Nessa viagem, dentre outras, visitamos as queijarias  do Guilherme, da Capim Canastra; de Carlos e Solange, da Capão Grande; do Dinho da Fazenda Água Limpa, a queijaria do Hugo, da famosa Capim Canastra e a renomada “do Ivair” (os links levam direto à localização no Google Maps).

Abaixo, o curta-metragem “O Mineiro e o Queijo”, para o leitor já ir entrando no clima.

Começando pela Fazenda do Dinho, que não estava nos planos mas nos chamou a atenção por uma placa à beira da MG-341, tivemos uma grata surpresa. Produzido desde 1972 na Fazenda Água Limpa, dentro da área de Indicação Geográfica do Queijo Canastra, o Queijo Dinho é um dos mais premiados da região e tem preços bastante razoáveis, que começam em R$50 a peça. Como dá desconto para pagamento em dinheiro e a localização é fácil, o estoque não dura muito tempo e pode ser reservado pelo telefone (37) 99832-2380. Pode ligar na véspera, antes de sair de sua base, só para garantir.

Dica: os queijos canastra, com sua característica doce-picância, são como verdadeiras obras de arte, feitas à mão, individualmente, a partir de leite-cru lentamente curado.  Na região, você encontrará queijos de 10 dias a 36 meses de maturação, alguns no estilo “raiz”, outros lavados na cerveja, no espumante ou até mesmo embalados em folhas vegetais que lhes conferem características especiais. O ideal para quem viaja pela região é ter uma caixa térmica, que deve ser mantida aberta (ou meio aberta) para que o queijo “respire”. Em casa, o queijo pode ser guardado em cima de uma tábua, coberto (mas não embrulhado) por um pano de prato, devendo ser virado uma vez por dia para que mature por igual. Pode ser consumido aos poucos, para que se perceba como evolui, ou aguardar-se pelo menos um mês, quando a casca amarela mais seca terá se formado e o interior estará macio e com seu característico sabor. Colocá-lo na geladeira retarda o processo e rouba-lhe um pouco de sabor e consistência, mas não é proibido. Alguns exemplares apresentam fungos esbranquiçados na casca, que podem ser ingeridos normalmente, ou retirados por motivos estéticos, bastando utilizar gentilmente uma bucha de cozinha nova.

Aqui, mais uma dica para os amantes de café: para harmonizar um queijo canastra mais jovem, adocicado, um café ácido como o Rosabaya da Nespresso vai bem. Uma peça meia-cura, por sua vez, nasceu para o Dulsão do Brasil. Já para enfrentar os mais velhos, um Indrya vai bem. Mofou? O Dharkan escolta com louvor. De modo geral, pode-se harmonizar por contraste, onde o queijo e o café se equilibram, ou por destaque, em que um se sobressai ao outro. Para não errar, vá de meia-cura com um café menos encorpado, de torra mais clara e sabor mais ácido.  Conforme o queijo envelhece, acentuando sua picância e acidez, procure um café mais doce e encorpado para equilibrar as coisas… ou opte por um exemplar mais torrado, com nuances de especiarias. É divertido testar e arriscar.

Depois de bastante estrada, queijos e cafés especiais, chegamos já com a noite madura na pousada  Chalés Sabor da Canastra . Sem pique para sair e sem fome para jantar, dormirmos cedo depois de bater um bom papo por lá e descansamos bastante.

No dia seguinte, amanheceu chovendo e aproveitamos para tomar um demorado café da manhã, com direito a produtos regionais e boas histórias do pessoal da pousada. Aproveitamos o dia para conhecer as queijarias que mencionei acima, a maioria em São Roque de Minas. Choveu demais o dia todo, mas conseguimos transitar até que bem pelas estradas com nosso carro de passeio (sem 4×4) tendo alguma dificuldade apenas na estrada que leva ao Queijo do Ivair. Entretanto, essa foi a que mais valeu a pena!

O Ivair acaba de inaugurar sua queijaria ecológica, tem um dos queijos mais premiados da região e a visita mais interessante e bem cuidada de todas. Trouxemos duas meias-peças de lá, ambas incríveis. No entanto, o bônus para quem vai até o local, fica mesmo do lado de fora, logo em frente à entrada da queijaria. Trata-se de uma casa com uma rampinha na porta, quase sem chamar a atenção, naquela ruazinha residencial mesmo. É uma queijaria caseira tocada pela Talita, que aprendeu o ofício com o Ivair anos atrás e hoje em dia faz seu próprio queijo, vendido na sala de casa. Só aceita dinheiro, mas faz queijos/manteiga/requeijão deliciosos por preços bem mais em conta. Vale a pena bater um papo com ela e adquirir seus produtos fresquíssimos.

Seguindo nossa jornada, fomos conhecer os queijos mais premiados da região – a Queijaria Capim Canastra, ou “do Guilherme” como são conhecidos na região. Fica no Km 3,5 da Estrada Bambuí, à direita, segunda fazenda à esquerda – Fazenda São Bento. Visita espetacular, queijos incríveis, pessoal simpático. Ficamos bastante tempo por ali trocando ideias, brincando com os pássaros que são criados soltos, nos fundos, próximos das casinhas de queijo (espécie de gaiolinha de madeira, feita artesanalmente, onde se pode deixar o queijo descansando).

Aproveitando que fomos até lá, passamos também na Capela Velha, uma das queijarias mais antigas da região – com mais de 200 anos de história. Ali a dica é pedir para provar o canastra que ganhou em 2017 a medalha de prata no concurso Mondial Du Fromage na França. Um espetáculo!

Na volta, no km 2 da Estrada do Parna da Canastra, passamos no famosíssimo Roça da Cidade. Hugo Leite, o proprietário,  é obcecado pela limpeza e esmero na fabricação de seus produtos. Sua impecável organização  vai da ordenha à sala de fabricação e foi muito elogiada por Romain Guibert, quando veio ao Brasil para conhecer nossos queijos. Destaque também para as embalagens, muito bonitas e práticas. O preço é mais puxado, mas a degustação – gratuita – é tão intensa e prazerosa, que é impossível não levar ao menos uma lasquinha para casa. Destaque para o “canastra real” da casa, imperdível.

Já no fim da tarde, passamos no centro de São Roque para comprar cafés regionais no mercado (preços mais em conta que nas queijarias) e almoçamos no Velho Chico, um dos restaurantes locais que mais gostamos na região. Pedimos um mignon ao molho de canastra, servido com arroz e fritas – nada menos que espetacular. Lá tem cerveja Backer (e alguma artesanais da região) e funciona também à noite, quando tem música ao vivo. Não deixe de visitar.

Nos dias que se seguiram, deixamos os queijos dentro da caixa térmica que trouxemos de casa, com a tampa entreaberta, como nos foi orientado. Assim, pudemos curtir as cachoeiras numa boa sem nos preocuparmos com as iguarias.

Na região, vale a visita a Cachoeira da Lavrinha, com um poço incrível para banho e uma queda lindíssima. Alcançável por uma trilha curta (traçamos no Wikiloc aqui) depois de uma estrada de terra bem batida, passamos um par de horas por ali, sendo apanhados por uma tempestade na trilha de volta, que derrubou uma árvore enorme bem no meio da estrada. Sem sinal de celular, tivemos que improvisar uma rampa com galhos para o carro sair da estrada e cruzar pelo mato, engenharia que durou uns quarenta minutos mas deu certo.

Na volta, almoçamos no Cozinha Original em São José da Bocaina.  Trata-se de um restaurante rústico, com uma linda vista para a Serra da Canastra. O buffet  (R$40 por pessoa)  serve salada, frango frito, tutu, feijão, carne de porco de lata e o famoso “ceviche de jiló”, criação assinada pela chef e proprietária Joanne Ribas. Aproveite para conhecer o povoado, minúsculo mas pitoresco. A estrada paralela, de Vargem a São José (não a principal, a que vai para a cachoeira) é lindíssima, com vistas lindas da serra. Nesse dia, em Vargem, fomos atrás de outra iguaria local: o famoso mel do Bar do Tiãozinho.  Como o bar estava fechado (dia 31/12) tocamos a campainha do vizinho da esquerda, para pedir informações. E não é que o cara também tinha mel? É delicioso, do tipo silvestre e custa R$20 o pote de 500g. Dica que você só vai encontrar aqui!

Deu tempo, ainda, de passar na cachoeira da Chinela, a poucos quilômetros do centro de Vargem, na mesma estrada para o Parque Nacional. Fácil acesso, por uma trilha curta no meio da mata, a queda é bonita e conta com um bom poço para nadar, além de ser gratuita – apesar de ficar numa propriedade particular. Vale uma visita rápida num dia quente.

Nesse mesmo dia, a pousada fez pra gente uma festinha de reveillon que foi bacana. A região não é muito festeira, mas deu pra ver que rolou uma queima de fogos no centro e o  Velho Chico tinha programação especial nessa data.

Noutro dia, fomos de picape com o “Brechinha”, ex-prefeito da cidade e dono da pousada Chalés da Canastra, para a parte alta do Parque Nacional. Como já estivemos na parte baixa do parque em 2010, desta vez queríamos ver de cima a famosa cachoeira Casca D´Anta e dada a dificuldade de encontrar uma agência que nos levasse no primeiro dia do ano (a parte alta, ao contrário da baixa, é complicada para carros baixos sem tração 4×4) nossa pousada arranjou o esquema. Fora a data especial, é muito tranquilo fechar grupos em feriados e fins de semana, principalmente na Tamanduá  Ecoturismo, a maior da região.

Fizemos o roteiro completo: nascente do São Francisco, curral de pedras e alto da Casca D’anta. A parte alta da cachu tem umas trilhinhas tranquilas para um mirante e para os poços que ficam logo abaixo, excelentes para banho (demarcamos tudo nesse roteiro do Wikiloc). A paisagem no topo da serra (que tem esse nome por causa de um baú homônimo, cujo formato é similar ao da cadeia de montanhas)  é belíssima, bucólica, inspiradora. Ficamos um bom tempo curtindo o visual e os poços, retornando no fim da tarde para explorar a cidadezinha de Piumhi, onde tomamos um lanche no Empório Delícias da Canastra (ou “depósito da Lú”, para os locais). O lugar é agradável, tem preços medianos em alguns produtos regionais e serve um incrível pão de queijo canastra recheado de pernil. Aproveite também para passar no Celeiro da Canastra (mais rústico, mais barato) e no “Mercado Reis” ali próximo, onde compramos um café local da marca”Aroma da Canastra”, peço melhor preço da viagem.

E assim foram completas quatro dias na região de furnas e mais três na Canastra. Uma viagem muito interessante, rica, variada e divertida, que pode ser feita sem pressa, gastando de acordo com a disponibilidade de cada um e curtindo a paisagem, os quitutes e a hospitalidade mineira.

Há um sem número de outras atividades interessantes na região, como as cachoeiras do Rasga Tanga (a mais isolada do Parna), do Capão Forro (com vários poços e quedas, alcançáveis por trilhas curtas e uma estrada de terra nada amistosa) e a do Cerradão (linda, com bastante volume na época de chuvas, várias quedas e poços) e a desafiadora Travessia do Parque Nacional da Serra da Canastra, com 38km em meio ao cerrado belíssimo, passando por trechos que os que vão de automóvel nem sonham em conhecer.

Há muito a ser explorado e várias incursões são possíveis e necessárias para conhecer a região em todo o seu esplendor. Esperamos voltar em breve e torcemos para que o texto inspire mais desbravadores a conhecer o Parque e seus arredores.

Boa viagem e fiquem a vontade para perguntar e assuntar na área de comentários.

Grande abraço!

 

 

 

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7 comentários em “Capitólio e Serra da Canastra: um roteiro alternativo e econômico”

  1. Obrigado pela passagem aqui pela Fazenda Água Limpa em Piumhi para conhecer o Queijo Dinho. Ainda estamos bem no início dessa aventura de receber visitantes, mas temos grandes planos para o futuro. Pretendemos evoluir mas sem perder a essência de roça de verdade, senão a experiência será algo fabricado e não um pedaço verdadeiro do que é o dia a dia de uma produção de Queijo Canastra.

    1. Igor, que satisfação seu comentário aqui no blog. Eu que agradeço a hospitalidade, a atenção e sobretudo a oportunidade de vivenciar essa experiência. Conhecer os queijos da canastra ” in loco ” é uma experiência única e muito prazerosa, ainda mais na Fazenda de vocês, tão bem cuidada e com todo o carinho que recebem os visitantes. Desejo a vocês todo o sucesso do mundo! Grande abraço.

      1. Adorei o post! Muito bom que curtiram a região da Serra da Canastra.
        Vou para Vargem Bonita desde criança e nunca tinha ouvido falar do mel do bar do tiaozinho kkkk anotado!

  2. Obrigado por compartilhar.
    Bela escrita e inspiradora!
    Vou usar como ponto de partida para o meu roteiro.
    Talvez a maior diferença a ser considerada seja a época do ano em que iremos, eu e minha mulher: Maio.
    Já ficamos ansiosos! (ansiedade da boa)

    1. Que bacana, Paulo. Agradeço a visita e mais ainda o comentário. Volte sempre que quiser e fique a vontade para sugerir posts, dar suas dicas para o pessoal que lê o blog, comentar os textos e tirar as dúvidas que tiver. Grande abraço e ótima viagem!

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