Reveillon Mineiro, Dia 02: Brumadinho e Inhotim

Instituto Inhotim – Brumadinho. Horto florestal e galeria de obras de arte contemporâneas de artistas como Helio Oiticica, Cildo Meireles, Chris Burden, Adriana Varejão, Matthew Barney, Doug Aitken, Janet Cardiff

Inhotim

Sempre que acordo num quarto de hotel, ansioso por um dia cheio de acontecimentos espetaculares, penso na famosa frase de Martha Medeiros: excesso de expectativa é o caminho mais curto para a frustração. A pensadora tem sim sua razão, mas diante do maior e mais famoso museu brasileiro do mundo não há quem segure.

Chamado de “o melhor passeio que você ainda não fez” por Ricardo Freire, o Instituto Inhotim é sem dúvida o projeto cultural mais ousado e bem sucedido da história brasileira recente. Um imenso conjunto de obras de arte, expostas a céu aberto e em galerias temporárias e permanentes, situadas em um belíssimo Jardim Botânico de 97 hectares com cinco lagos e uma área de reserva natural de riquíssima biodiversidade.

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Helio Oiticica, Cildo Meireles, Chris Burden, Adriana Varejão, Matthew Barney, Doug Aitken, Janet Cardiff e dezenas de outros artistas de renome internacional têm seus trabalhos expostos com total liberdade num museu – que mais se assemelha a um parque de diversões de arte contemporânea – tão rico e variado que precisa de pelo menos dois dias para ser conhecido em sua plenitude, com a calma e atenção que as obras (e você) merecem. E serei sincero agora: nada entendo de arte, o tal gênero contemporâneo normalmente me arranca bocejos de tédio. Não fosse a fama sobrenatural do local (e sua imensa área verde) tocaria direto para Ouro Preto. Bobagem! Qualquer leigo certamente vai ficar impressionado. É sério.

Infelizmente o horário de visitação é curto (09h30 às 17h30 aos sábados e 16h30 durante a semana). Como saímos um pouco tarde do Ibis de BH (veja post anterior) chegamos ao museu algum tempo depois da abertura e pegamos uma boa fila, que nos tirou cerca de uma hora de passeio. A viagem foi tranquila, apesar de alguns caminhões lentos no caminho, nos tomou cerca de 1,5h (foram +- 70km do hotel a bilheteria). Para evitar isso, você pode comprar pela internet (clique aqui). É carinho (inteira = R$28 por um dia ou R$54 para dois) mas vale cada real.  Há ainda um ônibus diário que faz o trajeto Rodoviária de Belo Horizonte – Inhotim, saindo às 09h e voltando às 17h, cujos preços variam conforme a época do ano (confira informações atualizadas aqui).

Ao comprar o ingresso, há uma particularidade interessante: por mais R$20 você contrata a chamada “visita especial” que te dá direito a poder utilizar a vontade uma espécie de carrinho de golf de quatro lugares com motorista, que faz cinco rotas diferentes no parque, com pontos de parada em frente às atrações mais importantes. Para quem tem apenas um dia ou prefere não andar, veja informações completas e atualizadas aqui. Como estávamos atrasados e num grupo grande, optamos por pegar o pacote completo, mas não gostamos do serviço: caro, desorganizado e frequentemente atrasado. Várias vezes tivemos que esperar bem mais que os “cinco minutos” anunciados pelo parque. E o mais crítico: os carrinhos são movidos a bateria, que simplesmente acaba no meio do itinerário. Entretanto, admito que este foi o único ponto negativo de nossa visita.

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Você vai ler por aí que os preços para comer ali dentro são altíssimos, mas isso não é inteiramente verdade. Quem procura conforto vai sim queimar uma grana na omeleteria, no café, nos bares e nos restaurantes, mas as lanchonetes, a vendinha de cachorro quente e a pizzaria servem muito bem ao mochileiro durango. Eu mesmo comi dois cachorros quentes e tomei uma latinha de coca por apenas R$10. É o que eu pagaria aqui nas ruas aqui em Sampa, por exemplo. Das opções de bacana, só para se ter uma idéia, os caras do 2byfood optaram por um medalhão de filé acompanhado de arroz piemontês e batata sauté por R$ 38, individual, mas não gostaram. Acho que me dei bem, hehehe…

Já sobre o que ver e fazer, não vou me aventurar a indicar, pois não sou exatamente alguém versado em arte contemporânea. Há diversos guias espalhados pela internet (esse aqui é excelente!) e um inhotim5sem número de relatos como o da Guta (do blog vambora)  que eu curto bastante. De minha parte, adorei o Cosmococa 5 Jimmy Hendrix e o Penetrável Magic Square do Hélio Oiticica,   Lama Lâmina, de Matthew Barney, o Sonic Pavilion, Doug Aitken (não acreditei muito nela, mas gostei – leia aqui), Através e Desvio para o Vermelho, ambas de Cido Meireles (minhas preferidas, espetaculares), O assassinato dos Corvos, obra conjunta de Janet Cardiff com George Bures Miller (megalomaníaco, incrível, além de estar ao lado da pizzaria!?), Beam Drop, de Chris Burden (as barras metálicas dispostas daquele jeito nunca sairão da minha cabeça!) e absolutamente todas as obras das galerias Miguel Rio Branco e da Adriana Varejão.

Não gostei tanto dos badalados Forty Part Motet, de Janet Cardiff e do Narcissus Garden, de Yayoi Kusama, que apesar de grandiosos, não conseguiram me tocar. Mas recomendo que o leitor veja por si mesmo, pois são imperdíveis. Poderia ficar horas e horas escrevendo sobre minhas inpressões de todas essas obras, mas acho que se você ler demais, perderá bastante do impacto de que desfrutam os incautos e ignorantes como eu. Vá e pronto.

Acredito que a idéia é montar um roteirinho básico, pegar um mapa (passeie bastante pelo site oficial) e segui-lo sem muita preocupação, desfrutando da belíssima paisagem e interagindo com as obras da forma mais natural possível. E se estiver calor, a dica mais importante: vá com uma mochila e de trajes de banho, pois há várias obras em que é necessário entrar descalço e diversas outras em que se pode observar o trabalho de dentro da água de uma piscina.

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Exausto e extasiado, cheguei ao fim do dia com a sensação de que passei por um furacão de informações e emoções, certo de que esse que era apenas o segundo dia de viagem já tinha valido por toda ela. E dali mesmo partimos para nosso próximo destino: Ouro Preto.

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3 comentários em “Reveillon Mineiro, Dia 02: Brumadinho e Inhotim”

  1. Outro ponto bem bacana do Inhotim é a estufa do Jardim Botânico, onde além de milhares de exemplares de vegetais do mundo todo se encontra uma ilustre desconhecida: a planta cadáver. O exemplar, além de ser a maior flor do mundo segundo o Guiness, originária da Indonésia, a “Amorphophallus titanum” teve seu nome popular inspirado no cheiro podre que exala quando aberta, o que acontece apenas uma vez a cada dois anos, durando cerca de 4 dias. Tive sorte de vê-la no reveillon de 2012 para 2013 e realmente é impressionante, apesar de não muito bonita. Leia um pouco sobre ela aqui: http://marcelocoelho.blogfolha.uol.com.br/2012/12/26/inhotim/
    Inhotim é surpreendente. Vá e verá.

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