Se você é brasileiro, certamente já ouviu algumas vezes a expressão, provavelmente num contexto não amigável. Eu mesmo exitei bastante para começar a escrever esse texto, levei meses para começar, mas o sentimento de que não poderia guardar apenas para mim as experiências que vivi naquele país me trouxe até aqui. Vamos em frente.
Cuba é tão incrível e surpreendente, que eu já perdi as contas de quantas histórias relatei a amigos, colegas e conhecidos do que vivi naquela ilha. Asseguro-te, caro leitor, que minha experiência ali foi tão intensa que dificilmente conseguirei amenizar nas tintas aquilo que emana do coração. Te digo para seguir em frente sem cautela e sem moderação. A única regra é despir-se de preconceitos. A única recomendação é abrir sua mente.
Procura motivos?
A arquitetura da ilha é fenomenal. Diversos conjuntos arquitetônicos ali foram agraciados pela UNESCO com o título de “patrimônio mundial”. Entre elas, as fortificações e palacetes da Cidade antiga de Havana – que eu considero a capital mais bonita das Américas Central e do Sul – é provavelmente a primeira grande surpresa que você terá quando desembarcar por ali. Os parques nacionais Alejandro de Humboldt e Desembarco del Granma, fundamentais para a Revolução Cubana; a cidade de Trinidad, fundada no século XVI, com seus belos casarões preservados desde a época de ouro da cultura de cana de açúcar; as plantações do Vale de Viñales e vários outros locais guardam uma arquitetura ricamente variada, que aos poucos está sendo restaurada pelo governo local.
A paisagem é caribenha. Provavelmente algumas das mais belas praias do mundo ficam nos cayos, pequenas ilhas com resorts internacionais que instalam confortavelmente turistas de várias partes do mundo, cuja atração principal é o mar azul turquesa de águas calmas, transparentes e mornas. A areia é branca, os frutos do mar são abundantes, o peixe é fresco e o mojito mais gostoso.
Por falar em drinks, a boemia é sem dúvida um capítulo importante por lá. Pedro Juan Gutiérrez – meio Bukowski caribenho, meio Henry Miller reaça- descreve bem em sua obra-prima Trilogia Suja De Havana o quanto os “entardeceres com rum e luz dourada” eram poemas duros no chamado “período especial” pelo qual a ilha passou nos anos noventa. De lá pra cá – veremos adiante – tenho a impressão de que muita coisa mudou, mas uma certa atmosfera persiste.
Não sei se é o calor do trópico, o sangue latino ou aquela sociedade sui generis. O fato é que tudo ali conspira para tornar o cubano incapacitado para a solidão. Os fins de tarde são regados a rum enquanto os compadres jogam conversa fora na calçada, a música ao vivo que sempre rola nos bares de Havana, os velhos a ver o tempo passar em suas cadeiras de balanço do lado de fora das casas, as crianças jogando bola enquanto casais adolescentes casam intimidade e malandragem. Cuba, especialmente Havana, é vida pura, é alma em ebulição, é um tapa na cara do mochileiro mais experiente. Sorrisos, cores, cheiros, fluídos. Nunca vi nada igual.
A Cuba da herança revolucionária também impressiona. Mais que a Lei Cidade Limpa que mudou a cara de Sampa recentemente, na ilha caribenha a publicidade sempre foi muito regulada, exceto para propaganda da Revolução. Outdoors com Fotos de Fidel, Che, Cienfuegos e até Hugo Chávez e Evo Morales são vistos por todo o país, assim como frases de efeito jocosas sobre os Estados Unidos, a Inglaterra e a resistência local quanto ao embargo de meio século. Por outro lado, não tem wifi, nem shopping, nem hipermercado, nem comida congelada. O fumo é livre. O arroz é a granel. O cigarro é de palha. O suco é natural.
Não proponho que você, leitor amigo, refaça meus passos. Sugiro que inspire-se pelo que eu tive a sorte de viver ali, mergulhando na cultura habanera, para o bem e para o mal.
Vi de perto a malandragem dos punguistas de centro-Havana, passeei um dia inteiro de carro com um professor universitário, dormi na casa de uma médica incrivelmente acolhedora em Trinidad, desidratei um tanto ao visitar o mausoléu de Che Guevara em Santa Clara. Bebi runs, mojitos, daiquiris. Peguei praia. Ouvi histórias. Curti mais museus do que pude contar. Vi a vida feita de carne de porco suculenta, sucos de goiaba doce, cafés, charutos, debates e muito trabalho. Entendi um país que tentou algo diferente, que por um motivo ou outro não chegou lá, mas tampouco aceitou a vida que outros lhe quiseram impor.
Cuba não é um favelão caribenho, como querem uns. Tampouco um paraíso tropical e igualitário, como pretendem outros. Cuba é rica, histórica, viva, tórrida, pulsante. É única. É autêntica. É a maior experiência a ser vivida por quem gosta de história, de arte, de gente, de vida.
O cubano é orgulhoso de sua história, independente de sua opinião sobre o regime. Um povo muito culto, politizado, emotivo e acolhedor que me surpreendeu a cada minuto, desde o primeiro instante em que botei os pés naquele pedaço de terra tão diferente daquele que tenho debaixo de mim enquanto escrevo essa introdução.
Se alguns desses motivos te parecem relevantes, aceite o conselho.
Vá para Cuba. Descubra por si mesmo.
Leia também:
Cuba para Mochileiros : absolutamente tudo o que esperar de uma viagem desempacotada por Cuba
Relato de um mochilão de treze dias por Cuba com tudo que você precisa saber sobre os tesouros e roubadas do destino mais interessante do Caribe
Caramba, você aproveitou de verdade! Tenho muita vontade de conhecer Cuba e sua postagem inspirou mais ainda.
Amigo, aproveitei muito. Recomendo!
Optei por visitar menos cidades, ficando apenas na parte ocidental, onde aparentemente está o “filé”. Mas pretendo voltar no prazo máximo de dois anos e conferir o centro-leste da ilha, onde há muito mais e tirar a prova… 🙂
Agradeço a visita.