Turismo de Aventura com Segurança

Aventure-se com seguranca

Aconteceu de novo. Depois de ler pela enésima vez mais uma notícia sobre salvamento de grupos perdidos em trilhas da Serra do Mar, me senti na obrigação de escrever esse pequeno amontoado de palavras sobre o assunto para os leitores do blog.  Afinal, apesar de falarmos bastante de turismo, há também algum material por aqui sobre cavernas, travessias e trilhas mais longas que exigem certo preparo e alguma experiência em orientação.

A primeira coisa que eu tenho a dizer é: se você costuma seguir cegamente orientações de blogs como esse, posts de tripadvisor, tracklogs camaradas ou qualquer texto de internet, jornal ou revista relacionados a trilhas, cavernas e montanhas, revise urgentemente este hábito!

A coisa mais comum nesses tempos de internet fácil é nos acostumarmos a seguir automaticamente orientações de pessoas que acompanhamos e guias de que gostamos. Isso é ótimo para conhecer restaurantes descolados, escolher um bom smartphone ou encontrar aquele hostel mais em conta, mas pode ser muito perigoso em caminhadas na natureza.

Conhecer a região, dar uma estudada no caminho, levar um GPS (ou celular com o o roteiro no wikiloc) e separar um tempo para separar os equipamentos básicos para uma excursão na natureza são um belo começo… mas não é tudo.

A preparação para sua trilha deve ser a mesma que você faz antes de assinar um contrato: você não deve pensar em tudo que viverá de bom, mas em tudo que pode dar errado. Mudanças climáticas bruscas, lanterna sem bateria, uma torção no tornozelo, intercorrências com a fauna/flora… e mesmo que esteja tudo certo com você, pode não estar com seu companheiro de jornada.

Outro ponto importante é quanto a autoconfiança. Um bom paralelo é quanto às estatísticas de trânsito: são unânimes os estudos que mostram que a maioria dos acidentes de trânsito ocorrem justamente nos trechos que conhecemos mais, mais perto de casa ou do trabalho, onde o descuido é muito maior. Trilhas de algumas poucas horas oferecem tanto risco quanto travessias longas, senão mais, porque a mochila de ataque quase sempre está aquém do que deveria em termos de segurança. Sua companheira compacta deve conter os mesmos itens de segurança que a sua cargueira!

O que não pode faltar na sua mochila, cargueira ou de ataque:  escolha uma mochila resistente, com uma capa de chuva que você se assegurou que serve perfeitamente nela; leve um  documento de identificação (para o caso de você ser encontrado desacordado); anotação do seu tipo sanguíneo (anotei um O+ bem grande à caneta no plástico que envolve meu RG); calçado apropriado para trekking (leia mais aqui); chinelo/papete (dependendo do perfil da trilha, pode ser útil – ou mesmo necessário – trocar aquela bota impermeável por um  calçado aberto); chapéu/boné (pode estar nublado de manhã, de tarde não); óculos escuros de boa qualidade (se você vai pegar neve ou grandes altitudes, informe-se sobre o produto adequado);  abrigo para chuva e frio (um para cada, de acordo com a previsão do tempo); remédios (recorte algumas cartelas dos remédios que levou consigo quando saiu de casa – veja nosso guia de quais remédios levar para viajar aqui); uma toalha de secagem rápida (mesmo que esteja quente ou você não pretenda se molhar, pode ser útil para improvisar ou se acontecer um imprevisto e você precisar secar-se, secar alguém ou alguma coisa); protetor solar (alguns poucos dias sob o sol escaldante podem ser suficientes para lesões de pele permanentes ou mesmo acelerar uma desidratação) repelente de boa qualidade (não economize, use um que tenha icaridina na composição – leia mais sobre isso aqui); água e lanche com porções extras (pense bem nos alimentos, evitando sede excessiva e priorizando alimentos que saciem sua fome rapidamente); algumas pastilhas de clorin ou um frasco de hidrosteril (caso sua água acabe, poderá esterilizar a água que encontrar pelo caminho) lanterna e celular e/ou GPS com baterias reserva (ou use um bom recarregador portátil / power bank).

Frise-se: a porção extra de alimentos e água,  a bateria para seu celular/gps/lanterna e os agasalhos são fundamentais não só para sua sobrevivência, como te ajudarão a ficar mais calmo em caso de imprevistos, especialmente em áreas remotas ou montanhas, onde esfria rapidamente com o pôr-do-sol. Passei por um perrengue na trilha do Cerro Martial em Ushuaia alguns anos atrás e não foi legal. Terminou tudo bem… mas porque eu segui essas orientações. E confesso, mesmo preparado, tive medo!

Há outras pontos a observar, mas se eu pudesse dar um conselho só, seria: siga as regras. Se há um conjuntos de trilhas oficiais predefinidas pela unidade de conservação que você está, são elas e apenas elas que devem ser seguidas. Uma placa de proibição é um aviso que deve impedi-lo de continuar. Uma trilha exclusiva para grupos com guia não deve ser explorada sozinha. Aquela caverna que o plano de manejo fechou, não deve ser adentrada sem autorização. O mundo é muito, muito grande, sabe? E há mais opções de passeios a serem feitos com segurança do que uma vida inteira dedicada a trilhas conseguiria explorar. Racionalmente, não há nenhum motivo para você burlar as regras e arriscar-se. Há sempre um bom motivo por trás das regras e infringi-las pode implicar num preço caro demais para você pagar.

Vale citar também a utilidade do aplicativo “papo de cobra”,  que traz informações de como localizar os polos de atendimento para acidentes por animais peçonhentos com base nos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Baixe aqui.

Por fim, recomendo um excelente artigo sobre o assunto , escrito em 2019 por Karine Variane Angelini, Guia do COE (Comandos e Operações Especiais) disponível aqui. Vale a pena destrinchar o texto, que contém inclusive dicas do que fazer (e não fazer) caso você se perca numa área com ou sem comunicação. Dicas que podem salvar sua vida.

Disponibilizo também, para download direto aqui do blog, duas excelentes publicações sobre ecoturismo e auto-resgate criadas pelo Ministério do Turismo, com informações de boa qualidade.

Brasil. Ministério do Turismo.
Turismo de Aventura: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas
de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação
Geral de Segmentação. – Brasília: Ministério do Turismo, 2010.
75 p.; 24 cm.

Gratuito. Clique aqui para baixar.

Brasil. Ministério do Turismo.
Turismo de Aventura: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas
de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação
Geral de Segmentação. – Brasília: Ministério do Turismo, 2010.
75 p.; 24 cm.

Gratuito. Clique aqui para baixar.

  • MANUAL DE RASTREAMENTO HUMANO EM OPERAÇÕES DE BUSCA E SALVAMENTO

Publicação de Sergio de Oliveira Netto, Diretor Operacional do Grupo de Resgate em Montanha (GRM) em Joinville – SC, com informações técnicas de rastreamento humano que podem ser aplicadas para em operações de busca e salvamento, baseado em técnicas internacionalmente conhecidas. Excelente guia para conhecer como um resgate funciona e como fazer para agilizar o procedimento, caso você se perca ou mesmo como evitar situações de risco.

Custa R$20,00. Pode ser adquirido no site do autor.

 

Divirta-se, explore, aventure-se, mas sempre com segurança.

E boa viagem!

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Um comentário em “Turismo de Aventura com Segurança”

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