Pequeno conto budista

Um Samurai grande e forte, de índole violenta, foi procurar um pequenino monge.

– Monge – disse, numa voz acostumada à obediência imediata. – Ensina-me sobre o céu e o inferno!

O monge miudinho olhou para o terrível guerreiro e respondeu com o mais absoluto desprezo:

– Ensinar a você sobre o céu e o inferno? Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma. Você está imundo. Seu fedor é insuportável. A lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha, uma humilhação para a classe dos samurais. Suma da minha vista! Não consigo suportar sua presença execrável.

O samurai enfureceu-se. Estremecendo de ódio, o sangue subiu-lhe ao rosto e ele mal conseguiu balbuciar palavra alguma de tanta raiva. Empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge.

– Isto é o inferno – disse o monge mansamente.

O samurai ficou pasmo. A compaixão e absoluta dedicação daquele pequeno homem, oferecendo a própria vida para ensinar-lhe sobre o inferno! O guerreiro foi lentamente abaixando a espada, cheio de gratidão, subitamente pacificado.

– Isso é o céu – completou o monge, com serenidade.

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Lugares Bacanas em São Paulo (3) Top5 Melhores Hamburguerias Paulistanas

Hamburguer. Uow. Post polêmico.

tasty

Apresento, meus amigos, meu Top5 Melhores Hamburguerias Paulistanas. Levei em conta o sabor dos lanches, seu tamanho, o custo-benefício (existe isso mesmo?), localização e claro… meu gosto pessoal. Nada contra Hitz, TGI Friday´s, Milk&Mellow,  America, General Prime, Outback (ah, aquelas onion rings…), Rockets, St Louis e tantos outros, mas é fato que a gente sempre tem uma quedinha especial por lugares que nos fazem sentir bem e que fazem bem pro nosso bolso. Então, bora lá:

5. Frevo

Sim, sim, sim, nada de engolidores de notas de cem reais! O Frevinho te dá mais por menos e pode ser até uma opção corriqueira, caso você seja habitué da região. A filial da Rua Augusta é tão charmosa quanto a matriz da Oscar Freire, porém com o atrativo de estar mais bem localizada (do lado de cinemas, livrarias, cafés, bares e baladas) e ser bem menos badalada. A marca é tradicional – remonta a 1956 – e mantém o estilinho retrô-aconchegante e rústico da época. Pense num lugar onde as fritas são sequinhas, custam sete mangos e parecem feitas em casa. Pense num lugar em que a porção de maionese custa duas pilas, tem um tempero único e vem muito bem servida. Pense num cheeseburguer com maionese que custa uma nota de dez mas vem com um dos melhores pães da cidade, tem carne com sabor de carne, tempero marcante e queijo caindo pelos lados. Pense num cheeseburguer com as cebolas fritas mais saborosas, mais cebolas e mais fritas de todos os tempos. Pense em garçons com cara de que vão se aposentar ali, de sorriso no rosto e com aquele estilo de netinho-senta-aqui-que-vou-te-contar-uma-história. O Frevo é bom, barato, simpático, tranquilo e delicioso. Site oficial aqui.

4. Lanchonete da Cidade

São Paulo já tem três, mas a única, original e verdadeiramente boa é a unidade dos Jardins que fica na Alameda Tietê. Receitas originais, ingredientes de primeiríssima qualidade, jeitão dos anos 60 (meio modernista, meio brega) e um lanche ícone: chamado de Bombom, o sanduba é um petardo de 220 gramas de carne coberto com molho de tomate fresco digno de cantina italiana, servido num pão francês todo estiloso que só tem lá. Você pode escolher o complemento que quiser para o lanche, mas não pode esquecer da famosa batata rústica (batata binge cozida inteira, na casca, com sal e alecrim, frita na óleo e servida com dentes de alho cozidos em azeite). É um troço, assim, indescritível. Pena que para acompanhar você não vai poder pedir aqueeeela Coca, pois é mais um daqueles lugares que “só tem Pepsi, senhor”. Não importa, vale experimentar o muito bem tirado chopp Brahma e as opções exclusivas dos caras, especialmente o Tropicália (lanche padrão, coberto com generosas fatias de linguiça picante chapeada, molho de tomate acebolado, queijo fundido e maionese), o Moóca (hamburguer à milanesa, com mussa de búfala, rúcula, tomate, beringela, abobrinha grelhada e manjericão) ou o famoso Amarelinho (um zoiudo frito na manteiga aviação, queijo artesanal, tomate caqui apimentado e orégano). ?

3. Chico-Hamburguer

Esse aqui é um caso sério. Tradicionalíssimo, datado de 1963 (que época pra baixa gastronomia paulistana, hein?) porém completamente reformulado, visual e gastronomicamente falando. Gerou muita polêmica quando o reformou o ambiente e o cardápio, modernizando a decoração e fazendo uma limpa nas opções de lanches, restando hoje apenas três dos originais. O caso é que não tem mais cara de lanchonete clássica, mas em contra-partida tem atendimento eficientíssimo: dificilmente se espera mais que dez minutos pelo lanche, mesmo num sábado à noite. Preço justo, ótimas e bem servidas fritas ($10), excelentes onion rings ($13),  maionese de ervas ou hortelã (extra por R$4) e a melhor parte: os caras tem um jeito único de fazer hamburguer, que o torna mais suculento e tasty que a maioria. Um senhor concorrente para os figurões que custam o dobro por aí, especialmente o cheese-picanha ($15!) que dá salada, cebola frita, mussa e maionese, com opção extra do catupiry mais cremoso de que você já ouviu falar. Ah sim, fica ali na Av. Ibirapuera, bem fácil de achar, e de estacionar – basta deixar o carro nas ruas residenciais que ficam bem atrás. Opção boa, barata e bacana. Verifique.

2. Joakins

Esse não vai te decepcionar. Ao contrário dos demais, é sempre Top5 em qualquer lista por aí e não é à toa: localizado no coração do Itaim Bibi desde 1966 (que década foi essa!), lotado a qualquer hora do dia e da noite, estacionamento com manobrista cortesia, ambiente bem decorado e funcionários atenciosos, rápidos e eficientes. Tá, mas e o hamburguer? Carne gostosa, muito bem servido, temperadíssimo e com diversas opções de acompanhamentos, que vão de cebola (crua, frita ou ambas) a creme de milho. Bom cheddar, catupiry ok, ótimo bacon e um senhor milk-shake. Aliás, o milk-shake: há quem diga que o do Milk&Mellow é melhor, mas a escolha é certamente difícil (também pudera, custa 20 mangos e se você pedir pra dividir em dois copos os caras cobram 10% a mais!). O chopp é tão bem tirado quanto na Lanchonete da Cidade, os refrigerantes e sobremesas têm preços um pouco mais acessíveis que os dos lanches, mas elas são bem simples (exceção feita ao petit gateau, muito bom) e os refris nem sempre vem ao gosto do freguês (pede com limão, vem sem; pede sem gelo, vem com um monte). Vale a pena? Cada centavo. Detalhe: se você sempre ouviu seus amigos dizerem que a maionese de lá é imbatível, é porque eles não conhecem a do primeiro colocado do ranking. Chegue cedo (lotaaaado) e divirta-se.

1. A Chapa

Para simplificar, basta dizer que lá está a melhor maionese do mundo. Sim, a melhor maionese do mundo. A mesma receita desde 1967 (hauuhauhauha, parece brincadeira) e até hoje ninguém conseguiu repetir o feito dos caras. Não é só, o ambiente da filial que eu frequento (Al. Santos) é o mesmo desde 1998: clean, limpo, com televisões sempre ligadas nos jogos de futebol locais e ótimo atendimento. Os lanches são muito saborosos, feitos com cortes especiais da Wessel Culinária & Carnes (conheça o cara aqui) e hambúrgueres especiais de 200g, com 50% menos gordura que os comuns, mas tão saborosos quanto. Lá você também encontra pratos rápidos, sanduíches no pão Ciabata, ração veggie,  lanches à base de frango requintadíssimos e um tal de Danger Max Dog, que é um dogão mexicano com bacon e maionese absolutamente incomparável. Batatas country wedges,  onion straws (em vez de rings, as cebolas são servidas em palitos crocantes, com tempero picante), café Suplicy no ponto certo, Mostarda French’s e catchup Heinz a vontade, além da possibilidade de parar na rua, em frente, sem precisar gastar com estacionamento ou preocupar-se com manobristas. Com média de preço situada entre o Joakins e o Chico Hamburguer, esta é a sempre a minha primeira escolha em terras bandeirantes.  Saiba mais no site dos caras.

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Lugares Bacanas em São Paulo (2) Teatrix

Conheça o Teatrix: bar, bistrô, restaurante e teatro no mesmo lugar, a casa é inspirada nos grandes teatros antigos, com cortinas vermelhas e arquitetura imponente. Conta com uma obra do modernista John Graz e belos painéis inspirados em peças antigas. No cardápio, pastéis com recheios classudos, massas, omeletes, ovos mexidos, carnes e sobremesas requintadas, tudo a preço justo pelo ambiente que oferece, ainda mais tendo-se a oportunidade de subir as escadas e assistir a uma peça num mini-teatro para cerca de 50 pessoas.

Ok, o lugar é apertado e as cadeiras não são as mais confortáveis do mundo, mas a idéia é sensacional. Serramalte e Original por 6 mangos, longneck de Skol por 4 pila, petit-gateau com morangos por 9 contos. Rola estacionar na rua (a Al. Peixoto Gomide na altura do número 1000 é bem tranqüila nos fins de semana à noite) e também tem serviço de manobrista. Vai lá!

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Lugares bacanas em São Paulo (1) Padaria Santa Tereza

Tá. Já que não consigo arrumar tempo para fazer um post minimamente interessante, vou atacar de pílulas da capital paulista.  E vou começar por uma das atrações mais queridas de São Paulo: a gastronomia. Antes, um aviso: não esperem de mim recomendações cinco cifrões, restaurantes franceses, clube do picadinho ou similares. Eu curto mesmo é baixa gastronomia: butecagem honesta, padocas sinceras, pizzas de borda grossa e recheada, hamburguerias distintas e beberologia aplicada.

Objetivamente, abro com um clássico: Padaria Santa Tereza. É, tão clássico que nem site tinha até bem pouco tempo atrás – confira – coisa que se espera de um estabelecimento que se estabeleceu (hehe) em 1872. Está ali na Praça João Mendes, entre prostitutas, bancas de flores e advogados, atrás da Catedral mais bonita do Brasil.

Frequentadíssimo pelos nobres causídicos que habitam as repartições próximas, a festejada padaria é a mais antiga de Sampa e uma das mais movimentadas durante a semana. Há quem conte mais de cinco mil pessoas ao dia, a maioria atrás de doces suculentos, dos salgados premiados e dos lanches generosos que são servidos no térreo. Mas o tesouro está ainda mais escondido: logo na entrada à esquerda ou um pouco mais à frente pelo elevador estão os acessos ao suntuoso piso superior, com piso e móveis de madeira, ambientado no século XIX e ricamente decorado com fotos da época. Detalhes aqui.

O cardápio é variado e deve ser conferido in loco, mas desde logo recomendo o Filé Oswaldo Aranha e o Parmegiana. Este, calórico ao extremo, empanado com aquele bom e velho farelo de pão italiano e carregado de tempero do molho. Aquele, com alho bem picado e no ponto certo. Tão obrigatória quanto, é a coxa-creme servida no térreo. O salgado sai a quatro mangos e os filés variam de 20 a 40 pilas, para duas pessoas. Falam muito também da canja e dos risotos, a conferir.

Só um detalhe: como quase tudo no centro, fecha às 22h durante a semana, mas atende apenas até às 20h aos sábados e domingos. Apesar do horário reduzido, vale mais à pena ir no findi, porque os pratos são preparados com calma e servidos com mais esmero. Como merecem.

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Lago Titicaca

Segue belíssimo texto da antiga coluna  “Outro Olhar” sobre aquela imensidão azul que me dava tanta saudade da minha terra quando estava lá… e que hoje me dá tanta saudade de lá quanto estou aqui. Curiosamente, me deparei com esses escritos exatos quatro anos após a viagem. Espero que apreciem tanto quanto eu!
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Titicaca, uma viagem
 
O shamã (“paq’o”) levantava até os olhos as pequenas folhas de coca, murmurando e invocando em quéchua os pedidos de proteção, e colocava as três folhas oferecidas no pequeno monte aos seus pés, em meio a sebo e lã de ovelha, milho, flores. A cerimônia já durava duas horas, sempre regada a goles de álcool puro e chicha, na invocação dos “apus” (espíritos das montanhas), de Pachamama (a deusa, a mãe terra), entremeando cada chamado com o sinal da cruz. Um sincretismo ligado à pura sobrevivência, na tentativa de manter o credo antigo e não ofender o Deus dos invasores espanhóis.
Então, abrindo um pequeno espaço no círculo de oferendas e apanhando um punhado de folhas de coca do monte ofertado, o shamã passou a deixar que as folhas caíssem de sua mão, como uma chuva verde que ia se depositando, formando posições, desenhos observados com atenção e murmúrios. E os presságios vieram. Respostas cifradas às perguntas que atormentam. Presente, futuro, felicidade, vida. Ao lado, um dos últimos dos grandes tecelões do Titicaca interpretava as palavras desconexas, que borbulhavam da boca aberta, rasgada, do rosto febril do curandeiro em transe.
Lá fora, a noite de lua lançava sua luz sobre o lago de pequenas ondas, que transmitiam um movimento de calma, equilíbrio, e se perdiam ao sul, onde os nevados da distante Bolívia mostravam seus cumes brancos. Na pequena casa de adobe construída em mutirão pelos amigos do tecelão, portas e janelas fechadas, apenas as pequenas velas de sebo de ovelha resplandeciam e faziam as sombras se moverem a cada movimento do shamã. Silêncio. Às escondidas. Como no passado. Fugindo da nova fé imposta, renovando as noites imemoriais de um povo, mantendo viva sua ligação com os deuses e povos antigos, já retornados à mãe terra.
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Nove de Julho

09-07

Nove de julho, ok. Taí um feriado cheio de significado para quem gosta de história, mas que não passa de uma boa desculpa para fugir para a praia por parte da maioria dos paulistanos.

Vou aproveitar a data e escrever alguma coisa sobre um dos monumentos mais interessantes e emblemáticos que temos em São Paulo, que depois  da construção da polêmica Ponte Estaiada foi meio que deixado de lado: o Obelisco do Ibirapuera.

São Paulo relembra hoje setenta e oito anos da chamada Revolução Constitucionalista, violento movimento que marcou a luta paulista na Revolução de 30, cuja derrota militar é celebrada como um triunfo cívico na materialização que significa aquela bonita construção.

Enquanto os desfiles cívico-militares acontecem, praticamente ninguém se lembra que os restos mortais de muitos soldados estão guardados sob o monumento. Também pudera: o estado do local é lastimável e virou até outdoor alguns anos atrás. Hoje está fechado para visitação por motivos jurídicos e carece de investimentos e melhorias.

Àqueles que se interessam por detalhes do movimento, do monumento e da batalha por sua conservação, indico artigo muito bacana do periódico Migalhas. O texto conta um pouco da revolução, dos soldados e do passado e futuro do monumento, que eu considero como o mais bonito de Sampa (depois do  Estádio do Morumbi, claro, hehehe).

Quem quiser se aprofundar um pouco mais pode visitar o blog da família Júlio Prestes, cuja figura está intimamente ligada à Revolução e seus motivos e que contém vasto material a respeito. Outro site imperdível é o Tudo por São Paulo.

Mais sobre Sampa City e sua história? Em São Paulo Passado você encontra material suficiente para perder horas pensando no que foi e no que poderia ter sido. Já Memórias do Front fala com autoridade do movimento de 1930 e São Paulo Abandonada trata da condição atual de imóveis históricos paulistanos.

São belos guias para o turista que vem a São Paulo conhecer tudo com propriedade e também para o paulistano descobrir algo mais sobre a terra onde vive.

Grande abraço e curtam o feriado!

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Gastronomia e viagens

Na falta de tempo para escrever algo por aqui, compartilho com vocês um texto muito interessante sobre gastronomia e viagens.

Sempre soube de estudos sobre características comuns surgidas em povos distantes geograficamente, como aquelas teorias do paleocontato de Däniken, que verificou detalhes culturais similares na arte de alguns povos isolados, mas nunca tinha imaginado tudo isso relacionado a comida e sobrevivência. Visitem o texto original no site Viagem a Gastronomia. Ótima pedida.

Você não come o que gosta; gosta do que come
Celso Japiassu

É possível conhecer um povo pela sua história, acompanhando sua evolução e suas conquistas civilizatórias. Ou então ler a obras dos seus escritores, seus poetas, músicos, seus diferentes artistas, tomar conhecimento do trabalho dos seus cientistas, da obra dos seus politicos, compreender suas crenças e mitologia. É interessante também analisar a cultura popular de um país dando uma olhada na programação da sua tv. Ela mostra como esse povo se diverte, se informa e como se relaciona entre si, quais os seus preconceitos e visão do mundo. É uma alternativa à história, à sociologia e à antropologia, que são as formas científicas de se conhecer um povo e a sua civilização. Mas penso que uma maneira mais prática de se conhecer um povo é saber como este povo come. Um turista, apressado e superficial como são todos os turistas, pode ter uma boa noção sobre como são os habitantes do lugar onde se encontra pela primeira vez na vida, visitando os museus e os monumentos da cidade; mas uma feira livre lhe dirá com mais precisão o que essas pessoas plantam, criam, produzem e comem. E até mesmo como pensam. Sua vida diária está exposta nas barracas de feira junto com a matéria prima que vai abastecer sua cozinha e guarnecer sua mesa. É como se você chegasse na casa de alguém e de imediato fosse direto visitar a cozinha. É uma forma de conhecer a intimidade daquela casa, com a diferença de que, visitando uma feira ou um mercado popular, não há qualquer invasão de privacidade. Continue lendo “Gastronomia e viagens”

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