Conheça a Serra da Capivara – PI

Serra da Capivara
A capital da pré-história brasileira

Durante muito tempo, acreditou-se que a colonização da América havia se dado por volta de 12 mil anos atrás, quando  grupos de seres humanos atingiram o continente vindos da Ásia, atravessando o Estreito de Bering, de onde foram se espalhando pelo continente através dos séculos. Pesquisas recentes, entretanto, apontam ser pouco provável que isso tenha acontecido nessa época, eis que aquele corredor não possuía vida vegetal ou animal, ou seja, humanos que tentassem usar a passagem não teriam comida e outros recursos vitais para sobreviver à viagem.

Hoje, acredita-se que o atual território brasileiro foi povoado por homens muito tempo antes, entre 40 mil e 50 mil anos atrás. Segundo essas teorias mais recentes, especialmente as que envolvem pesquisas genéticas, identificaram-se traços de DNA de uma população relacionada aos atuais aborígenes australianos e nativos da Nova Guiné, entre o Sudeste Asiático e a Oceania, na formação de populações tradicionais brasileiras importantes, como os suruí, os karitiana e os xavante.

Dentre os países da América do Sul, o Brasil contribui com evidências muito significativas destas teorias para os estudos arqueológicos mais modernos, especialmente pelos estudos realizados nos estados de Minas Gerais e do Piauí. Neste último, foram descobertos por meio de estudos e pesquisas lideradas pela arqueóloga Niéde Guidon, ossos de animais pré-históricos, fragmentos de cerâmica, machados de pedra, fogueiras e o maior conjunto de pinturas rupestres a céu aberto do planeta, atualmente protegidos pelo Parque Nacional da Serra da Capivara.

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Cuba de mochila: treze dias de praia, rum e revolução

Se você já sabe porque deve ir para Cuba e já conferiu nosso Guia de Cuba para Mochileiros, é hora de conferir o relato dessa mochilada que rolou de 05/05 a 17/05/2016, com dados atualizados em 2017. Descrevi tudo que julgo importante sobre Havana, Trinidad, Santa Clara, Viñales e Cayo Largo der Sur, exploradas com calma em treze dias muito bem aproveitados. Espero que gostem e coloco-me à disposição para responder às dúvidas que surgirem. Buen provecho!

DIA 1

Quem não gosta de se surpreender, não pode ser mochileiro.

Cuba me surpreendeu logo no primeiro contato. Pouco mais de uma hora depois do táxi me deixar na casa da Sra. Isabel, já estava nos arredores do Passeo del Prado, caminhando de mãos dadas com minha esposa sob o lusco-fusco do entardecer. O primeiro contato com Centro-Havana me assustou um pouco, dada a antiguidade dos imóveis, com suas fachadas mal conservadas e o aspecto decadente dos equipamentos públicos. Em cinco minutos de caminhada, entretanto, já caíra no famoso calçadão do século XVIII, rodeado de edifícios neoclássicos, belas estátuas de bronze com formato de leões, cavaletes com obras de arte à venda, crianças ensaiando com seus instrumentos musicais e idosos apreciando a paisagem sentados em bancos de mármore bem polidos e limpos. “Havana é o próprio contraste”, pensei.

Ao final do Paseo, já na transição para Havana Vieja, topei com uma rua escura. Já desprovido de meu smartphone, inútil num país quase sem internet (atualização: em 2017 já há hotspots de acesso espalhados pela ilha – saiba mais no site da ETCSA )  consultei aquele que seria meu maior aliado na viagem: o mapa dos arredores que imprimira em casa, dias antes. O caminho para o restaurante que procurava estava correto, minha segurança de caminhar no escuro numa capital desconhecida, nem tanto! Inspirado pelo discurso assertivo de minha anfitriã momentos antes, tomei coragem e prossegui. Poucos passos pude dar, entretanto, quando me dei conta de que estava sendo seguido. De canto percebi sombras atrás de mim, acionando de imediato o sentido-paulista de prontidão. Apertei. As sombras aceleraram também. Pensei “perdi”. Aceleraram mais. Cerrei os punhos esperando pelo pior e me virei. Minha esposa suspirou.

Era um jovem casal, também de mãos dadas, com um semblante tranquilo, temperado por uma irreverência que me incomodou de início, mas acalmou na sequência. “Tranquilo“, disse o rapaz, enquanto pousava sua mão esquerda sobre meu ombro. “Es en Cuba. No hay violencia. Se puede caminar sin tener que preocuparse”. A garota riu e partiram, ele com uma garrafa de rum na mão, ela agarrada a ele, sumindo na noite.

Foi um tapa na cara mais que bem-vindo. Eu estava longe de casa. Eu não sabia de nada. Eu não estava preparado. Eu já estava adorando.

Ainda com o sabor de surpresa na boca, fomos ao majestoso Hotel Inglaterra, comprar na agência da Cubatour nosso pacote para Cayo Largo der Sur ($200, tudo incluso) para onde iríamos em dois dias. Resolvemos tudo em cinco minutos e por volta das 20h chegamos ao El Trofeo para jantar. Cara, que lugar bacana! À primeira vista parece uma construção abandonada, mas logo depois de adentrar a portinha você avança sobre o corredor escuro, desviando do movimento, tateando pelo corrimão envelhecido e topa com uma escada. No primeiro andar, uma porta leva a um elegante salão, com mesas bem atoalhadas, garçons elegantes e um público sofisticado. Fica pra próxima, né? Segundo andar, aqui sim, uma portinha mais simples nos levou a um salão menor, cheio de cortinas, também lotado. Observei que garçons apressados carregavam despejavam mojitos nas mesas e já ia entrando quando uma hostess bastante simpática me arranjou uma mesa de canto – ótima para apreciar o movimento – e em quinze minutos estavam jantando. Por $20, jantamos um bife uruguayo (o parmegiana deles, composto por um gigantesco, alto e suculento corte próximo do contra-filé, coberto com presunto, molho te tomate e muçarela), acompanhado de batatas souté bem temperadas, dois sucos de manga deliciosos e um mojito – o primeiro de muitos – bem feito. Um primeiro dia perfeito!

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Cuba para Mochileiros

Um guia para explorar Cuba de mochila

ATUALIZADO!Atualizado em 21/07/2020

Como já é de praxe, após a introdução, optei por separar o relato com dicas de roteiro deste pequeno guia com as informações relevantes sobre o destino. Dessa forma, acho que fica mais fácil para cada público localizar exatamente a informação que precisa, sem precisar escavar mais textos que o necessário.

Como falo aqui de um sonho de garoto, aviso ao leitor que o texto é longo, as dicas são várias e simplesmente não pude evitar o exercício da opinião quanto às inquietações que a vida em Cuba me despertaram. Não posso negar que além de visitar as belas praias e curtir a história do lugar, boa parte de meu desejo de mochilar onde Che e Fidel construíram a Revolução era investigar por conta própria como é viver uma vida diferente no país mais interessante do mundo. Para poupá-lo, leitor, de paixões repentinas e palpitações angustiantes, optei por deixar a política de lado.

A seguir, portanto, os dados objetivos que pude coletar pessoalmente. Desejo sinceramente que sejam úteis para tranquilizar corações inquietos que ainda não decidiram se vale a pena conhecer um destino tão peculiar.

O que esperar de Cuba?

Para além dos motivos que citei no post anterior, resumiria Cuba numa única palavra: experiência. É um destino mochileiro por excelência.

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Vá para Cuba!

Alguns motivos suficientes para que você deixe de lado ideias pré-concebidas e parta para o mochilão mais intenso das Américas

Se você é brasileiro, certamente já ouviu algumas vezes a expressão, provavelmente num contexto não amigável. Eu mesmo exitei bastante para começar a escrever esse texto, levei meses para começar, mas o sentimento de que não poderia guardar apenas para mim as experiências que vivi naquele país me trouxe até aqui. Vamos em frente.

Cuba é tão incrível e surpreendente, que eu já perdi as contas de quantas histórias relatei a amigos, colegas e conhecidos do que vivi naquela ilha. Asseguro-te, caro leitor, que minha experiência ali foi tão intensa que dificilmente conseguirei amenizar nas tintas aquilo que emana do coração. Te digo para seguir em frente sem cautela e sem moderação. A única regra é despir-se de preconceitos. A única recomendação é abrir sua mente.

Procura motivos?

Arquitetura peculiar em Havana
Arquitetura peculiar em Havana

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Dicas para o Mochileiro em Ushuaia

Atualizado em 28/04/2017

Visitar o fim do mundo sem gastar muito é uma tarefa complicada, mas não impossível. Como falei no relatei no post anterior – Mochilão, Neve e Natureza em Ushuaia, comprei minha passagem pela Aerolineas Argentinas porque era a única que oferecia Ushuaia na opção “múltiplos destinos”. Esta é a primeira dica: se você não pretende visitar Buenos Aires nessa viagem, compre os trechos São Paulo – Buenos Aires – Ushuaia nesse formato, pois sairá bem mais barato do que comprar os trechos separados. Tentei também Avianca, Tam e Gol, mas em qualquer opção ficava bem mais caro. Se você optar por ir na baixa temporada (abril/maio ou setembro/outubro) também pode se arriscar e comprar apenas o trecho que vai para a capital. Deixar para comprar a passagem para o fim do mundo por lá pode sair mais barato. Na alta, nem pensar.

E por falar em temporada, mesmo que seja primavera ou outono no hemisfério sul, como a cidade é a mais austral do mundo, a neve é garantida, especialmente nos locais mais altos como os cerros. Portanto, prepare-se para eventuais atrasos por conta de mau tempo. Também por conta do clima, vale a dica: Ushuaia reúne lagos, montanhas, cachoeiras, picos, florestas, geleiras, rios e ainda por cima está localizada numa baía. Atividades não faltarão, portanto, vale a pena pesquisar bem o que se quer fazer para chegar já com um itinerário na cabeça.

Parque Nacional Tierra del Fuego 4

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Ilha de Páscoa para Mochileiros: Tudo que você precisa saber sobre os Moais

moais

Atualizado em 03/08/2018

Apesar de todas as atividades que a ilha proporciona a seus visitantes, o que os milhares de mochileiros vindos dos quatro cantos do mundo querem mesmo ver em Rapa Nui são os moais.  Desde 1722, quando o holandês Jacob Roggeveen ali aportou, essas enigmáticas figuras já fizeram seus primeiros fãs, que indagam até hoje quem, como e para quê foram feitos os monumentos.

Meses antes de viajar a ilha, tive contato com o incrível livro “Colapso“, do ganhador do prêmio Pullitzer Jared Diamond. A história da sociedade organizada e próspera que entrou em colapso em conseqüência da degradação ambiental me deixou maluco para conhecer Rapa Nui e foi minha principal motivação para a viagem. Segundo a teoria de Diamond, um pequeno grupo de colonizadores da Polinésia ali chegou no século X. Trezentos anos depois, o acentuado aumento democráfico e a obsessão pela construção das estátuas de pedra teriam levado à derrubada de toda a mata nativa, resultando em guerras entre as tribos, fome (e canibalismo), súbito declínio populacional e por fim… colapso. Segundo Jared, Páscoa é “o exemplo mais claro de uma sociedade que se autodestruiu ao explorar demais os próprios recursos”.

Suas pesquisas concluíram que em seu auge, a população da ilha chegou a quinze mil indivíduos. Derrubadas todas as árvores, a fauna se foi tempos depois e seguiram-se “fome, declínio da população e canibalismo”. Quando os europeus chegaram, já no século XVIII, encontraram um grupo de menos de quinhentos indivíduos, em condições bastante precarizadas e quase todos os moais tombados ao chão. Suas grandes proporções e o formato inusitado já chamaram a atenção desses exploradores, mas o primeiro a estudá-los seriamente foi o norueguês Thor Heyerdahl, que ali chegou apenas em 1950.

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Ilha de Páscoa para Mochileiros – O Guia Definitivo

Atualizado em 25/06/2019

Um dos destinos mais misteriosos do mundo, a Isla de Pascua (“Rapa Nui” para os nativos) é uma ilha polinésica localizada na porção sul do Oceano Pacífico,  a cerca de 3 700 km de distância da costa oeste do Chile.

Antes de tudo, cabe esclarecer o termo geográfico “Polinésia”, que abrange um conjunto de ilhas de 298.000 km2 localizadas entre os trópicos. Hawai e Samoa (atualmente sob domínio dos EUA), Tokelau (Nova Zelândia), Marquesas, Tuamotu, Tubuai e Taiti (francesas, daí o termo “polinésia francesa”) são as mais conhecidas, sendo a Ilha de Páscoa (Chile) a porção de terra mais ao leste.

Suas particularidades politicas, culturais e geológicas a tornam única em vários sentidos. Talvez sua característica mais marcante seja o formato triangular, que surgiu a partir de três vulcões atualmente adormecidos que emergiram do mar em épocas bastante distintas. O mais antigo, ao sul, chama-se Poike e entrou em erupção há cerca de 3 milhões de anos. A “estrela” chama-se Rano Kau, tem 2 milhões de anos de idade e fica no canto oeste da ilha, consistindo uma de suas principais – e mais belas –  atrações vide post específico). Já o caçula, de apenas 200.000 anos bem vividos, chama-se  Terevaka e  fica no lado norte da ilha, sendo atualmente (2013) o único fechado à visitação Todo o triângulo ocupa 170 km², com 510 metros de altitude, sem grandes aclives ou declives, o que torna a ilha facilmente explorável. E por falar nisso, por “facilmente explorável” entenda-se a ilha toda, já que o clima subtropical garante temperaturas agradáveis o ano todo, especialmente em janeiro e fevereiro, cuja média é de 28 °C. No inverno, a mínima julina raramente cai abaixo de 13 °C.

Dos seus quase quatro mil habitantes, cerca de três mil vivem no centro urbano: Hanga Roa. Lá ficam o aeroporto local (Mataveri) , quase todos os hotéis e pousadas, boa parte dos restaurantes e praticamente todos serviços, que incluem Correios, agências de turismo e mergulho, locadoras de veículos, farmácias e mercados. Ao redor, uma infinidade de atrações: estradas off road, a cênica e pacífica praia de Anakena, trilhas de variados níveis de dificuldade, diversas cavernas, centenas de sítios arqueológicos e o Parque Nacional Rapa Nui, onde ficam a aldeia cerimonial de Orongo, um simpático museu e  Rano Raraku – a famosa fábrica de moais.

E por falar neles, vamos ao que interessa!

Investigar essas belas e fascinantes figuras é uma das atividades mais incríveis a que já me propus, ainda que o tenha feito com pouca diligência. Aprendi muito nas conversas com os nativos, no documentário que assisti no voo de ida pela Latam (procure por ele no sistema multimídia das poltronas ou no app de bordo) e nos inúmeros sites sobre o assunto disponíveis na internet . Se quiser saber um pouco mais sobre esses carinhas misteriosos, confira um material bacanudo com links para pesquisa amealhados na época em que preparava a viagem.

Tão interessante quanto os monumentos, é a história dos bravos navegadores do oeste do Pacífico que cruzaram mais de três mil quilômetros pacífico adentro, por volta do ano 1000, para estabelecer uma essa civilização tão intrigante. Os rapa nui construíram em seu auge mais de oitocentas dessas gigantescas estátuas de pedra vulcânica, algumas com mais de 10 metros de altura e pesando até 80 toneladas, cuja história é contada e reverenciada pelos nativos com muito orgulho. A técnica empregada em sua construção, além de suas funções religiosas/esotéricas, foram intensamente debatidos por muito tempo e até hoje geram acaloradas discussões, ainda que boa parte de sua mística já tenha sido debelada por estudiosos famosos como o cientista Carl Sagan, o engenheiro/arqueólogo Pavel Pavel e o biólogo Jared Diamond.

Descoberta no domingo de Páscoa de 1722 e posteriormente anexada pelo Chile, a Ilha de Páscoa é provavelmente um dos destinos mais interessantes do ponto de vista histórico e cultural daquele país, um dos mais famosos da América e um dos mais estudados de todo o mundo. Mas não é só: as paisagens são incríveis, a água tem cor e visibilidade fenomenais, o clima é ameno na maior parte do ano e o povo é tão amistoso que mesmo estando no ponto mais isolado do planeta você se sente em casa

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O incrível vulcão Rano Kau da Ilha de Páscoa

Conhecer a Ilha de Páscoa, para mim, foi realizar uma série de sonhos, todos de uma vez: minha primeira incursão no Oceano Pacífico, meu primeiro voo sobre o mar, minha primeira viagem de 4×4 e… minha primeira caminhada a um vulcão.  Sim, um vulcão!

Descoberta curiosa para a maioria dos brasileiros, um vulcão é uma estrutura geológica que surge a partir da emissão de magma, gases e partículas quentes do interior da Terra para a superfície terrestre. Como sabemos, quando em atividade libera um grande volume de cinzas e gases na atmosfera, além da eventual – e lindamente perigosa – lava, tornando seu entorno um lugar “especial” para se viver.

Os vulcões ativos têm sua origem em decorrência dos movimentos de placas litosféricas, podendo entrar em atividade a qualquer momento. Alguns, como os famosos vulcões havaianos, liberam vapor de vez em quando e fazem a festa dos fotógrafos. O mais famoso por lá, Kilauea, expele lava desde que eu nasci. E já faz um tempinho.

Felizmente, um dia eles dormem, tornam-se inativos. Alguns viram paisagem de janela, como o El Misti no Peru, muitos tornam-se parque de esportes radicais e outros tantos se revelam ótimos pontos de mergulho. Nada, entretanto, bate a sensação de se conhecer um vulcão a três mil quilômetros de qualquer outra coisa, no meio do Oceano Pacífico, rodeado de pedras gigantes construídas por civilizações antigas e envolto numa paisagem de tirar o fôlego. Com a devida licença dos moais, esse bonitão aí da foto chama-se Rano Kau e para mim é a verdadeira cereja do bolo da Ilha de Páscoa.

Ranu kau de ladinho

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