Serra da Canastra (MG) : uma breve introdução

Atualizado em 2018

Este post, dos primórdios do blog, introduz características da região e trás dicas para uma breve visita. Confira informações completas, preços, passeios e dicas para compra de queijos-canastra no nosso roteiro econômico de 7 dias pela região clicando aqui.

A região da Serra da Canastra, na região sudoeste de Minas Gerais, possui algumas das bonitas paisagens mineiras. Apesar de desconhecida da maioria dos brasileiros, o turismo cresce a olhos vistos na região, que teve recentemente as estradas do entorno asfaltadas e urbanizadas. A região da SdC tem cerca de  200 mil hectares e abrange seis municípios: Vargem Bonita, São João Batista do Glória, Capitólio, São Roque de Minas, Sacramento e Delfinópolis,  estes últimos três margeando o Parque Nacional da Serra da Canastra.

Criado em 1972 para proteger os recursos hídricos da região, o Parna da Serra da Canastra protege as nascentes do Rio São Francisco, Rio Araguari e Rio Grande, proporcionando também o desenvolvimento da região, rica em atrativos ecológicos e turísticos, gerando renda para os moradores locais e favorecendo o desenvolvimento do mercado de hospedagem turística e a formação de guias da região. Dentro do Parque Nacional, a maior atração é a bela cachoeira Casca D’Anta, de quase 200m de altura, formando a primeira grande queda do “velho Chico”.  A paisagem basicamente preenche-se de  campos rupestres floridos, típico e matas de galerias, povoados por animais raros como o  tamanduá-bandeira,  o lobo-guará e o pato mergulhão e grande quantidade de capivaras, cuja carne é muito apreciada na região e veados-campeiros, frequentemente avistados nas montanhas. Se você optar por visitá-lo atente para o horário pitoresco: o parque abre às segundas, mas fecha às terças-feiras (exceto em feriados prolongados, janeiro e julho). O horário de entrada é até as 16h00 e a saída é permitida até as 18h00h. Depois, uma bela duma advertência espera o visitante, passível de multa. Note que existe uma estrada de cerca de 60 km que corta e dá acesso a outras menores, que levam ao Retiro de Pedras, a cachoeira dos Rolinhos, o cânion do rio São Francisco e a parte alta da Cachoeira Casca D’Anta, que normalmente fica intransitável na época de chuvas. Fomos lá em 2017!

A temperatura da região é amena, com média de  17 graus no inverno e 23 graus no verão, portanto leve roupas de frio e de calor. Chove bastante de dezembro a fevereiro, época em que visitei o parque e pude verificar a péssima condição de boa parte das estradas que o cortam. Se for de carro de passeio 4×2, prepare-se para bastante aventura (ver nota abaixo). Saiba também que a região é palco de diversos conflitos pela posse de terras e passa por um período conturbado em sua história. A implantação do Parque foi muito contestada na região, eis que a área protegida a ser desapropriada possuía dezenas de fazendas, várias delas em região de nascentes. Os fazendeiros resistiram por muitos anos, mas acabaram retirados à forceps pela Polícia Federal e até hoje a questão está sub judice. Entre as décadas de 70 e 90 foram diversos decretos ampliando e restringindo a área de abrangência do parque, motivados pelo lobby dos fazendeiros de um lado e o barulho dos ambientalistas de outro, mas hoje aparentemente o parque está estabilizado nos 200 mil hectares originais. Esperamos que continue assim e que a proteção efetiva saia do papel.

Note que a legislação é bastante severa em relação às permissões do parque, proibindo a prática de esportes radicais como rapel, pêndulo e escalada e restringindo a trilha da Casca D’Anta (parte alta para parte baixa e vice-e-versa) para grupos com guias credenciados. A entrada da trilha é monitorada, tanto embaixo quanto em cima, sendo que os turistas sem guia são avisados já na portaria que podem ver o entorno da cachoeira a vontade, mas não podem subir sob pena de multa. Se for, contrate um guia credenciado e reserve cinco horas para a  caminhada.
Feitas as apresentações, passo às informações atualizadas e impressões pessoais sobre a região:
1. Passei por lá entre os dias 26/12/2009 e 02/01/2010. Período de chuvas intensas e constantes, especialmente na minha base, montada numa fazenda de café em Carmo do Rio Claro, distante algumas dezenas de quilômetros da região. Voltei lá em 2017, para explorar a parte alta e experimentar os famosos “queijos canastra”, numa trip vindo de Capitólio. Saiba tudo sobre os queijos, a viagem e as cachoeiras no novo post.

2. As estradas de asfalto da região estão perfeitas. O trecho Carmo do Rio Claro – Alpinópolis (antigo Ventania) – Capitólio – Piumhi – Vargem Bonita está em excelente estado de conservação e muito bem sinalizado. De Vargem a São José do Barreiro as condições da terra estão bastante ruins com chuva. Há poucos postos de combustível, então vale alguma atenção por ali. Para quem vem de São Paulo, o caminho Fernão Dias – Pouso Alegre – Alfenas – Alterosa – Carmo – Alpinópolis – Capitólio – Piumhi – Vargem Bonita é uma boa opção, pois passa por lindas paisagens, é muito tranquilo, e não teve qualquer sinal de congestionamento tanto na ida quanto na volta. São poucos pedágios no percurso e há ótimos locais de parada para comer, sobretudo na segunda perna de viagem. Vale a pena para os paulistas, apesar da distância.

3. Canastra Parte Baixa: Para adentrar a parte baixa do parque, peguei a estrada entre Vargem Bonita e S. José do Barreiro e contei 9,8Km de terra sofridos na chuva de São José do Barreiro até a portaria. Na guarita ( Tel. 37-3433-1195) há um vigilante particular controlando horários de entrada e saída de automóveis e visitantes. A taxa de ingresso é barata, sendo o  estacionamento grátis. Atenção às distâncias: são 40 km de São Roque de Minas e 27 km de Vargem Bonita. Na volta, final de tarde, fomos apanhados por uma chuva moderada que deixou um ou dois trechos mais íngremes complicados de atravessar com carro 4×2. Numa manobra de ré para tentar vencer a subida, um dos carros acabou caindo numa valeta e não saiu mais. Com a ajuda de um guarda do parque que passava pelo local conseguimos retirar o carro. Há alguns jipeiros na região e não há muitos problemas em conseguir ajuda, mas não há qualquer sinal de celular por ali e são poucas as casas na região. Em condições de tempo ruins e veículo inadequado é bom ir preparado para problemas, mas qualquer 4×2 com cuidado vence bem o caminho. Atualize as informações e preços no site oficial.

4. Casca d´Anta. A cachoeira é mesmo impressionante, mais pelo volume d´água que pela altura de 186m. Tive a impressão de que a Janela do Céu (Ibitipoca-MG) é maior em altura, mas certamente o volume de água que cai da Casca d´ Anta é maior, especialmente com a quantidade de chuva dessa época. Os respingos são sentidos há vários metros de distância e o ruído do impacto das águas é ouvido há quase 1km!! A base da cachú fica toda encoberta pela névoa gerada pelo impacto, o que impede a visão da base e das pedras, inviabilizando a descida para banho. A sensação dos respingos é deliciosa e eles são tantos que é impossível uma foto sem molhar um pouquinho a máquina fotográfica. As pedras no entorno estavam bastante escorregadias e a trilha estava bem enlameada, tornando a descida bastante “interessante”. No caminho há algumas picadas para descida no rio, onde é possível banhar-se tranquilamente. A água não é muito gelada nessa época e o cuidado maior ali é com as cobras. Com a ajuda de um nativo, identificamos um filhote de jararaca passeando entre as pedras ali.

5. Trilha Parte Baixa – Parte Alta. Permanece a informação: o IBAMA vetou a trilha sem guia e o monitoramento é feito na portaria por registro de entrada e saída na cancela. Durante minha passagem por lá, presenciamos os guardas triangulando uma ação para impedir um grupo que possivelmente se preparava para fazer um rapel com acesso no meio da trilha, sem guia. Não sei se existe alguma repressão efetiva por parte da vigilância para quem apenas faz a trilha sem o acompanhamento, pois não encontramos ninguém no entorno que a tivesse feito. Não sei qual a motivação para impedir o acesso de quem vai sozinho (acidentes, talvez?) mas há placas informando, a proibição está expressa no site e os caras estão mesmo monitorando. Não fiz a trilha, pois mesmo que tivesse guia, não cheguei no horário adequado.

6. Furnas (Capitólio-MG). O passeio até a barragem é imperdível para quem está na região, especialmente no verão! Há bons locais para estacionar, dois belos mirantes para fotografar e apreciar a beleza e imponência da barragem. Está tudo recém-reformado e em ótimo estado de conservação. É possível passar com o carro por cima da barragem e a vista é de tirar o fôlego. Seguindo mais 5Km pela MG-050 chega-se a Cachoeira da Filó, que é sensacional. Há um local à beira da rodovia para estacionar e uma pequena trilha para seguir até a cachoeira (não tem estrutura alguma, ou seja, o acesso é free). No final, atravessa-se um tronco em estado de conservação apenas razoável e há um poço para banho muito bacana. O lugar é muito legal, bonito e a água não é gelada no verão, mas requer extrema atenção: nessa época do ano é necessário olhar o tempo todo para o alto da serra, pois quando chove ali a força das águas é absurda e vários turistas já morreram com as trombas d´água. O sinal mais evidente é o aparecimento de galhos e terra na água, seguindo-se aumento no volume. Feliz ou infelizmente, passamos pela situação e presenciamos a evacuação do lugar, liderada pelos locais em 30/12/2009! Na volta, reparamos na grande área de mato torto e pedras reviradas no entorno da trilha, o que demonstra que o cenário não deve ser bonito quando as trombas descem. Não ficamos para ver o resultado. Entretanto, o local é muito legal e vale a visita. Outras cachoeiras, restaurantes e passeios de barco no post mais recente.

7. Comer! Há pequenos restaurantes em Vargem Grande e São José do Barreiro. Escolhemos um logo na entrada de Vargem Grande. Self-service, buffet com boa comida caseira feita no fogão a lenha e servida em panelas de ferro. Na região de Furnas, a grande estrela fica na estrada para Capitólio: o Restaurante do Turvo, do qual falamos aqui. Outra atração, mais modesta, é o restaurante do Clube Náutico, que fica a cerca de 3km da barragem de Furnas (depois de passar por cima da barragem). Avisamos na portaria que procurávamos apenas um local para comer e autorizaram a entrada depois de alguns minutos. Dica: peça tilápia grelhada. O filé é fantástico e vem acompanhado de batata cozida com especiarias, legumes cozidos na manteiga, arroz, feijão e saladas, tudo muitíssimo bem temperado. Ótimo atendimento , local muito bonito e agradável, com vista panorâmica para o lago, cercada de árvores e por um preço camarada.

Como fiquei na casa de amigos, não pude conferir as pousadas da região. Anos mais tarde, retornamos à região e ficamos no  Hotel e Restaurante Chão Nativo – hotel confortável e com preço justo. Antes de sair, confira as condições meteorológicas da região e vá em frente. Há muito mais a ser explorado do que eu contei e certamente você vai gostar de saber que ao vivo a sensação de andar por aquelas bandas é muito melhor do que qualquer descritivo da internet. Boa viagem!

 

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