Mochila nas costas: São Paulo a Foz do Iguaçú de ônibus

De carro, de ônibus ou  à pé, todas as viagens têm seu lado fascinante. De carro, o ponto forte é a liberdade de ir e vir a qualquer hora, ficar quanto tempo quiser e ir embora assim que enjoar, mas a preocupação é constante com a procura de locais seguros para deixar o veículo e todos os cuidados que implicam uma viagem longa (combustível, óleo, manutenção etc.). Viajando de ônibus essa preocupação acaba e o viajante fica só, com a mochila nas costas, decidindo se pega uma condução ou se vai à pé. Como em 2009 viajei muito por aí de carro, optei por fazer um pouco mais de exercício dessa vez e fazer uma megatrip de ônibus. Os detalhes vocês conhecerão a seguir.

Inicialmente, a idéia era aproveitar as férias para conhecer direito o litoral catarinense, mas a exemplo da viagem ao sul do ano passado, o tempo não ajudou e tive que adiar esse destino mais uma vez. No início de março desse ano, as única regiões brasileiras com sol eram o oeste do Paraná e o nordeste. Como deixei para decidir na última hora e não haviam passagens para o nordeste, optei pela alternativa mais próxima: Foz do Iguaçú! Acabo de votar e afirmo categoricamente: experiência inesquecível. Confirmei muitas informações colhidas na internet pelos colegas forumeiros e agora aproveito para deixar minha contribuição com todas informações atualizadas. Espero que aproveitem bem.

Foz do Iguaçu, com toda a sua diversidade de atrativos, representa um dos mais belos destinos turísticos do mundo e hoje é a segunda cidade  mais visitada do Brasil, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Possui riquezas naturais incomparáveis, como o Parque Nacional do Iguaçu, tombado como Patrimônio Natural da Humanidade e onde estão localizadas as maravilhosas Cataratas do Iguaçu. Seus parques são administrados com esmero e servem de modelo em todo o país, a usina hidrelétrica de Itaipú, maior hidroelétrica do mundo em produção, é modelo de gestão compartilhada entre países no mundo inteiro e consegue a façanha de ser tão interessante quanto os atrativos naturais da região. A região ainda tem inúmeras opções de diversão, como trilhas interpretativas, rafting, rapel, escalada em rocha, arvorismo, passeios de barco em meio às quedas, sobrevôo das Cataratas de helicóptero, o lindo Parque das Aves, o Marco das Três Fronteiras, o encontro dos rios Iguaçu e Paraná e por aí vai. Nem acredito que demorei tanto tempo para conhecê-la!

Primeiro, um resumo rápido da viagem. Depois, todas as informações “técnicas” e dicas.

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Conheça a (desconhecida) Bueno Brandão-MG

Júlio Bueno Brandão foi um político mineiro, nascido em Ouro Fino em 11 de julho de 1858. Não cursou nenhuma faculdade de Direito, mas mesmo assim foi juiz de Direito de Camanducaia, juiz municipal e delegado de Ouro Fino. Segundo o historiador Antônio de Paiva Moura, trata-se do “mais bem sucedido autodidata da magistratura mineira” e ficou conhecido por governar por duas vezes o estado de Minas Gerais durante a República Velha. Em 1838 virou nome de cidade, batizando um simpático vilarejo localizado na Serra da Mantiqueira, que conta com altitudes de até 1600m. A temperatura média anual é de 16,5°C, com máxima no verão de 32°C e mínimas de até -4°C nos invernos mais rigorosos. Leve, portanto, roupas para ambas as estações, pois a regra geral é friozinho à noite e solzão durante o dia.
Bueno Brandão fica no Sul de Minas, a míseros 175km da cidade de São Paulo. É inacreditável que ainda não tenha evoluído o suficiente para atrair mais visitantes decididos a enfrentar suas estradas de terra e falta de sinalização, pois seus atrativos naturais contam com várias trilhas e mais de 30 cachoeiras de água gelada e límpida! Melhor assim, já que é um dos poucos destinos próximos de São Paulo que podem ser frequentados tranquilamente aos fins de semana e feriados, sem turbas de turistas ensandecidos e barulhentos.

Para quem vem de Sampa City, recomendo seguir pela Fernão Dias até Bragança Paulista e de lá pegar a estrada que segue para Socorro. Em Socorro é só seguir 6Km até o trevo de Bueno Brandão. De lá são mais 14km a BB, metade de terra em boas condições. Atenção:existe  apenas uma placa indicando o caminho no trevo, apontando para o Bairro de Lavras e Bueno Brandão. O trecho de terra é absolutamente tranquilo para qualquer 4×2.

Para lá, recomendo  ir de carro. As estradas são longas, as atrações são distantes, a sinalização é bastante precária e em vários trechos simplesmente inexiste. Os caras ainda estão engatinhando no ecoturismo e mesmo o Centro de Informações Turísticas não fornece informações confiáveis. Me deram um mapa lá em novembro de 2009 que não marcava distâncias, nem nomes de ruas ou bifurcações, ou seja, de nada servia. O melhor mesmo é escolher as atrações previamente e sair perguntando aos locais, sempre muito prestativos porém com uma noção de distância um tanto peculiar. Encha o tanque. rs

Por lá visitei boa parte das atrações principais. Algumas deram trabalho, outras não. Vamos lá:

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Serra da Canastra (MG) : uma breve introdução

Atualizado em 2018

Este post, dos primórdios do blog, introduz características da região e trás dicas para uma breve visita. Confira informações completas, preços, passeios e dicas para compra de queijos-canastra no nosso roteiro econômico de 7 dias pela região clicando aqui.

A região da Serra da Canastra, na região sudoeste de Minas Gerais, possui algumas das bonitas paisagens mineiras. Apesar de desconhecida da maioria dos brasileiros, o turismo cresce a olhos vistos na região, que teve recentemente as estradas do entorno asfaltadas e urbanizadas. A região da SdC tem cerca de  200 mil hectares e abrange seis municípios: Vargem Bonita, São João Batista do Glória, Capitólio, São Roque de Minas, Sacramento e Delfinópolis,  estes últimos três margeando o Parque Nacional da Serra da Canastra.

Criado em 1972 para proteger os recursos hídricos da região, o Parna da Serra da Canastra protege as nascentes do Rio São Francisco, Rio Araguari e Rio Grande, proporcionando também o desenvolvimento da região, rica em atrativos ecológicos e turísticos, gerando renda para os moradores locais e favorecendo o desenvolvimento do mercado de hospedagem turística e a formação de guias da região. Dentro do Parque Nacional, a maior atração é a bela cachoeira Casca D’Anta, de quase 200m de altura, formando a primeira grande queda do “velho Chico”.  A paisagem basicamente preenche-se de  campos rupestres floridos, típico e matas de galerias, povoados por animais raros como o  tamanduá-bandeira,  o lobo-guará e o pato mergulhão e grande quantidade de capivaras, cuja carne é muito apreciada na região e veados-campeiros, frequentemente avistados nas montanhas. Se você optar por visitá-lo atente para o horário pitoresco: o parque abre às segundas, mas fecha às terças-feiras (exceto em feriados prolongados, janeiro e julho). O horário de entrada é até as 16h00 e a saída é permitida até as 18h00h. Depois, uma bela duma advertência espera o visitante, passível de multa. Note que existe uma estrada de cerca de 60 km que corta e dá acesso a outras menores, que levam ao Retiro de Pedras, a cachoeira dos Rolinhos, o cânion do rio São Francisco e a parte alta da Cachoeira Casca D’Anta, que normalmente fica intransitável na época de chuvas. Fomos lá em 2017!

A temperatura da região é amena, com média de  17 graus no inverno e 23 graus no verão, portanto leve roupas de frio e de calor. Chove bastante de dezembro a fevereiro, época em que visitei o parque e pude verificar a péssima condição de boa parte das estradas que o cortam. Se for de carro de passeio 4×2, prepare-se para bastante aventura (ver nota abaixo). Saiba também que a região é palco de diversos conflitos pela posse de terras e passa por um período conturbado em sua história. A implantação do Parque foi muito contestada na região, eis que a área protegida a ser desapropriada possuía dezenas de fazendas, várias delas em região de nascentes. Os fazendeiros resistiram por muitos anos, mas acabaram retirados à forceps pela Polícia Federal e até hoje a questão está sub judice. Entre as décadas de 70 e 90 foram diversos decretos ampliando e restringindo a área de abrangência do parque, motivados pelo lobby dos fazendeiros de um lado e o barulho dos ambientalistas de outro, mas hoje aparentemente o parque está estabilizado nos 200 mil hectares originais. Esperamos que continue assim e que a proteção efetiva saia do papel.

Note que a legislação é bastante severa em relação às permissões do parque, proibindo a prática de esportes radicais como rapel, pêndulo e escalada e restringindo a trilha da Casca D’Anta (parte alta para parte baixa e vice-e-versa) para grupos com guias credenciados. A entrada da trilha é monitorada, tanto embaixo quanto em cima, sendo que os turistas sem guia são avisados já na portaria que podem ver o entorno da cachoeira a vontade, mas não podem subir sob pena de multa. Se for, contrate um guia credenciado e reserve cinco horas para a  caminhada.
Feitas as apresentações, passo às informações atualizadas e impressões pessoais sobre a região:
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Rumo ao Sul: Dias 14 e 15 ( de Urubici a São Paulo, passando por Curitiba)

Três Estados num só dia seria o título para o capítulo final dessa epopéia pelo sul do Brasil, mas no fim da viagem optamos por fechar a conta de forma mais tranquila e quebramos novamente o trajeto. Basicamente, eram três a opções para deixarmos Urubici para trás em direção a São Paulo, lembrando que descartei a BR-116 pelas dicas colhidas de conhecidos e de sites diversos da internet:

a. Asfalto, em direção ao norte, com 2,5 horas de viagem pela SC-430, chegando à BR-282 e depois na região de Florianópolis, na BR-101 (171 km no total).;
b. Terra, descendo a Serra do Corvo Branco (49km até Grão Pará – em boas condições) e de lá para a BR-282;
c. Asfalto, em direção ao sul, descendo a SC-430, Serra do Rio do Rastro – SC438 até Lauro Müller e de lá para a BR-282;

Como já havia feito as duas serras no dia anterior, o mais racional seria seguir pela SC-430 mesmo, em direção ao litoral. Peguei um pouco de trânsito no trecho final, que conta com apenas uma pista e muitos caminhões, mas em geral a descida transcorreu muito bem e cheguei a altura de Floripa depois de cerca de três horas. De lá, foi seguir pela BR-101 até o Paraná, cruzar o Estado, atingir a BR-116 novamente e apontar em São Paulo no fim do dia. A viagem poderia ser feita de uma vez, já que Urubici-SC está a 872km da capital paulista, mas depois de uma viagem de mais de três mil quilômetros, achamos mais prudente quebrá-la e  acrescentar mais um dia a viagem.

Como Bombinhas-SC estava próxima demais e o tempo não ajudava (cerca de 18 graus na data da partida) acabamos optando por Curitiba-PR. Lá seria ideal para abastecer (De Joinville-SC a São Paulo são poucos postos de combustível), comer num lugar legal, acostumar-se aos poucos com o trânsito, dormir bem e chegar tranquilo e descansado a Sampa City no dia seguinte, pouco antes da hora do almoço.

Sem planejamento, esse trecho final acabou se revelando um pouco mais complicado, pois a referência que eu tinha de procurar um Centro de Informações Turísticas na mítica Rua 24 Horas atrapalhou nossos planos. Apesar de constar até hoje no site oficial de Curitiba (veja aqui) o emblemático ponto turístico está fechado para reformas desde 2007! Como estávamos tranquilos quanto a hotéis, pois o posto de informações do local nos daria todo o apoio, aproveitamos o final de tarde para conhecer a bonita Ópera de Arame e seu entorno. Chegando a tal Rua 24 Horas, já próximo do crepúsculo, tudo que encontramos foram mendigos, sujeira e uma placa indicando a reforma. Naquele horário, todos os postos de informação já haviam fechado (claro, porque o da Rua 24 Horas era o único que funcionava 24 horas!) e tivemos de procurar um hotel sem qualquer apoio ou indicação.

Os hotéis do centro estavam todos lotados por conta de congressos que aconteciam na cidade e isso dificultou bastante as coisas. Não conseguimos muitas informações com os habitantes apressados do centro (se o que queríamos era um retorno gradual à vida da cidade grande, estávamos conseguindo) e acabamos pegando o carro e rodando à esmo na hora do rush, à procura de um lugar decente para dormir. Salvou-nos o Hotel Siena, localizado na R. Desembargador Motta, 1181, na esquina com a Av. Silva Jardim. Diária honesta de R$80 o casal e à uma quadra do Shopping Curitiba, próximo também do Shopping Crystal Plaza, Shopping Novo Batel e do Estádio do  Clube Atlético Paranaense. O ótimo atendimento, o quarto limpo e o chuveiro quente foi tudo que aproveitamos do hotel, além do excelente jantar no Shopping Curitiba. Se passar pela metrópole, fique por lá. Carro em Curitiba no horário do rush não ajuda, então se for passear durante a semana, prefira a “Linha Turismo”, que nada mais é que um ônibus estilo “jardineira” que te leva a todos os pontos turísticos e sai a cada meia hora. Porém, confirme antes se ele ainda existe pelo telefone, para evitar lances chatos como o da tal rua que nunca fecha.

Na manhã seguinte, bora pra Sampa City. A cidade é bem sinalizada e é fácil achar a saída para a BR-116. Seguindo em frente, se tudo der certo, em menos de cinco horas já se chega a capital paulista.  O primeiro trecho de viagem é bastante tranqüilo e bonito,porém ao chegar em Miracatú o motorista terá de decidir qual caminho pegar. Vencer a Serra do Cafezal via Rod. Régis Bittencourt – trecho da BR-116 entre São Paulo e Santa Catarina passando pelo Paraná – hoje em dia não é fácil (há trechos que ficaram parcialmente interditados por meses entre 2009 e 2010). Melhor é margear a serra via litoral, utilizando o Sistema Anchieta-Imigrantes. Privatizado em 2008, esse trecho da BR116 está sob responsabilidade de uma concessionária que já tratou de espalhar seis praças de pedágio no trajeto, perfazendo quase R$10 de pedágio, eliminando a única vantagem de seguir pela serra em vez do litoral: a economia.

Não é caro, mas devido a péssima qualidade do asfalto, a grande quantidade de caminhões, a imensa falta de segurança em boa parte do trajeto e as péssimas condições da estrada, sobretudo na Serra do Cafezal (entre os Kms 228 a 253) essa opção não é uma boa. Siga pelo litoral, utilizando a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (sem pedágio) e pegando, ao final, o Sistema Anchieta Imigrantes. Fique atento à sinalização e evite ser pego pelos radares, distribuídos em ambas as estradas para fiscalizar quem ultrapassa os 80km/h. A quilometragem de quem opta por seguir pelo litoral é maior, mas a viagem é uma das mais tranqüilas, bem sinalizadas e seguras do país.

E é isso. Fim da epopéia, porta-malas cheio de comes e bebes, memória cheia de histórias e lembranças. Uma das trips mais bacanas, tranquilas e bonitas que já fiz na vida, totalmente compartilhada com vocês. Espero que tenham apreciado e que as dicas e informações lhes ajudem a viajar tão bem ou melhor que eu naquele inesquecível mês de maio de 2009.

Grande abraço,
Raulzito.

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Rumo ao Sul: Dia 13 ( Serra do Rio do Rastro e Serra do Corvo Branco )

Falamos aqui de uma região de nobreza ímpar para o Brasil, em aspectos históricos, geológicos, científicos e culturais. Foi com imenso prazer que percorri os 56km da Serra do Corvo Branco e os 154km da Serra do Rio do Rastro que ligam Urubici a Grão Pará, ambos no coração da serra catarinense. O percurso agrada aos amantes de viagens rodovirárias, por ser um dos mais cênicos do país e interessa a todo entusiasta de história e geografia.

A Serra do Rio do Rastro é uma das serras de Santa Catarina que ligam o alto centro ao baixo sul do estado, cortada pela rodovia SC-438, proprietária de uma vista espetacular da natureza ao redor. Muita mata, belas cachoeiras, presença de animais selvagens e lindas paisagens esperam os aventureiros que testam suas habilidades ao contornar o inusitado traçado em zigue-zague da rodovia. Começa na cidade de Lauro Müller, com altitude de 1460m, num belo mirante localizado bem no topo da serra, onde há estacionamento para os turistas apreciarem a vista, tirarem fotos, comerem um lanche e contemplarem dezenas de quatis que se aproximam das lanchonetes em busca de comida. Aqui vale a mesma advertência que fiz no post do sexto dia de viagem (Parque Nacional da Serra Geral).

Todo o  percurso é muito íngreme, cheio de curvas fechadas, que devem ser feitas lentamente, objetivando contemplar a paisagem, observar os animais e rodar com segurança. No caminho podem ser vistos, além dos quatis, alguns felinos de pequeno e médio porte, macacos (não vi os  bugios e macacos-prego que me informaram, mas avistei alguns saguis nas árvores próximas à rodovia). Há registros de pacas, mãos-peladas, tatus e tamanduás nas proximidades, sempre observados por aguias, tiês-sangue, tucanos, araras e papagaios diversos. A região está totalmente preservada.

Culturalmente, a relevância da Serra do Rio do Rastro está ligada a teoria do antigo supercontinente Gondwana (Africa + América) relacionada com a chamada Coluna White, conduzida por Israel White, que constitui um marco histórico na evolução do conhecimento da geologia no Brasil. O  trabalho de White e seus colaboradores, executado entre 1904 e 1906 na região da Serra do Rio do Rastro, é de grande importância para a geologia mundial, tendo lançado um embasamento científico que até hoje permanece atualizado: algumas rochas encontradas na região tem composição idêntica às encontradas na África, provando o encontro dos continentes e embasando cientificamente a teoria da deriva continental, proposta por Alfred Wegener, que assinala ser a crosta terreste  formada por uma série de “placas” que “flutuam” numa camada de material rochoso fundido. Saiba tudo sobre o assunto aqui e aqui – links interessantes mesmo para quem não manja de geologia. O roteiro geológico está demarcado junto a rodovia por um conjunto de 17 marcos de concreto com descritivos das características da geologia local.

E por falar em estradas sinuosas e geologia, outra estrela é a vizinha-irmã Serra do Corvo Branco, cada qual com sua singularidade. O nome “corvo branco” vem do urubu-rei, como é conhecido o animal pelos habitantes da região,  que costumavam avistar seus ninhos junto às escarpas locais, especialmente a que acompanha a estrada. A estrada liga o planalto a região do litoral catarinense, através do município de Grão Pará, onde termina a grande escarpa onde está encravada. Mais curta que a Rio do Rastro, porém pavimentada apenas no trecho mais ingreme, é mais difícil de ser percorrida, mas também muito bonita, fazendo valer a pena o esforço (boas condições em época de seca, porém exige atenção nas curvas e demanda alguma habilidade nas inclinações, porém totalmente vencível com paciência por qualquer um).  A construção da estrada exigiu um corte vertical de 90 m direto na  rocha basáltica (muito sólida) que é o maior corte rodoviário da  engenharia brasileira, necessário por conta da grande inclinação do local.
Ao todo, percorri 56 Km  contados no painel do carro de Grão Pará a Urubici, margeando o Rio Canoas, diversas plantações de verduras e alguns trechos de mata fechada, que volta e meia se abrem descortinando o Morro do Corvo Branco, que dá nome à estrada (1668m de altitude).  Para subir o carro foi bem, mas duvido que em vários trechos seja possível descer em qualquer marcha que não a primeira, mesmo com carros pequenos e sem carga. Presenciei alguns veículos sofrendo em sentido contrário, porém nada que assustasse muito. A Serra do Faxinal (ver aqui e aqui) localizada um pouco mais ao Sul, exige bem mais do motorista.
Normalmente, os guias aconselham o turista que está em Urubici a visitar o Morro da Igreja, que citei lá atrás, retornar e passar pela Serra do Corvo Branco e após Grão Pará, seguir as placas de Lauro Müller, chegando à Serra do Rio do Rastro, fazendo-a de baixo para cima. Fiz o oposto, não por espírito contestador e reacionário, mas por opção mesmo, já que quis por aproveitar o tempo bom do dia anterior para visitar a atração principal – o Morro da Igreja – e reservar a data desse tour rodoviário para o mesmo dia da Cachoeira do Avencal, mais próxima do topo da Rio do Rastro. Foi tranquilo, então deixo a decisão com você.
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Rumo ao Sul: Dia 12 ( Urubici – SC )

Deixamos o sul com alegria e ainda mais empolgados para ver as belezas da serra catarinense e compará-las com a gaúcha. Lages, no nosso caminho para Urubici, é uma cidade com altitude máxima de 1.200m, o que já indica a qualidade cênica e climática da região. Fundada em 1766 como pouso de tropeiros que vinham de São Paulo em direção ao sul, a antiga Lajes (cuja grafia era a correta) rivaliza com Urubici como atração da serra. Tempo curto, como a primeira tem seus mais de 160 mil habitantes e a segunda não passa de 11 mil, decidimos visitar a cidade menor, que é mais a nossa cara e combinava melhor com o espírito ecoturístico da trip. Outro caminho que liga a serra gaúcha a catarinense a chamada “Rota dos Campos de Cima da Serra”: toma-se a estrada Cambará do Sul – São José dos Ausentes, conhecida por suas péssimas condições de terra e cascalho, sendo a maioria dos trechos em condições muito ruins e intransitáveis em épocas de chuva. Em compensação a paisagem é linda, repleta de campos, animais selvagens, flores e mata intocada. No caminho, o Pico do Monte Negro, ponto mais alto do estado do Rio Grande do Sul, em local de difícil acesso, mas de beleza rara. Caso disponha de tempo, de um 4×4 ou fôlego para ir à pé, o caminho é obrigatório.

Urubici normalmente é fria para os padrões brasileiros, com temperatura média de 13 graus e mínima em torno dos 17 graus negativos. Pela proximidade de São Joaquim, esperávamos mais frio que no sul, mas o destino nos reservou agradáveis e inesperados 20 graus durante nossa estada por ali. Além da temperatura inusitada, surpreendeu-nos a resistência dos governantes da região em aceitar turistas autônomos, que não gostam de contratar guias turísticos tagarelas/despreparados e preferem explorar tudo sozinhos. À exceção da Cachoeira do Avencal, algumas grutas sem graça, cachoeiras distantes e pequenas como a Véu da Noiva e mirantes como o Morro do Campestre e a principal atração – o Morro da Igreja – mais nada pode ser feito sem guia, o que inclui o Canion do Espraiado, o Campo dos Padres, a Cachoeira Rio dos Bugres, a caverna de mesmo nome e o Parque Nacional. A todo tempo os funcionários municipais lembram que esses passeios tem de ser pagos e agendados, não informam como chegar nessas atrações e alertam para os perigos quase sobrenaturais de realizar passeios sozinho por esses locais. Não há placas, roteiros ou guias para essas atrações, apenas folhetos publicitários de agências e guias que fazem os trajetos. Opção simples e barata em vez de sinalizar o local e confeccionar mapas para as atrações, nem todas tão isoladas e perigosas assim. Descartamos.

A Cascata do Avencal é a atração mais próxima do centro. Chega-se facilmente (e de carro) à parte de cima da cachoeira, local com uma visão interessante da serra e da queda, que normalmente cobra entrada (vimos placas) mas tinha guarita e estrutura abandonados em maio de 2009. Há trilha para descer à base da cachoeira que não tem sinalização (nem guias para conduzir, nessa época). Vale a pena passar por lá e depois conferir as inscrições rupestres no entorno, também não sinalizadas, mais ou menos 5km à frente na mesma estrada.

A atração principal, imperdível, é o Morro da Igreja, ponto mais alto e frio da região. Para chegar, saindo da cidade enfrenta-se 10km de estrada de cascalho tranquila e mais 16km de bom asfalto até a entrada da base militar do CINDACTA que fica no topo. De lá, avista-se a Pedra Furada, curiosa formação geológica em torno de paredões cobertos de bonita vegetação e rochedos imponentes. Dali é possível andar bastante no entorno, tirar fotos dos paredões e conferir a beleza da serra. Uma hora de caminhada é o suficiente para explorar todo o morro fora dos muros do exército. Vá cedo para evitar hordas de turistas, inclusive excursões escolares que freqüentemente levam as crianças de escolas próximas para conhecer e aprender mais sobre a região. Para descer à Pedra Furada, só com guia e nem tente perguntar: não há como chegar sem conhecer a região. Não duvidamos disso e já cansados da trip, deixamos para outra ocasião.

Para comer, recomendo a Pizzaria Cor da Fruta (Rua Adolfo Konder, 651) que serve a la carte e rodízio. O rodízio custa R$13 e tem ótima  qualidade, muito superior a várias pizzarias a la carte por aí e melhor que todas as que atendem em rodízio que já frequentei. Duas peculiaridades: o proprietário é viciado em Pendragon (trilha sonora rara para uma pizzaria) e o rodízio na baixa temporada é feito a pedido: você escolhe a pizza que deseja e quando ela chegar, em formato brotinho, já escolhe o próximo sabor e assim sucessivamente, sem esfriar a pizza ou correr o risco de só aparecerem sabores desinteressantes. Outra atração é a truta na chapa do Zeca´s Bar (Rua Adolfo Konder, 522) com buffet variado, aberto até meia-noite.   Para ficar, escolhemos uma opção barata e simples: Pousada Café no Bule, bem localizada, com cama box, suítes, tv e café da manhã por R$85 na baixa temporada. O café da manhã é razoável e por incrível que pareça: não tem café no bule, só solúvel. rs

No dia seguinte, um dos mais belos trechos rodoviários do país: Serra do Rio do Rastro e Serra do Corvo Branco!

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Rumo ao Sul : Dia 11 ( Bento Gonçalves – Urubici )

Entre Bento Gonçalves-RS e São Paulo-SP são longos e cansativos 1026km. Vencido 1/3 do caminho está  Urubici-SC, a exatos 872km da capital paulista e a 167km de Florianópolis-SC. Para quebrar a viagem de volta, você pode escolher qualquer cidade do litoral catarinense – como a capital Floripa – ou alguma coisa na serra, como a sede do Parque Nacional de São Joaquim. Aí depende do fôlego, da grana, da vontade e do interesse. Como na ida ficamos em Bombinhas e o tempo estava horrível (maio/2008), descartamos Floripa por causa do trânsito e optamos por Urubici, que fica a meio caminho entre a serra e o litoral, porém ainda bem longe de São Paulo.

Não fomos pelo interior pela quantidade enorme de advertências dadas por conhecidos e obtidas na internet. Todas falavam no quão cansativa é a viagem entre as serras gaúchas e catarinenses em direção ao Paraná, por causa das inúmeras curvas, grande quantidade de caminhões, trechos longos em pista simples e a falta de sinalização da BR-116. E pude confirmar tudo isso em todo o trajeto de BG a Lages, bastante cansativo, apesar de muito bonito. Demorei uma manhã inteira para percorrer a BR até Lages, depois peguei a BR-282 em direção a Bom Retiro e por fim a saída à direita para a SC-430, que leva a Urubici nos últimos 19km. Achei que foi uma boa escolha: a região de Urubici é linda e os roteiros rodoviários da Serra do Corvo Branco e da Rio do Rastro são de uma beleza cênica incrível. Adiante, mais detalhes.

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