Mochilando na Patagônia – Ushuaia

 Atualizado em 28/03/2017

Conhecidíssimo como um dos melhores destinos de neve e esqui da América do Sul, Ushuaia é muito mais que isso. Ainda pacata nos dias de hoje, a cidade do fim do mundo oferece aos seus 50 mil habitantes e turistas do mundo inteiro uma miríade de passeios, bons restaurantes, locais para compras, cassinos e diversas atividades de aventura como expedições em 4×4, viagens de trenó, hiking e trekking.

Os viajantes comuns costumam contar suas peripécias focando no ponto de partida e no ponto de chegada, ignorando  os contratempos. Paul Theroux, romancista norte-americano de aventura do qual sou fã, escreveu um clássico sobre uma viagem que realizou nos anos 70 até a Patagónia, no extremo sul do continente americano, cujo texto é famoso por destacar não o destino em si, mas percurso e percalços no avançar.

Em “O Velho Expresso da Patagônia” , Theroux assevera que a Argentina é um país dividido entre as altas terras do norte, cheias de folclore, montanhas e colonos; e os pampas úmidos do sul, com suas fazendas de gado e grandes vazios, a com a maior parte do território ainda virgem (“pampas” deriva de uma palavra aimará que significa “espaço”). É uma visão bem desenvolvimentista,  mas têm seu fundo de verdade: a fronteira Sul da América é selvagem, extrema, bela e solitária. Rumo ao fim do mundo, as planícies áridas dão lugar às florestas de lengas, quase sempre cobertas de neve e mistério. Em Ushuaia, os Andes morrem no mar, mergulhando aos olhos dos turistas em águas geladas e perigosas. É nesse passo que relato minha viagem à região. Espero que gostem!

Ilha 3

Separada do continente pelo estreito de Magalhães, a Terra do Fogo é um arquipélago com baixíssima densidade demográfica, comumente varrido por ventos fortes e pancadas de chuva.  Frio e umidade são constantes (a máxima no verão raramente ultrapassa os 10 graus) dado que as montanhas que circundam Ushuaia formam uma barreira natural contra os ventos antárcticos. Estive por lá em setembro de 2014, quando o inverno tinha ficado para trás e a temperatura mais alta que registrei foi de 8 graus. A maioria dos turistas aparecem no verão, quando os dias são mais longos e as temperaturas mais amenas, época perfeita para quem vai a Ushuaia para caminhar, passear e divertir-se. Mas se a sua praia é o esqui, julho no alto inverno é sua melhor escolha (e este post não é para você).

A primeira viagem documentada ao extremo sul do continente americano foi realizada por Fernão de Magalhães em 1520, que apelidou a região de Terra do Fogo devido às fogueiras acesas pelos índios nas margens do outro lado do estreito. Altos, corpulentos (daí o termo Patagão, “pata grande”, por conta de seus pés avantajados) e com o hábito de andarem semi-nús, cobertos de gordura de foca, os primeiros habitantes  da região foram dizimados por doenças de brancos como sarampo e varíola, potencializadas pelo clima inóspito. Saiba mais sobre eles aqui e numa agradável visita ao museu dentro do Parque Nacional.

Ushuaia

O isolamento da região permanece, sendo impossível alcançar Ushuaia dirigindo pela Argentina (você precisa entrar e sair do Chile para chegar lá e viajar de ferry boat– veja dicas aqui ). De avião, LAN e Aerolineas Argentinas tem voos para Ushuaia, via Buenos Aires, saindo das maiores cidades brasileiras. A Aerolineas comumente é a opção mais barata, principalmente se você deixar para comprar o trecho interno quando chegar a Buenos Aires. E de ônibus, bem, custa o mesmo que via avião e são pouco mais de 3.000km…

Ushuaia - Orla 2

Bem servida em matéria de transportes, Ushuaia (“baía que penetra ao poente” em yámana) tem táxis, remises (táxis particulares são legalizados na Argentina) e ônibus coletivos para qualquer parte. A cidade também é plena de albergues (fiquei no barato e bem localizado Antarctica), pousadas e hotéis para todos os gostos e bolsos. Lojas, farmácias, postos de gasolina, bancos e mercados também estão presentes, nos horários mais diversos. A estrutura é muito boa e em quase todo ambiente a calefação está ligada, tornando a vida interna bastante agradável.

Reuni mais dicas gerais para uma boa mochilada por lá nesse post. E a seguir, meu relato dia a dia de uma viagem muito rica, variada e aventureira.

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Reveillon Mineiro, Dia 06: Santuário e Parque Natural do Caraça

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A Serra do Caraça é uma das mais bonitas e imponentes de Minas Gerais e só o seu visual já é motivo suficiente para visitar o Santuário.

Que acha então de poder caminhar em trilhas, visitar cachoeiras, conhecer cavernas, ver ao vivo um animal fascinante como o lobo guará, conhecer um prédio histórico que já foi cenário de livro, dormir em quartos simples e isolados do mundo, sem acesso a celulares, internet ou televisão e de quebra comer uma boa comida caseira? Foi exatamente isso que fomos conferir, apesar de termos apenas um único dia disponível.

O bate-e-volta de Ouro Preto não só é possível, como altamente recomendável. São apenas 76km de distância, percorridos em cerca de duas horas e de cara só a vista que se tem da estrada já compensa a jornada. Primeiro, pelo visual estonteante dos contrafortes ao longe, à esquerda da rodovia. Segundo, pela desolação da paisagem logo que se deixa Mariana para trás: o cenário devastado das minas – Alegria, Timbopeba, A quente e Fazendão – da Vale é impressionante! Nesse trecho, especialmente, vale muita atenção com os caminhões pesados.

A Reserva Particular do Patrimônio Natural – Santuário do Caraça fica entre as cidades de sIMG_4904Catas Altas e Santa Bárbara, ao sul do paredão da Serra do Espinhaço, no chamado Quadrilátero Ferrífero e faz parte do circuito da Estrada RealO único acesso à RPPN é feito por Santa Bárbara, percorrendo-se os 09 Km da Rodovia do Caraça. No caminho há placas para os distritos de Brumal, Sumidouro e Santana do Morro, que numa viagem mais longa também merecem uma exploradinha. Já dentro do Santuário, da Portaria até a sede são mais 11 km de estrada asfaltada. Não tivemos qualquer problema no caminho e de quebra ainda pegamos uma manhã espetacular, de céu azul e sol intenso. 

Como o Santuário abre às 08:00, para aproveitar bem o dia o ideal é sair de Ouro Preto por volta de 6h, mas devido ao cansaço da viagem acabamos nos atrasando um pouco e chegamos ao Santuário apenas às das 10h45. De cara, nossa impressão foi a melhor possível: sIMG_4897fundado em 1774 como pouso de peregrinos cristãos, o local que já foi colégio de seminaristas e escola de ensino médio, tem uma atmosfera mágica, daquelas de ter parado no tempo. Pleno de cultura, há referências sobre sua curiosa história em todos os corredores do local onde hoje funciona a pousada, no museu, na bela Igreja, nas catacumbas onde estão enterradas figuras ilustres de sua história (foto ao lado) e até mesmo entre as árvores do morro em frente à sede, onde há uma representação da via crucis. Sua importância é indiscutível: Caraça recebeu a visita dos dois Imperadores, formou estadistas de renome e foi palco do famoso incêncio narrado no livro O Ateneu, de Raul Pompéia.

As trilhas também são um espetáculo à parte dada sua riqueza e variabilidade. Um misto de cerrado e mata atlântica embeleza o caminho de cachoeiras, cavernas e montanhas num sem número de caminhadas, da quais você pode ter uma boa amostra nos blogs aqui, aqui e aqui.  No bate-e-volta que fizemos pudemos conhecer a estrutura da sede, comer um almoço caseiro e bem saboroso e fazer a Trilha da Cascatinha, que apesar de ter apenas 2km, nos deu uma bela noção do que encontrar no Santuário na próxima visita. Só ali são quatro cachoeiras e quatro piscinas naturais. Um paraíso nos dias quentes. 

Aparentemente o local tem uma ótima estrutura, apesar dos horários reduzidos para as refeições. Os preços são bastante razoáveis e há lazer para todos os gostos, exceto aos que não pretendem se desgrudar da tecnologia (celular, internet e televisão não fazem parte do roteiro, felizmente!). No site oficial tem todas as informações de que você precisa, mas o planejamento deve ser feito com alguma antecedência se a data escolhida for um feriadão, pois o local é muito procurado e não comporta bastante gente, o que provavelmente contribuiu para o excelente estado de conservação do local e permite curiosidades como a “visita” do lobo guará.

Vale ressaltar também que visitamos o santuário no dia 31/12/2012, reveillon, mas apesar de o lugar estar na capacidade máxima tudo estava MUITO tranquilo. Pegamos alguma fila para entrar no refeitório, mas não tivemos problema para conseguir uma mesa ou nos servir. E mesmo na atração mais concorrida e de fácil acesso – a Cascatinha – não havia crowd. Repito: paraíso.

E foi isso. Exautos, fizemos a viagem de volta muito rapidamente (cerca de 1,5h) tomamos um bom banho e fomos curtir a noite de reveillon de Ouro Preto que… simplesmente não existia. Só ficamos sabendo ali, mas por problemas de orçamento a prefeitura não preparou qualquer festa, deixando a cidade sem shows ou queima de fogos oficial. Mesmo assim, a cidade se reuniu na Praça da Liberdade para conferir os fogos e estourar o champagne. Foi uma festa bem bastante tímida, mas como esse não era nem de longe nosso objetivo na viagem, nem ligamos. Antes da uma da manhã há estávamos na cama descansando para pegar a estrada para Belo Horizonte no dia seguinte.

Ainda sobre Ouro Preto, uma última dica que pode ser útil caso você passe por ali nessa época: nessa noite de reveillon comemos no Restaurante & Choperia da Direita, que fica próximo à Praça Tiradentes (Rua Direita, 75 – (31) 3551-6844 ramal 223) um dos poucos restaurantes abertos que não operavam com pacotes de ceia e pré-reserva. Os preços foram até razoáveis pelos pratos requintados do cardápio, mas na pressa os garçons não foram muito atenciosos e o resultado não foi tão legal (carnes fora do ponto, molhos não tão bem temperados). No entanto, o ambiente bacana, a ótima localização, a boa música ambiente (jazz) e o chopp bem tirado compensaram a visita.

Toca pra Belo Horizonte!

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Feriado em São Miguel Arcanjo : Show de Mata Atlântica no Parque Estadual Carlos Botelho

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Atualizado em 23/11/2019

Seguindo na busca por lugares eco-interessantes no sudeste brasileiro ainda não descobertos pelas grandes multidões, compartilho com vocês mais um achado, dessa vez em terras paulistas:  São Miguel Arcanjo!

E bota “eco” nisso! Dos cerca de 1.200 muriquis existentes no Brasil hoje, mais de  800 estão no Parque Estadual Carlos Botelho, um dos mais ricos em vida selvagem do Estado de São Paulo, bem ali no coração de São Miguel. Juntam-se a eles mais de 200 espécies de aves em 37 mil hectares de matas primárias e secundárias em franca regeneração. Paraíso.

Criado em 1981 a partir da unificação de quatro unidades de conservação (Carlos Botelho, Capão Bonito, Travessão e Sete Barras) o parque é a atração mais bacana de São Miguel e hoje é reconhecido oficialmente pela UNESCO como Sítio do Patrimônio Mundial Natural.

E Como todo bom parque estadual, o Carlos Botelho tem uma área bastante extensa, destinada à proteção de seu ecossistema, cuja finalidade é resguardar seus atributos naturais, conciliando a proteção integral da flora, da fauna e das belezas naturais com a utilização para objetivos científicos, educacionais e recreativos. E não é só: o Parque da Onça Parda e a Parque do Zizo são duas RPPNs vizinhas que valem a visita.

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Gonçalves – MG do tamanho do seu bolso # DICAS IMBATÍVEIS para economizar

Atualizado!Atualizado em 09/11/2021

 

Povo Varonil, matas floridas
Fontes e cascatas de belezas mil
O teu céu tem mais estrelas
És mineira És Brasil

Esses aí são os versos do hino de um dos lugares mais bonitos, românticos e agradáveis das Minas Gerais. Diferentemente das cidadezinhas mais conhecidas do sul de Minas, não há grandes lendas locais, tampouco centros históricos para visitar. Em Gonçalves, o lance é mais direto.

Sua história começa em 1878, na vizinha Itapira, onde um político de nome Policarpo Júnior cumpriu uma promessa feita a Nossa Senhora das Dores doando seis alqueires de terra de uma fazenda na divisa entre Minas e São Paulo, para construção de uma capela de sapé e taipa. Residiam no local três colonos matreiros de nome Mariana Gonçalves, Maria Gonçalves e Antônio… Gonçalves.  Os três deram início ao povoado que cresceu lentamente até a Revolução de 1932, quando serviu de entreposto para movimentação de tropas rebeldes e daí pra frente só cresceu. Há, inclusive, um modesto museu aberto ao público em geral, dentro da Pousada do Quilombo, no local onde uma enorme trincheira foi construída para defender os soldados paulistas. Vale dar uma passada por lá quando estiver a caminho de Gonça (hoje, aquele trecho faz parte da vizinha São Bento do Sapucaí) para conhecer instrumentos, equipamentos e recortes de jornal da época.

Hoje, Gonçalves vive do turismo ecológico e da terra. Tem IDH um pouco abaixo da média nacional, mas seu crescimento é 50% maior que a média mineira e brasileira. Pousadas, restaurantes, pequenos hotéis, ateliés e produtores orgânicos de especiarias, geléias, doces e agropecuária vem surgindo com força na região. Se você for pra lá, esqueça turismo de artesanato, religioso ou histórico: Gonçalves é pura mata e comida mineira.

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Serra da Canastra (MG) : uma breve introdução

Atualizado em 2018

Este post, dos primórdios do blog, introduz características da região e trás dicas para uma breve visita. Confira informações completas, preços, passeios e dicas para compra de queijos-canastra no nosso roteiro econômico de 7 dias pela região clicando aqui.

A região da Serra da Canastra, na região sudoeste de Minas Gerais, possui algumas das bonitas paisagens mineiras. Apesar de desconhecida da maioria dos brasileiros, o turismo cresce a olhos vistos na região, que teve recentemente as estradas do entorno asfaltadas e urbanizadas. A região da SdC tem cerca de  200 mil hectares e abrange seis municípios: Vargem Bonita, São João Batista do Glória, Capitólio, São Roque de Minas, Sacramento e Delfinópolis,  estes últimos três margeando o Parque Nacional da Serra da Canastra.

Criado em 1972 para proteger os recursos hídricos da região, o Parna da Serra da Canastra protege as nascentes do Rio São Francisco, Rio Araguari e Rio Grande, proporcionando também o desenvolvimento da região, rica em atrativos ecológicos e turísticos, gerando renda para os moradores locais e favorecendo o desenvolvimento do mercado de hospedagem turística e a formação de guias da região. Dentro do Parque Nacional, a maior atração é a bela cachoeira Casca D’Anta, de quase 200m de altura, formando a primeira grande queda do “velho Chico”.  A paisagem basicamente preenche-se de  campos rupestres floridos, típico e matas de galerias, povoados por animais raros como o  tamanduá-bandeira,  o lobo-guará e o pato mergulhão e grande quantidade de capivaras, cuja carne é muito apreciada na região e veados-campeiros, frequentemente avistados nas montanhas. Se você optar por visitá-lo atente para o horário pitoresco: o parque abre às segundas, mas fecha às terças-feiras (exceto em feriados prolongados, janeiro e julho). O horário de entrada é até as 16h00 e a saída é permitida até as 18h00h. Depois, uma bela duma advertência espera o visitante, passível de multa. Note que existe uma estrada de cerca de 60 km que corta e dá acesso a outras menores, que levam ao Retiro de Pedras, a cachoeira dos Rolinhos, o cânion do rio São Francisco e a parte alta da Cachoeira Casca D’Anta, que normalmente fica intransitável na época de chuvas. Fomos lá em 2017!

A temperatura da região é amena, com média de  17 graus no inverno e 23 graus no verão, portanto leve roupas de frio e de calor. Chove bastante de dezembro a fevereiro, época em que visitei o parque e pude verificar a péssima condição de boa parte das estradas que o cortam. Se for de carro de passeio 4×2, prepare-se para bastante aventura (ver nota abaixo). Saiba também que a região é palco de diversos conflitos pela posse de terras e passa por um período conturbado em sua história. A implantação do Parque foi muito contestada na região, eis que a área protegida a ser desapropriada possuía dezenas de fazendas, várias delas em região de nascentes. Os fazendeiros resistiram por muitos anos, mas acabaram retirados à forceps pela Polícia Federal e até hoje a questão está sub judice. Entre as décadas de 70 e 90 foram diversos decretos ampliando e restringindo a área de abrangência do parque, motivados pelo lobby dos fazendeiros de um lado e o barulho dos ambientalistas de outro, mas hoje aparentemente o parque está estabilizado nos 200 mil hectares originais. Esperamos que continue assim e que a proteção efetiva saia do papel.

Note que a legislação é bastante severa em relação às permissões do parque, proibindo a prática de esportes radicais como rapel, pêndulo e escalada e restringindo a trilha da Casca D’Anta (parte alta para parte baixa e vice-e-versa) para grupos com guias credenciados. A entrada da trilha é monitorada, tanto embaixo quanto em cima, sendo que os turistas sem guia são avisados já na portaria que podem ver o entorno da cachoeira a vontade, mas não podem subir sob pena de multa. Se for, contrate um guia credenciado e reserve cinco horas para a  caminhada.
Feitas as apresentações, passo às informações atualizadas e impressões pessoais sobre a região:
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