Lago Titicaca

Segue belíssimo texto da antiga coluna  “Outro Olhar” sobre aquela imensidão azul que me dava tanta saudade da minha terra quando estava lá… e que hoje me dá tanta saudade de lá quanto estou aqui. Curiosamente, me deparei com esses escritos exatos quatro anos após a viagem. Espero que apreciem tanto quanto eu!
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Titicaca, uma viagem
 
O shamã (“paq’o”) levantava até os olhos as pequenas folhas de coca, murmurando e invocando em quéchua os pedidos de proteção, e colocava as três folhas oferecidas no pequeno monte aos seus pés, em meio a sebo e lã de ovelha, milho, flores. A cerimônia já durava duas horas, sempre regada a goles de álcool puro e chicha, na invocação dos “apus” (espíritos das montanhas), de Pachamama (a deusa, a mãe terra), entremeando cada chamado com o sinal da cruz. Um sincretismo ligado à pura sobrevivência, na tentativa de manter o credo antigo e não ofender o Deus dos invasores espanhóis.
Então, abrindo um pequeno espaço no círculo de oferendas e apanhando um punhado de folhas de coca do monte ofertado, o shamã passou a deixar que as folhas caíssem de sua mão, como uma chuva verde que ia se depositando, formando posições, desenhos observados com atenção e murmúrios. E os presságios vieram. Respostas cifradas às perguntas que atormentam. Presente, futuro, felicidade, vida. Ao lado, um dos últimos dos grandes tecelões do Titicaca interpretava as palavras desconexas, que borbulhavam da boca aberta, rasgada, do rosto febril do curandeiro em transe.
Lá fora, a noite de lua lançava sua luz sobre o lago de pequenas ondas, que transmitiam um movimento de calma, equilíbrio, e se perdiam ao sul, onde os nevados da distante Bolívia mostravam seus cumes brancos. Na pequena casa de adobe construída em mutirão pelos amigos do tecelão, portas e janelas fechadas, apenas as pequenas velas de sebo de ovelha resplandeciam e faziam as sombras se moverem a cada movimento do shamã. Silêncio. Às escondidas. Como no passado. Fugindo da nova fé imposta, renovando as noites imemoriais de um povo, mantendo viva sua ligação com os deuses e povos antigos, já retornados à mãe terra.
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Nove de Julho

09-07

Nove de julho, ok. Taí um feriado cheio de significado para quem gosta de história, mas que não passa de uma boa desculpa para fugir para a praia por parte da maioria dos paulistanos.

Vou aproveitar a data e escrever alguma coisa sobre um dos monumentos mais interessantes e emblemáticos que temos em São Paulo, que depois  da construção da polêmica Ponte Estaiada foi meio que deixado de lado: o Obelisco do Ibirapuera.

São Paulo relembra hoje setenta e oito anos da chamada Revolução Constitucionalista, violento movimento que marcou a luta paulista na Revolução de 30, cuja derrota militar é celebrada como um triunfo cívico na materialização que significa aquela bonita construção.

Enquanto os desfiles cívico-militares acontecem, praticamente ninguém se lembra que os restos mortais de muitos soldados estão guardados sob o monumento. Também pudera: o estado do local é lastimável e virou até outdoor alguns anos atrás. Hoje está fechado para visitação por motivos jurídicos e carece de investimentos e melhorias.

Àqueles que se interessam por detalhes do movimento, do monumento e da batalha por sua conservação, indico artigo muito bacana do periódico Migalhas. O texto conta um pouco da revolução, dos soldados e do passado e futuro do monumento, que eu considero como o mais bonito de Sampa (depois do  Estádio do Morumbi, claro, hehehe).

Quem quiser se aprofundar um pouco mais pode visitar o blog da família Júlio Prestes, cuja figura está intimamente ligada à Revolução e seus motivos e que contém vasto material a respeito. Outro site imperdível é o Tudo por São Paulo.

Mais sobre Sampa City e sua história? Em São Paulo Passado você encontra material suficiente para perder horas pensando no que foi e no que poderia ter sido. Já Memórias do Front fala com autoridade do movimento de 1930 e São Paulo Abandonada trata da condição atual de imóveis históricos paulistanos.

São belos guias para o turista que vem a São Paulo conhecer tudo com propriedade e também para o paulistano descobrir algo mais sobre a terra onde vive.

Grande abraço e curtam o feriado!

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Gastronomia e viagens

Na falta de tempo para escrever algo por aqui, compartilho com vocês um texto muito interessante sobre gastronomia e viagens.

Sempre soube de estudos sobre características comuns surgidas em povos distantes geograficamente, como aquelas teorias do paleocontato de Däniken, que verificou detalhes culturais similares na arte de alguns povos isolados, mas nunca tinha imaginado tudo isso relacionado a comida e sobrevivência. Visitem o texto original no site Viagem a Gastronomia. Ótima pedida.

Você não come o que gosta; gosta do que come
Celso Japiassu

É possível conhecer um povo pela sua história, acompanhando sua evolução e suas conquistas civilizatórias. Ou então ler a obras dos seus escritores, seus poetas, músicos, seus diferentes artistas, tomar conhecimento do trabalho dos seus cientistas, da obra dos seus politicos, compreender suas crenças e mitologia. É interessante também analisar a cultura popular de um país dando uma olhada na programação da sua tv. Ela mostra como esse povo se diverte, se informa e como se relaciona entre si, quais os seus preconceitos e visão do mundo. É uma alternativa à história, à sociologia e à antropologia, que são as formas científicas de se conhecer um povo e a sua civilização. Mas penso que uma maneira mais prática de se conhecer um povo é saber como este povo come. Um turista, apressado e superficial como são todos os turistas, pode ter uma boa noção sobre como são os habitantes do lugar onde se encontra pela primeira vez na vida, visitando os museus e os monumentos da cidade; mas uma feira livre lhe dirá com mais precisão o que essas pessoas plantam, criam, produzem e comem. E até mesmo como pensam. Sua vida diária está exposta nas barracas de feira junto com a matéria prima que vai abastecer sua cozinha e guarnecer sua mesa. É como se você chegasse na casa de alguém e de imediato fosse direto visitar a cozinha. É uma forma de conhecer a intimidade daquela casa, com a diferença de que, visitando uma feira ou um mercado popular, não há qualquer invasão de privacidade. Continue lendo “Gastronomia e viagens”

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Mochila nas costas: São Paulo a Foz do Iguaçú de ônibus

De carro, de ônibus ou  à pé, todas as viagens têm seu lado fascinante. De carro, o ponto forte é a liberdade de ir e vir a qualquer hora, ficar quanto tempo quiser e ir embora assim que enjoar, mas a preocupação é constante com a procura de locais seguros para deixar o veículo e todos os cuidados que implicam uma viagem longa (combustível, óleo, manutenção etc.). Viajando de ônibus essa preocupação acaba e o viajante fica só, com a mochila nas costas, decidindo se pega uma condução ou se vai à pé. Como em 2009 viajei muito por aí de carro, optei por fazer um pouco mais de exercício dessa vez e fazer uma megatrip de ônibus. Os detalhes vocês conhecerão a seguir.

Inicialmente, a idéia era aproveitar as férias para conhecer direito o litoral catarinense, mas a exemplo da viagem ao sul do ano passado, o tempo não ajudou e tive que adiar esse destino mais uma vez. No início de março desse ano, as única regiões brasileiras com sol eram o oeste do Paraná e o nordeste. Como deixei para decidir na última hora e não haviam passagens para o nordeste, optei pela alternativa mais próxima: Foz do Iguaçú! Acabo de votar e afirmo categoricamente: experiência inesquecível. Confirmei muitas informações colhidas na internet pelos colegas forumeiros e agora aproveito para deixar minha contribuição com todas informações atualizadas. Espero que aproveitem bem.

Foz do Iguaçu, com toda a sua diversidade de atrativos, representa um dos mais belos destinos turísticos do mundo e hoje é a segunda cidade  mais visitada do Brasil, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Possui riquezas naturais incomparáveis, como o Parque Nacional do Iguaçu, tombado como Patrimônio Natural da Humanidade e onde estão localizadas as maravilhosas Cataratas do Iguaçu. Seus parques são administrados com esmero e servem de modelo em todo o país, a usina hidrelétrica de Itaipú, maior hidroelétrica do mundo em produção, é modelo de gestão compartilhada entre países no mundo inteiro e consegue a façanha de ser tão interessante quanto os atrativos naturais da região. A região ainda tem inúmeras opções de diversão, como trilhas interpretativas, rafting, rapel, escalada em rocha, arvorismo, passeios de barco em meio às quedas, sobrevôo das Cataratas de helicóptero, o lindo Parque das Aves, o Marco das Três Fronteiras, o encontro dos rios Iguaçu e Paraná e por aí vai. Nem acredito que demorei tanto tempo para conhecê-la!

Primeiro, um resumo rápido da viagem. Depois, todas as informações “técnicas” e dicas.

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Conheça a (desconhecida) Bueno Brandão-MG

Júlio Bueno Brandão foi um político mineiro, nascido em Ouro Fino em 11 de julho de 1858. Não cursou nenhuma faculdade de Direito, mas mesmo assim foi juiz de Direito de Camanducaia, juiz municipal e delegado de Ouro Fino. Segundo o historiador Antônio de Paiva Moura, trata-se do “mais bem sucedido autodidata da magistratura mineira” e ficou conhecido por governar por duas vezes o estado de Minas Gerais durante a República Velha. Em 1838 virou nome de cidade, batizando um simpático vilarejo localizado na Serra da Mantiqueira, que conta com altitudes de até 1600m. A temperatura média anual é de 16,5°C, com máxima no verão de 32°C e mínimas de até -4°C nos invernos mais rigorosos. Leve, portanto, roupas para ambas as estações, pois a regra geral é friozinho à noite e solzão durante o dia.
Bueno Brandão fica no Sul de Minas, a míseros 175km da cidade de São Paulo. É inacreditável que ainda não tenha evoluído o suficiente para atrair mais visitantes decididos a enfrentar suas estradas de terra e falta de sinalização, pois seus atrativos naturais contam com várias trilhas e mais de 30 cachoeiras de água gelada e límpida! Melhor assim, já que é um dos poucos destinos próximos de São Paulo que podem ser frequentados tranquilamente aos fins de semana e feriados, sem turbas de turistas ensandecidos e barulhentos.

Para quem vem de Sampa City, recomendo seguir pela Fernão Dias até Bragança Paulista e de lá pegar a estrada que segue para Socorro. Em Socorro é só seguir 6Km até o trevo de Bueno Brandão. De lá são mais 14km a BB, metade de terra em boas condições. Atenção:existe  apenas uma placa indicando o caminho no trevo, apontando para o Bairro de Lavras e Bueno Brandão. O trecho de terra é absolutamente tranquilo para qualquer 4×2.

Para lá, recomendo  ir de carro. As estradas são longas, as atrações são distantes, a sinalização é bastante precária e em vários trechos simplesmente inexiste. Os caras ainda estão engatinhando no ecoturismo e mesmo o Centro de Informações Turísticas não fornece informações confiáveis. Me deram um mapa lá em novembro de 2009 que não marcava distâncias, nem nomes de ruas ou bifurcações, ou seja, de nada servia. O melhor mesmo é escolher as atrações previamente e sair perguntando aos locais, sempre muito prestativos porém com uma noção de distância um tanto peculiar. Encha o tanque. rs

Por lá visitei boa parte das atrações principais. Algumas deram trabalho, outras não. Vamos lá:

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Serra da Canastra (MG) : uma breve introdução

Atualizado em 2018

Este post, dos primórdios do blog, introduz características da região e trás dicas para uma breve visita. Confira informações completas, preços, passeios e dicas para compra de queijos-canastra no nosso roteiro econômico de 7 dias pela região clicando aqui.

A região da Serra da Canastra, na região sudoeste de Minas Gerais, possui algumas das bonitas paisagens mineiras. Apesar de desconhecida da maioria dos brasileiros, o turismo cresce a olhos vistos na região, que teve recentemente as estradas do entorno asfaltadas e urbanizadas. A região da SdC tem cerca de  200 mil hectares e abrange seis municípios: Vargem Bonita, São João Batista do Glória, Capitólio, São Roque de Minas, Sacramento e Delfinópolis,  estes últimos três margeando o Parque Nacional da Serra da Canastra.

Criado em 1972 para proteger os recursos hídricos da região, o Parna da Serra da Canastra protege as nascentes do Rio São Francisco, Rio Araguari e Rio Grande, proporcionando também o desenvolvimento da região, rica em atrativos ecológicos e turísticos, gerando renda para os moradores locais e favorecendo o desenvolvimento do mercado de hospedagem turística e a formação de guias da região. Dentro do Parque Nacional, a maior atração é a bela cachoeira Casca D’Anta, de quase 200m de altura, formando a primeira grande queda do “velho Chico”.  A paisagem basicamente preenche-se de  campos rupestres floridos, típico e matas de galerias, povoados por animais raros como o  tamanduá-bandeira,  o lobo-guará e o pato mergulhão e grande quantidade de capivaras, cuja carne é muito apreciada na região e veados-campeiros, frequentemente avistados nas montanhas. Se você optar por visitá-lo atente para o horário pitoresco: o parque abre às segundas, mas fecha às terças-feiras (exceto em feriados prolongados, janeiro e julho). O horário de entrada é até as 16h00 e a saída é permitida até as 18h00h. Depois, uma bela duma advertência espera o visitante, passível de multa. Note que existe uma estrada de cerca de 60 km que corta e dá acesso a outras menores, que levam ao Retiro de Pedras, a cachoeira dos Rolinhos, o cânion do rio São Francisco e a parte alta da Cachoeira Casca D’Anta, que normalmente fica intransitável na época de chuvas. Fomos lá em 2017!

A temperatura da região é amena, com média de  17 graus no inverno e 23 graus no verão, portanto leve roupas de frio e de calor. Chove bastante de dezembro a fevereiro, época em que visitei o parque e pude verificar a péssima condição de boa parte das estradas que o cortam. Se for de carro de passeio 4×2, prepare-se para bastante aventura (ver nota abaixo). Saiba também que a região é palco de diversos conflitos pela posse de terras e passa por um período conturbado em sua história. A implantação do Parque foi muito contestada na região, eis que a área protegida a ser desapropriada possuía dezenas de fazendas, várias delas em região de nascentes. Os fazendeiros resistiram por muitos anos, mas acabaram retirados à forceps pela Polícia Federal e até hoje a questão está sub judice. Entre as décadas de 70 e 90 foram diversos decretos ampliando e restringindo a área de abrangência do parque, motivados pelo lobby dos fazendeiros de um lado e o barulho dos ambientalistas de outro, mas hoje aparentemente o parque está estabilizado nos 200 mil hectares originais. Esperamos que continue assim e que a proteção efetiva saia do papel.

Note que a legislação é bastante severa em relação às permissões do parque, proibindo a prática de esportes radicais como rapel, pêndulo e escalada e restringindo a trilha da Casca D’Anta (parte alta para parte baixa e vice-e-versa) para grupos com guias credenciados. A entrada da trilha é monitorada, tanto embaixo quanto em cima, sendo que os turistas sem guia são avisados já na portaria que podem ver o entorno da cachoeira a vontade, mas não podem subir sob pena de multa. Se for, contrate um guia credenciado e reserve cinco horas para a  caminhada.
Feitas as apresentações, passo às informações atualizadas e impressões pessoais sobre a região:
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